Agora é a hora e a vez do patins. É essa a sensação que se tem ao constatar o grande grupo de patinadores reunidos no Parque do Aeroporto, em Catanduva, aos domingos. Nas contas de alguns afixionados pelo esporte, só naquele local são mais de 80 frequentadores. O que parecia ser uma moda de época, dos anos 80 e 90, voltou a ganhar força na cidade.
Com tanta movimentação, eles passaram a buscar apoio do poder público para ter horários reservados nas quadras, já que dividir o espaço com outros esportes é inviável e até perigoso. “Queremos uma quadra para usarmos todas as semanas. No Aeroporto, sempre aparece mais gente pedindo informação e querendo participar”, reivindica a professora Cris Tavares, 51 anos.
Ela conta que patinou dos 17 aos 28 anos, quando seu filho nasceu, mas retomou a prática recentemente. Entre as lembranças do esporte, ela cita a Crazy Roller, que funcionou na avenida Eng. José Nelson Machado e reunia patinadores de todos os estilos. “Passávamos o final de semana dentro da pista, sou pisteira, não gosto de patinar na rua, prefiro pistas e quadras.”
Entre seus planos, Cris planeja organizar um encontro regional de patinação. Ela pretende convidar grupos de Novo Horizonte, Olímpia e São José do Rio Preto. “É pessoal das antigas, tudo gente mais velha. A gente queria juntar todo mundo, achar um local e patrocínio”, diz.
Na última semana, enquanto a reportagem do Jornal O Regional mantinha contato com os patinadores para produção desta reportagem, Cris conseguiu uma reunião com o presidente da Câmara, Gleison Begalli, que interveio para conseguir a liberação de quadras da cidade.
“Ele conseguiu que ficasse fixo no Ginásio do Gaviolli às sextas-feiras e vai tentar o projeto do Vale dos Patinadores no Parque dos Ipês, transformar uma quadra”, detalhou Cris, que agendou para este domingo, às 18 horas, um encontro no Parque do Aeroporto. “Vamos fazer um fotão.”
Quem também passou pela Crazy Roller foi o policial militar José Alexandre Herrera, 43, que também mantém contato com o vereador Gleison Begalli na busca por novos espaços. Ele conseguiu, com a Prefeitura de Pindorama, a liberação imediata da quadra coberta para a prática do esporte aos sábados, das 13h às 16h – inclusive atraindo novos participantes.
“O patins surgiu na minha vida aos 13 anos, com aqueles que vinham do Paraguai, baratinhos, comecei a pegar gosto pelo esporte e até hoje, com 43 anos, a gente brinca um pouco, ainda que com menos destreza”, diz Herrera, que já ensina a esposa e a filha de 3 anos a patinar.
“Nossa intenção é divulgar bem o esporte na cidade para quem apenas passeio, brincar e se divertir, mas também voltar a montar um time de hóquei, nós tivemos um bom time no passado, que a gente ia para cidades de fora competir e fazer novas amizades”, relembra.
ROLLERCLUB CATANDUVA
O grupo criado por Cris Tavares, o RollerClub Catanduva, tem entre os integrantes Gustavo Giangiulio, de Santos, que reside em Catanduva desde 2010. Ao Jornal O Regional, ele declarou entusiasmo com o projeto e sua diversidade. “Tem de tudo, pessoal que jogou hockey, que faz patinação artística, que é patinador profissional, que anda nas ruas, que anda nas quadras, todos se divertem mesmo que uns gostem mais de uma modalidade e outros de outra.”
Ele começou a andar de patins em 2021, após comprar o patins quad pra sua filha e um roller pra a esposa, que era a única da família que já tinha andado. “Aos poucos fomos aprendendo. Eu, particularmente, levei muitos e muitos tombos, mas como sempre andei com joelheira, cotoveleira, munhequeira e capacete, nunca me machuquei, e assim eu aprendi a andar”.
