Prontuários de pacientes do posto de saúde do Flamingo são encontrados no lixo
Catadora de recicláveis localizou documentos e reconheceu nome de uma amiga
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Documentos foram encontrados em lixeira por catadora de recicláveis
Por Guilherme Gandini | 13 de março, 2022

Um boletim de ocorrência foi registrado neste sábado, 12, depois que prontuários de pacientes e uma série de documentos da Unidade de Saúde da Família - USF Dr.ª Isabel Etruri, localizada no Parque Flamingo, foram encontrados no lixo da escola situada ao lado do postinho.

Quem descobriu o material foi a catadora de recicláveis Tamires Fernanda da Costa, que ao remexer as folhas localizou o nome de uma conhecida, Sônia Aparecida dos Santos, moradora do mesmo bairro. Ela tem reumatismo e faz acompanhamento médico na unidade.

Sônia inclusive confidenciou que enfrentava dificuldades no atendimento, justamente devido ao desaparecimento do prontuário. “Estou fazendo tratamento porque estou com reumatismo e infecção urinária. Eu precisava dos meus exames porque a doutora tinha me encaminhado para um reumatologista, tanto é que estou com os braços inchados”.

Segundo a moradora, a nova médica que começou a atender no local há uma semana precisou fazer uma nova receita, já que, quando ela tentou verificar o prontuário, não o encontrou. “A médica não sabia o antibiótico, foi olhar no meu prontuário e ele tinha sumido”, conta.

O caso foi acompanhado pelo vereador Gleison Begalli (PDT), presidente da Câmara de Catanduva. Ele esteve com as moradores na delegacia para registrar o boletim de ocorrência e cobrará respostas. “Como agente público, vou tomar as devidas providências dentro do que me cabe, através de requerimento, para entender porque foi feito o descarte desse material”.

O parlamentar afirmou também que, além dos papeis referentes a prontuários, receitas e exames, há outro agravante: “Tem lixo hospitalar no meio, isso não poderia ser descartado em lixeira comum, precisa ter destinação própria. Nada disso poderia ter sido descartado assim.”

De acordo com o boletim de ocorrência, o crime foi enquadrado como violação do segredo profissional. Parte dos documentos foi recolhida pela Polícia Civil no momento do registro. O restante, compondo grande volume, será apresentado pelas declarantes no Distrito Policial para a sequência da investigação.

TROCA DA MÉDICA

Usuários da unidade de saúde protestaram na segunda-feira, 7, contra a transferência da médica Andrea Carvalho, que atendia no postinho há 10 anos, e de duas enfermeiras que atuavam no local. Eles iniciaram um abaixo-assinado para reivindicar que as profissionais voltem a atender os pacientes daquela região da cidade. Até agora, há cerca de 500 assinaturas.

A reportagem do Jornal O Regional esteve no local, na ocasião, e entrevistou vários pacientes, incluindo a própria Sônia, que lamentou a situação. “A gente está descalço e não tem informação. Uma médica que está aqui no postinho há 10 anos e sabe de cada paciente o seu histórico, agora vai começar do zero, uma pessoa que está chegando. Isso tem que ser resolvido.”

OUTRO LADO

Questionada sobre os documentos descartados no lixo comum, a Associação Mahatma Gandhi, que faz a gestão da unidade, informou que tomou ciência dos fatos apenas por meio da reportagem, não tendo sido notificada formalmente. A organização de saúde afirmou, porém, que já iniciaria a apuração do caso e tomaria as providências cabíveis. “Prezamos pelo cuidado com a documentação e com os pacientes, por isso tal caso nos causa estranheza”, pontuou.

Com relação à transferência da médica, o Mahatma Gandhi afirmou que “toda e qualquer mudança é pautada em avaliação do serviço segundo critérios técnicos e administrativos” e que “todas unidades de saúde permanecem com quadro de profissionais completo em pleno funcionamento, sem qualquer prejuízo ao andamento do trabalho e atendimento ao público”.

Já a Prefeitura de Catanduva respondeu em nota. “A Secretaria Municipal de Saúde repudia qualquer eventual problema na guarda de documentos dos pacientes. E nesse caso aguardará ser oficialmente notificada pelos órgãos oficiais de investigação. Para então, em posse da prova concreta da falha, notificar o Prestador Hospital Mahatma Gandhi para que se posicione.”

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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