Carta aberta do Movimento Negro de Catanduva à população de Catanduva e região
É chegado mais um 13 de maio. No ano de 2022 esta data marca a passagem de 134 anos desde o falso término da escravidão dos povos negros e indígenas do território brasileiro. Apesar dos vários anos, meses e dias passados desde 1888, ano da abolição, ainda se faz necessário utilizar este dia para denunciar e sangrar, não mais a ferida do negro, mas a do branco e do capitalista. Estes a quem tantos anos de solidão, de massacre, de não reparação, de exploração, de discriminação, de preconceito e de violência tem beneficiado. Estes a quem a falta de acesso à educação, à saúde e ao direito à vida tem favorecido.
Pois bem, sem mais delongas, denunciamos que aqueles que têm padecido precocemente são nossas crianças negras e indígenas, aquelas que têm sido silenciadas são as mulheres negras e indígenas, e aquele que tem sido protegido é o branco capitalista. Não colocamos tais palavras para que a ofensa tome a consciência e o peito do não negro e não indígena. Colocamos as palavras para que a verdade seja dita e a verdade liberte aqueles que tem sido aprisionados desde o transatlântico negreiro com a falsa ideia de evolução de mundo e sociedade, através da negação da humanidade e da exploração do negro e do indígena.
O dia 13 de maio marca a falsa verdade de um povo crente em seguir a ideia corrompida de que a evolução se dará pela morte e extermínio de um único povo. O Brasil tentou e falhou ao acreditar que a evolução do nosso país se daria pelo branqueamento da raça e aniquilação do povo negro. O Brasil insiste em falhar a cada dia que persiste na violência estatal como solução da pobreza e desigualdade. O Brasil e o branco têm nutrido uma falsa esperança, pois ao desumanizar o negro e o indígena, se corrompem em primeiro lugar, se desumanizando, se violentando e se desconfigurando, porque somente o desumanizado e desconfigurado é capaz de praticar o racismo. Somente o desumanizado e desconfigurado é capaz permanecer na ausência de políticas públicas e fortalecimento de uma real reparação histórica.
No dia 13 de maio encontramos corações feridos lavando o rosto nas águas sagradas da pia e crendo que nada como um dia após um outro dia. Encontramos o relato de uma mãe negra vendo o filho sofrer racismo na escola que diz: ”Pra quem não entende a minha luta contra o racismo está aí a resposta. Todas as vezes que o meu filho pegava na bola, ouvia esse som imitando macaco ou chamando ele de macaco. Infelizmente eu não estava nesse jogo dele e só vi esse vídeo agora, depois dele me contar triste o que aconteceu. Não queria que eu postasse o vídeo, mas eu pedi permissão a ele pra postar. Não porque quero lacre, e sim em forma de protesto, de expor essa realidade que não somente o meu filho passa, mas muitos passam. É triste e está me doendo. Passei por isso tantas vezes e me dói como mãe saber que isso ainda existe. Não é mimimi, não é vitimismo, essa monstruosidade machuca a quem é atingido. Basta! Não dá mais. É combater diariamente sem cansar. Não afetou o desempenho do meu filho no jogo, mas não deixa de ferir”.
O nosso desejo, neste dia 13 de maio, é que a verdade liberte os pensamentos aprisionados daqueles que insistem na falsa ideia e na violência em primeiro lugar, praticada contra si mesmo, pois somente alguém animalizado e brutalmente violentado é capaz de animalizar e violentar brutalmente o outro.
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