Movimento Negro divulga carta aberta sobre ‘falso término’ da escravidão
Manifesto do MNC traz pesado relato de uma mãe sobre racismo e desejo de que, nesta data, ‘a verdade liberte os pensamentos aprisionados’
Foto: DIVULGAÇÃO - Lideranças do Movimento Negro de Catanduva se reuniram recentemente na 2ª Noite Preta
Por Guilherme Gandini | 13 de maio, 2022
 

“É chegado mais um 13 de maio. No ano de 2022 esta data marca a passagem de 134 anos desde o falso término da escravidão dos povos negros e indígenas do território brasileiro. Apesar dos vários anos, meses e dias passados desde 1888, ano da abolição, ainda se faz necessário utilizar este dia para denunciar e sangrar, não mais a ferida do negro, mas a do branco e do capitalista. Estes a quem tantos anos de solidão, de massacre, de não reparação, de exploração, de discriminação, de preconceito e de violência tem beneficiado.  Estes a quem a falta de acesso à educação, à saúde e ao direito à vida tem favorecido.”  

É dessa forma que começa a carta aberta divulgada pelo Movimento Negro de Catanduva (MNC), em razão das celebrações deste dia 13 de Maio, alusivos à abolição da escravatura. O texto, bastante crítico, foi escrito a várias mãos, com intuito de provocar a reflexão e denunciar que “aqueles que têm padecido precocemente são nossas crianças negras e indígenas, aquelas que têm sido silenciadas são as mulheres negras e indígenas, e aquele que tem sido protegido é o branco capitalista.”  

Uma das fundadoras e líderes do movimento, a vereadora Taise Braz ressaltou ao Jornal O Regional que é preciso conhecer e aceitar o real processo histórico “que nos trouxe até esta realidade cruel”. “Ainda vivemos com o imaginário de uma figura branca, benevolente e salvadora que desperta sentimentos de admiração por tal feito. Quando na verdade Princesa Isabel inicia uma nova era, a do apagamento, desumanização, exclusão e exploração da população preta no Brasil”, enfatizou. 

Em conjunto com Thainá Costa, outra líder do movimento, ela ajudou a compor a carta do MNC, que transparece um grito contra a opressão social e o extermínio do povo preto. Um protesto pesado contra o racismo. 

“O Brasil tentou e falhou ao acreditar que a evolução do nosso país se daria pelo branqueamento da raça e aniquilação do povo negro. O Brasil insiste em falhar a cada dia que persiste na violência estatal como solução da pobreza e desigualdade. O Brasil e o branco têm nutrido uma falsa esperança, pois ao desumanizar o negro e o indígena, se corrompem em primeiro lugar, se desumanizando, se violentando e se desconfigurando, porque somente o desumanizado e desconfigurado é capaz de praticar o racismo. Somente o desumanizado e desconfigurado é capaz permanecer na ausência de políticas públicas e fortalecimento de uma real reparação histórica.” 

O MNC traz, na conclusão da carta, o desejo para a data. “O nosso desejo, neste dia 13 de maio, é que a verdade liberte os pensamentos aprisionados daqueles que insistem na falsa ideia e na violência em primeiro lugar, praticada contra si mesmo, pois somente alguém animalizado e brutalmente violentado é capaz de animalizar e violentar brutalmente o outro.” 

A carta aberta do Movimento Negro de Catanduva está disponível, na íntegra, no blog https://oregional.com.br/blog/detalhes/carta-aberta-do-movimento-negro-de-catanduva-a-populacao-de-catanduva-e-regiao

 

RELATO DE UMA MÃE 

Trecho da carta aberta divulgada pelo MNC carrega pesado relato de uma mãe negra sobre o racismo enfrentado pelo filho na escola. “No dia 13 de maio encontramos corações feridos lavando o rosto nas águas sagradas da pia e crendo que nada como um dia após um outro dia. Encontramos o relato de uma mãe negra vendo o filho sofrer racismo na escola que diz: “Pra quem não entende a minha luta contra o racismo está aí a resposta. Todas as vezes que o meu filho pegava na bola, ouvia esse som imitando macaco ou chamando ele de macaco. Infelizmente eu não estava nesse jogo dele e só vi esse vídeo agora, depois dele me contar triste o que aconteceu. Não queria que eu postasse o vídeo, mas eu pedi permissão a ele pra postar. Não porque quero lacre, e sim em forma de protesto, de expor essa realidade que não somente o meu filho passa, mas muitos passam. É triste e está me doendo. Passei por isso tantas vezes e me dói como mãe saber que isso ainda existe. Não é mimimi, não é vitimismo, essa monstruosidade machuca a quem é atingido. Basta! Não dá mais. É combater diariamente sem cansar. Não afetou o desempenho do meu filho no jogo, mas não deixa de ferir”. 

HOJE TEM REUNIÃO 

O Movimento Negro de Catanduva realiza hoje, 13 de maio, reunião aberta na Estação Cultura para pensar sobre a data da abolição da escravatura e outros aspectos da militância. A atividade começa às 19 horas. 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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