Um ano depois: jovem que ficou paralisado agora cursa faculdade
‘Mesmo nos nossos momentos difíceis, a gente não deve ficar pensando no pior’, diz Patrick Santos, aluno da Fatec
Foto: Arquivo Pessoal
Por Guilherme Gandini | 19 de fevereiro, 2023

A superação de um jovem de 17 anos que, de repente, acordou com o corpo inteiro paralisado foi contada pelo jornal O Regional exatamente há um ano, no dia 20 de janeiro de 2022. A partir daquela reportagem, a história de Patrick Santos, 20, foi retratada por outras mídias regionais, como as afiliadas da Globo, SBT e Record TV, e deve ganhar exposição nacional em breve.

A vida de Patrick mudou no dia 31 de agosto de 2020, quando ele abriu os olhos, ao amanhecer, e descobriu que não conseguia se mexer. Na noite anterior, aniversário de sua mãe Eliandres Ramos de Oliveira, ele celebrou normalmente. A família estava em Breves, na Ilha do Marajó, no Estado do Pará, e se preparava para uma viagem de balsa de 18 horas até a capital Belém.

Sem conseguir fazer qualquer movimento, Patrick foi levado à UPA, onde aguardou leito para o hospital regional e, depois, precisou ser transferido por helicóptero dotado de UTI até Belém.

“Era um momento difícil, o país inteiro parado por causa da pandemia e o Patrick naquela situação, todo paralisado. E precisava da vacina imunoglobulina, que naquele momento seria algo impossível. Foi uma luta grande, conseguimos a aeronave, transportamos ele para Belém. Meu esposo ficou em Breves, pois tinha que colocar o ônibus na balsa”, lembra Eliandres.

O veículo de grande porte, um ônibus-palco, é moradia e meio de trabalho da família até hoje. Ele é conduzido pelo pastor Paulo Ramos de Oliveira, que faz missões religiosas pelo país. Natural de Catanduva, o religioso é ligado à Igreja Assembleia de Deus - Ministério de Catanduva, e cumpre a agenda evangelística Brasil afora através da Secretaria de Missões - Semam.

Patrick foi diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune grave e rara, em que o sistema imunológico passa a atacar as células nervosas, levando à inflamação nos nervos periféricos e da espinha dorsal. A internação no 6º andar do Hospital Ophir Loyola durou um mês. Foi aplicada imunoglobulina intravenosa cinco dias seguidos, 20 doses ao todo.

Após a alta, os neurologistas afirmaram que, dali para frente, o tratamento seria fisioterápico. O jovem ficou seis meses acamado, sem mexer nada, lutando pela reabilitação. Com quase 1,80m de altura, a dificuldade era igualmente grande. “Foi muita perseverança dele e fé, mesmo naquele momento tão difícil, não perdemos a fé que ele voltaria a andar”, diz Eliandres.

Um amigo de Castanhal, no Pará, abriu as portas de sua casa para a família. “A gente ficou todo esse tempo lá com eles, na fazenda, porque a gente mora dentro do ônibus e não tinha condição de cuidar do Patrick naquela situação.” O jovem continuou sendo acompanhado em Belém. Foram longos meses de luta, fisioterapia e muito esforço até a alta, em dezembro de 2021.

Eliandres diz que a experiência foi terrível, mas que, hoje, ver o filho recuperado, andando, é motivo de alegria. “Ele teve que aprender tudo de novo, escovar o dente, pentear o cabelo, se vestir, e hoje ver ele assim parece um sonho, parece que tudo isso não foi realidade, Graças a Deus estamos de pé, a gente olha pra trás e vê que nossa história valeu muito a pena.”

Atualmente, a família mora em Catanduva e continua com a obra religiosa. Patrick cursa Gestão da Tecnologia da Informação na Fatec e iniciou as aulas para obter a primeira habilitação.

‘A gente não deve pensar no pior’

Patrick diz que a experiência vivida por ele foi extremamente difícil. “Foi tudo tão rápido, você acordar e tudo mudar. A sua vida mudar completamente da noite para o dia”, comenta. Ele diz que o aprendizado que tirou disso foi que mesmo nos momentos ruins, não se deve olhar para o lado difícil. “Mesmo paralisado, nunca pensei no pior. Se fosse para ficar assim, beleza, vamos nos adaptar. Mesmo com os nossos momentos difíceis, a gente não deve pensar no pior.”

Ele também afirma que é muito grato ao professor Romualdo, da escola Nestor, que o incentivou a fazer a inscrição no vestibular da Fatec, quando ainda estava sem os movimentos. “Ele mandou mensagem falando para eu me inscrever, mesmo sabendo que eu estava com o corpo paralisado. Tanto insistiu que mandamos os dados e ele me inscreveu. Quando saiu a aprovação, fiquei feliz, mas preocupado: como vou fazer uma faculdade mexendo só o polegar?”, relembra.

Atualmente, Patrick está no 5º semestre do curso de Gestão da Tecnologia da Informação. No ano passado, foi aprovado para dar monitoria aos calouros do curso e, mais recentemente, foi convidado por um professor para trabalhar na área. “É bom nós nunca desistirmos dos nossos sonhos, sempre olharmos para frente e, se acontecer algo, vamos aprender com isso.”

Não desistir da vida foi o aprendizado

Pastor Paulo Ramos, nome bastante conhecido no mundo religioso local, comenta que Patrick nunca reclamou ou lamentou a situação, tenho seguido firme e forte todo o tempo. Ele garante que a forma com que o filho lidou com a situação foi a grande lição tirada de todo o episódio.

“Quando chegamos ao hospital pra saber o diagnóstico do Patrick, a doutora saiu no pátio, devido à pandemia, olhou para nós e disse: faça uma pergunta pra Deus e Deus vai responder qual a experiência que vocês vão tirar disso. Nós ficamos encucados com aquilo e não sabíamos que experiência seria essa. Pensamos em tantas coisas. Mas a maior experiência veio desse jovem, que enfrentou todo esse período de 1 ano e 5 meses, no qual ele lutou contra essa enfermidade. Foi a maneira com que ele lidou com a situação sem reclamar, sem murmurar.”

Ele relembra que viu o filho chorar em apenas uma situação: quando as aulas começaram e ele não conseguia segurar uma caneta, fazer movimento nenhum. “Nesse dia sua mãe perguntou: por que você está chorando? E ele disse, como é que eu vou escrever, mãe? Ela disse: quando chegar a hora de você escrever, você vai escrever. Compramos todo o material e guardamos, passaram-se os meses, de repente ele pediu o material e começou a escrever.”

Diante da experiência vivida por sua família, o pastor Paulo Ramos diz que o mais importante, hoje, é oferecer uma palavra de confiança para as pessoas, tendo essa história como exemplo. “Muitas pessoas estão aí depressivas, querendo desistir da vida por ter perdido um trabalho, por problemas no relacionamento, são tantas as coisas que levam as pessoas a entrar em parafuso e perder a esperança. Mas aí está um exemplo muito bom, grande, de que quando nós temos confiança em Deus, não desistimos da vida. Pais, não desistam dos seus filhos.”

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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