Sua filha, que começou a patinar aos 8 anos, hoje desce rampas, faz manobras e anda na rua. “A sensação de andar de patins é algo difícil de se descrever, onde só quem anda sabe. É uma sensação de liberdade sem tamanho”, reconhece o advogado, que usa o tempo livre e algumas noites da semana para a atividade. “Sempre, o único problema é o local para patinar. Isso porque Catanduva infelizmente não incentiva o esporte de modo geral”, lamenta.
A crítica à falta de espaços adequados para a patinação se repete entre os adeptos, inclusive por patinadores que utilizam as ruas e reclamam da situação do pavimento. É o caso de Mathews Meira, 32 anos, que faz parte da turma do patins street. “Eu ando desde 2002. Já participei de campeonatos brasileiros e já fiz competições. Duas no Sesc Catanduva e duas na Secretaria de Esportes, na antiga Celt. Também dei aula em grupos e particulares pelo Sesc”, relata.
REMÉDIO PARA ANSIEDADE
Foi no ano passado que a técnica de laboratório Thaine de Cássia Marazzi, 34, comprou um patins, mesmo sem conhecer ninguém que andava. “Sempre achei um máximo parar em pé em cima de quatro rodas, andei quando criança mas passou. Devido à pandemia me gerou ansiedade, estresse, terminei um relacionamento e pensei: o que poderia fazer para desestressar nas horas vagas? Dançar, natação, academia, todas as alternativas são ótimas porém não eram atrativas, queria algo que me trouxesse sensação de liberdade.”
Ela postou uma foto do patins com o kit de proteção que comprou na internet e escreveu “vida nova”. Uma amiga viu e falou sobre a Cris, que estava montando um grupo. Daí pra frente aos sábados e domingos são treinos e treinos. Cada dia que vou sinto uma sensação de superação, porque segundo os médicos não poderia patinar, pois tenho escoliose”, confidencia.
BRINCADEIRA NA RUA
Francieli Ferreira, 37, depiladora, tem na memória os passeios de patins pelo bairro Gabriel Hernandez, rodeada de amigos. “Na minha infância e pré-adolescência a gente costumava andar muito na rua, juntava aquela galera, andávamos o bairro todo. Tinha uma pracinha onde nos reuníamos. Era muito gostoso. Hoje nossos jovens não têm mais esse contato que tínhamos.”
Recentemente, depois que o grupo criado por Cris Tavares começou a ganhar corpo, decidiu voltar a patinar. “O patins tem um momento bem bacana aqui em Catanduva. Era um sonho que houvesse um envolvimento na cidade. Eu já havia comprado patins para minhas duas filhas, aí a Cris Tavares começou a montar um grupo, e nosso grupo começou a crescer. Nem acreditei, pois achei que eu não fosse parar em pé ao voltar a patinar. Minhas filhas patinam, meu esposo que nunca tinha colocado o patins no pé, já passou a andar e está a procura de um patins para ele.”
PATINAÇÃO ARTÍSTICA
O patins quad, que tem quatro rodas, é utilizado para as aulas oferecidas pela academia Jéssica de Lucca - Ginástica Rítmica. “É uma modalidade que está se iniciando agora em Catanduva, com dança, movimentos rítmicos, está mais forte com crianças”, comenta a profissional, que divide as tarefas com as professoras Ellen Perpétua e Naiane Oliveira. Ela também está em contato com a Prefeitura para, em parceria, oferecer a patinação nas escolinhas municipais.
“Essas crianças fazem as aulas e vão no Aeroporto, no Conjunto Esportivo, e mais crianças vão vendo e querendo. Nesse sentido, a questão do espaço é um problema real. Não tem uma quadra própria para isso. A gente vai no aeroporto, mas a quadra é de tênis, então é preciso esperar o jogo de tênis acabar. No Conjunto é da mesma forma. Há a dificuldade para eles terem uma parte lúdica, brincar. A patinação está forte, crescendo, com muitos adeptos”, ressalta.
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Mathews faz parte da turma do patins street e já participou de campeonatos da modalidade
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Escola de ginástica rítmica de Jéssica de Lucca oferece aulas de patinação para crianças
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