Neste domingo, dia 20 de março, é celebrado o Dia Internacional do Contador de Histórias, data que teve início na Suécia, em 1991, e tem como objetivo reunir os contadores e promover a contação de histórias em todo o mundo. A data também marca o início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul.
A contadora de histórias Sheila Rocha, de 40 anos, herdou do avô Manoel, a vontade de compartilhar histórias. “Assim como os Griôs que trazem esta sabedoria ancestral, eu herdei essa vontade de compartilhar histórias do meu avô Manoel, pois sempre que vínhamos de férias para Novais, ele oralmente nos encantava com sua sabedoria.”
Sheila iniciou o trabalho com pessoas em situação de rua. “Minha primeira formação é em Educação Física (turma de 2004), na época trabalhei com recreação em hotéis, onde aprendi as diversas formas de trabalho. Conheci contadores que utilizam diversos materiais para entreter o público. Em 2010, comecei no terceiro setor a trabalhar com pessoas em vulnerabilidade social nas ruas de São Paulo, o que tornou a escuta o meu maior aprendizado. Na minha opinião, o contador de histórias deve primeiro ser um ótimo ouvinte.”
Ela conta que paralisou temporariamente a profissão, mas retornou com uma apresentação no Sesc Catanduva. “Quando vim residir para o interior em 2012, eu havia temporariamente adormecido esta profissão para dar espaço a outros aprendizados e situações. Em março de 2020, eu retornei com "O Mundo de Emília" no Sesc Catanduva, em diversas apresentações, porém a pandemia causada pela Covid-19 fez com que fosse interrompido este projeto.”
O período de pandemia foi um período de crescimento para Sheila. “Abriu espaço para gerar novos conhecimentos, participei de cursos online, que me deram novas perspectivas e atualizações e criei vínculo com diversas pessoas, de diferentes localidades onde a troca de aprendizagem ocorre atualmente. Além de utilizarmos a literatura, eu crio meus próprios contos para contar histórias, quando utilizo a literatura ela tem que de alguma forma se tornar uma livre adaptação para me pertencer, de um jeito que posso sentir o que o autor está me transmitindo, sua sensação, seu cheiro, seu olhar. A história tem que despertar em mim os sentidos, para que depois eu possa transmitir ao público, pois se não, ela se torna sem sentido.”
A contadora veio de uma família de leitores e transmite o legado à futura geração. “Venho de uma família de leitores, onde publiquei estes dias nas minhas redes sociais minha avó de 82 anos lendo um romance e contando e recontando o mesmo. Minha mãe é minha grande incentivadora e grande leitora, por isso sempre digo, leia para seus filhos e leia para as crianças, hoje tenho muito orgulho de passar essa paixão para minha filha, que atualmente participa da conexão internacional de crianças contadores de histórias, e que essa paixão cresça sempre.”
Sheila pontua que o maior desafio da profissão é o reconhecimento. “Hoje o conceito de contar histórias online veio para ficar, temos grandes conquistas tecnológicas e o presencial retorna com todo seu encantamento. Cada contador(a) que leva como profissão esta arte tem grandes desafios, o maior deles é ser valorizado, as empresas e as pessoas ainda não conhecem o impacto social de uma grande história e, com isso, não remuneram o contador como artista. Eu desejo que ocorra o despertar e com isso que possamos ter nosso espaço com uma ampla variedade de oportunidades.”
Ela finaliza celebrando a profissão. “Dia 20 de março eu só quero agradecer aos contadores que vieram antes, nossos ancestrais que trouxeram a oralidade, e que abriram espaço para o que estamos vivendo hoje e parabenizar a cada artista contadores de histórias e dizer: “Cada um tem sua maneira de contar histórias de forma única e especial, sendo assim todos têm seu brilho e seu espaço, que venham mais histórias para encantar o mundo.”
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