Em um país de dimensões continentais como o Brasil - ou mesmo em um estado como SP, que tem 44 milhões de habitantes e 645 municípios -, é praticamente impossível que candidatos a presidente ou governador consigam cumprir agenda em todas as cidades, ainda mais em uma eleição de tiro curto, como é a do segundo turno deste ano.
No fim das contas, a aposta dos candidatos acaba ficando em seus apoiadores locais, especialmente aqueles que obtiveram bons resultados nas urnas. A análise dos resultados desta eleição geral em Catanduva e também das duas anteriores demonstra que a transferência de votos é um dos grandes desafios para candidatos.
O cenário fica bem evidente quando são observados os resultados dos candidatos a presidente e governador pelo PT em Catanduva, em comparação à votação alcançada pela principal liderança do partido na cidade, a deputada estadual eleita Beth Sahão.
Em 2014, por exemplo, a catanduvense foi a mais votada na cidade, na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), com 17.925 votos. Naquele mesmo ano, no primeiro turno, a candidata Dilma Rousseff, do PT, terminou o primeiro turno em terceiro lugar em Catanduva, com 11.821 votos. Mesmo no segundo turno, sem a presença de Marina Silva, segunda colocada no município, a transferência de votos da parlamentar para sua apoiada, se ocorreu, não foi de maneira plena. A então presidente chegou a apenas 15.365 votos (23,69% do total), contra 49.492 votos (76,31%) de Aécio Neves, do PSDB.
Na eleição seguinte, mesmo com uma ligeira queda em sua votação, com 16.524 votos, Beth ficou bem acima do desempenho de seu colega de legenda Fernando Haddad no primeiro turno da eleição presidencial. Ele obteve 7.416 votos no primeiro turno, enquanto o então deputado federal Jair Bolsonaro alcançaria 42.034. No segundo turno, novamente a transferência não ocorreu como o esperado pelos petistas. O ex-prefeito de São Paulo terminou com apenas 21,2% em Catanduva, contra 78,8% de seu adversário.
A análise dos resultados indica que boa parte dos eleitores acaba votando em indivíduos e não necessariamente em partidos. Neste ano, por exemplo, pela primeira vez nas últimas décadas Beth alcançou menos votos em Catanduva do que o presidenciável de seu partido. Lula terminou o primeiro turno com 18.919 votos na cidade, enquanto Beth alcançou 18.599.
Na disputa pelo governo estadual, Haddad ficou atrás dos dois, com 15.121, o que indica que muitos eleitores de Beth e Lula, em Catanduva, podem ter optado por Rodrigo Garcia (PSDB) ou Tarcísio de Freitas (Republicanos).
CENÁRIO FECHADO PARA PRESIDENTE
Apesar do esforço demonstrado pelos apoiadores locais em favor de seus candidatos a presidente, a margem de ação que eles terão neste segundo turno será muito pequena em Catanduva. Dos 65 mil votos válidos registrados na cidade para esse cargo, 91% foram para Lula e Bolsonaro – este, o primeiro colocado no município, com 62% dos votos válidos.
Somados, os demais candidatos alcançaram em torno de 5 mil votos. Considerando-se que quem anulou ou votou em branco tende a rejeitar as opções disponíveis, uma aposta para os candidatos ampliarem sua votação estaria naqueles que se ausentaram no primeiro turno.
A história demonstra, porém, redução no número de eleitores no segundo turno. Em 2014, o primeiro turno teve 19,98% de ausentes em Catanduva, enquanto no segundo o percentual dos que não foram votar subiu para 20,20%. Em 2018, a tendência se repetiu. Foram 64.811 votos para presidente no primeiro turno, contra 63.108 no segundo.
Já para governador, a margem de manobra aumenta, graças aos 10.814 votos obtidos por Rodrigo Garcia e os demais candidatos derrotados. No segundo turno, o tucano, que foi disparadamente o mais votado nesse grupo, já declarou apoio a Tarcísio de Freitas.
Autor