Trabalho elaborado pela professora Andrea Justino, que ministra aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental - Anos Finais do Colégio Ressurreição, foi premiado pela FTD Educação, no evento “Compartilhando Práticas Pedagógicas”. A iniciativa é dedicada a celebrar, dar voz e premiar práticas pedagógicas que possam inspirar educadores, contribuir com a formação dos estudantes, além de identificar experiências e projetos inovadores de ensino-aprendizagem.
O projeto apresentado por ela carrega o nome de “Correção do Chaves - Como era? Como eu fiz?”, que tem como base a Metodologia Ativa, estruturada na neurociência da aprendizagem.
A proposta tem o nome inspirado no recorte de um episódio da série de televisão mexicana, amplamente televisionada no Brasil, pelo SBT, nas décadas de 80 e 90, com o nome “Chaves”.
No episódio, o professor Girafales “corrige” uma confusão de vocabulário do personagem Chaves - “massacote x mascote” - e nessa confusão há a repetição, por parte do aluno, da expressão “O que eu disse? E como é que é?” por algumas vezes, o que torna a cena engraçada.
A transposição para a sala de aula sofreu pequeno ajuste na expressão, que passou a ser “Como era? Como eu fiz?”, para ser utilizada no contexto de correção, por parte dos estudantes, das suas próprias questões nas avaliações escritas, depois da correção dessas mesmas questões ter sido feita pela professora.
“O projeto nasceu no início de 2023, dentro das aulas de Língua Portuguesa, no 6º ano. Após a avaliação escrita, eu faço a correção das questões e levo para a sala de aula, e coloco nas mãos do aluno, para que ele também aprenda a desenvolver um olhar analítico para as próprias questões que ele está resolvendo”, comenta a educadora.
O objetivo, segundo ela, é colocar o aluno para pensar sobre as questões que ele errou ou acertou parcialmente e se questionar: o que foi cobrado e como ele fez, e porque isso está errado ou parcialmente certo. “Eu não faço uma devolutiva tradicional, que é só mostrar a prova, eu sento com eles e passo uma semana fazendo a correção da avaliação com eles.”
Antes da prática ser desenvolvida em sala de aula, os estudantes são colocados em contato com o trecho do vídeo original para entender a essência da proposta. Na sequência, são convidados a observarem as questões da sua avaliação escrita e responderem as duas expressões: “Como era?”, ou seja, o que foi exigido de mim, e “Como eu fiz?”, ou seja, o que coloquei como resposta.
COMO A IDEIA SURGIU
Andrea conta que o projeto surgiu em suas angústias em sala de aula, no sentido de perceber que o aluno tem relação com o instrumento prova que não é positiva. “Quando se fala em avaliação escrita, ou seja, a famigerada prova, ele ainda sente ansiedade, entende como um instrumento de punição, parece que a prova não é correspondente ao que ele está fazendo ali todo dia, enfim, ainda há esse olhar que o aluno e a sociedade como um todo carregam.”
A intenção foi desenvolver nos alunos um olhar mais ameno para a prova e que ele possa aproveitar esse instrumento também como ferramenta de aprendizagem. “O Chaves, dessa série que foi sucesso na minha geração, extrapolou essa barreira do tempo e é conhecido hoje pelo meu aluno de 6º ano, que tem 11 anos, porque a internet possibilita que ele tenha acesso. Então usei essa ferramenta que existe entre nós, que é um elo comum, que seria o Chaves.”
RESULTADOS POSITIVOS
A receptividade dos alunos, segundo Andrea, é extremamente positiva. “É uma prática que leva em torno de seis a oito aulas pra eu conseguir desenvolver complemente, mas ela termina com uma clareza de que o instrumento prova não é para ter medo, é para pegar, olhar e usá-lo como mola propulsora para aprender. E quanto o aluno percebe o que estou dizendo, ele entende que não é sobre uma nota: é sobre um processo longo que já começou e a prova é só um pedacinho.”
A professora diz que seus objetivos estão sendo alcançados, à medida que esse entendimento é alcançado e que os estudantes ficam mais tranquilos na hora da prova. “A autocorreção é o que empodera um aluno para ele crescer. Entender que ele pode errar, que não será penalizado, e vai usar o erro como tijolo para aprender de verdade. Aprender não está ao toque do nosso dedo. É um processo analógico que requer tempo, paciência e encarar os próprios erros.”
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