Professor dedica a vida ao estudo de línguas e alcança fluência em 25 idiomas
Natural do Rio de Janeiro, Robson Rossi mora em Catanduva e atua com comércio exterior
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Rossi fez estágio no Reino Unido e esteve em vários países a trabalho
Por Guilherme Gandini | 20 de março, 2022

É possível conhecer o mundo viajando, mas também pela literatura ou desbravando a cultura e os idiomas dos diferentes países. Foi essa terceira via que conduziu a vida do professor Robson Rossi, 49, natural do Rio de Janeiro e que hoje reside em Catanduva. Com metodologia baseada no ensino oferecido nas universidades de cada nação, ele tem fluência em cerca de 25 línguas.

Os idiomas fizeram parte da vida do educador desde cedo. Aos 11 anos, ele se deparou com um curso lançado por uma editora. Introvertido e sem amigos, buscou no aprendizado uma forma de não seguir caminhos errados e, segundo confidencia, driblar uma possível depressão. Rossi diz que o estudo sempre proporcionou surpresas: pelos conhecimentos e lições de vida.

Autodidata, começou a estudar sozinho os idiomas tidos como mais “básicos”: inglês, francês, italiano, espanhol e alemão. Mais tarde, fez cursos específicos para cada um deles. Com o tempo, novos idiomas foram sendo incorporados à sua cesta de conhecimentos, tais como o russo, hebraico, japonês e o chinês. Todo o dinheiro que ganhou foi direcionado aos cursos.

“O primeiro fato marcante foi no primeiro emprego, em que fui contrato para trabalhar como mensageiro em uma grande empresa e meu posto era no porão de um prédio de 14 andares num setor chamado “expedição”. Nas horas vagas, me dedicava aos estudos. Os colegas me tinham como uma pessoa anormal e brincadeiras de mau gosto eram comuns”, relembra.

Apesar disso, todos gostavam de ouvi-lo falar nas diferentes línguas e rapidamente a fama do mensageiro que estudava vários idiomas se alastrou pela empresa. Um dia, foi chamado ao 13º andar, na sala do vice-presidente. Adolescente de 16 anos, achou que tivesse feito algo errado.

Para sua surpresa, o gestor demonstrou encanto por saber que o jovem estudava tantas línguas e, sem mais delongas, perguntou se ele poderia ajudá-lo como intérprete em uma negociação com a França. “Com apenas dois anos de francês, o desafio foi supremo, mas por fim tudo acabou bem. Eu não imaginava quanto era meu próprio conhecimento no idioma”, conta.

Um dia depois, foi convidado pelo presidente da empresa a trabalhar no Departamento de Comércio Exterior. Foi aí que o mensageiro conheceu sua futura profissão.

Entre o período acadêmico e sua especialização, estudou os idiomas hebraico na Ulpan (Sinagoga Hebraica), russo no antigo Ubrasus (instituto Brasil-União Soviética), italiano, francês e espanhol em seus respectivos consulados, o alemão no Goethe e o chinês no curso voltado ao consulado da China. Graduou-se em Relações Internacionais, com pós em Comércio Exterior.

Sua rotina se dividia entre universidade, cursos de Idiomas e trabalho. Sem perspectiva de viajar e muito menos entrar no avião, realizou sua primeira viagem internacional em 1994, a trabalho para uma indústria de flores artificiais. Acompanhou um diretor por uma semana em visita à China, Tailândia, Índia e Vietnã na busca por fornecedores de botões de flores. Dado total desconhecimento do diretor nos idiomas, foi sua primeira atuação como negociador.

Em 1998, desbancou quatro fortes candidatos em outra seleção de emprego, em que o teste era desenrolar uma negociação com um cidadão russo, que não falava nada além da sua língua nativa. Rossi considera esse o segundo grande presente que os idiomas lhe proporcionaram. A partir daí, fez viagens por toda a América Latina negociando produtos, com um bom salário.

Mais tarde, ingressou numa multinacional inglesa de petróleo e gás, após entrevista de emprego de quase 4 horas, pois o presidente argentino queria realmente comprovar se ele falava todos os idiomas escritos no currículo. Ganhou a oportunidade de fazer um estágio como comprador internacional para materiais estratégicos na matriz localizada em Newcastle, Reino Unido.

Durante o estágio, estudou idiomas que não haviam no Brasil, como o turco, tcheco, servo, croata, búlgaro, romeno, húngaro, norueguês e sueco. “Nunca houve interesse em colecionar diplomas, o mais importante era saber falar, entender, ler e escrever. Os cursos funcionaram como um facilitador ou uma forma de praticar com alguém”, pondera Rossi.

Ao chegar na oitava língua, precisou reformulou a forma de estudar. Rossi diz que entrou numa espiral de idiomas, na qual não distinguia o mundo real e o dos idiomas. Precisou espaçar 1 hora entre um idioma e outro, fazer uma criação mental de um sistema de caixas, nas quais separava cada conhecimento como um arquivo e não o usar seria desligá-lo temporariamente.

Superada essa fase, seguiu em frente. Aprendeu grego com uma professora grega de 90 anos, mas precisou concluir o aprendizado no Instituto Helênico após seu falecimento. O árabe e a conclusão do japonês foram em aulas aos sábados, de forma ininterrupta, ao longo de 3 anos.

O hebraico foi outra surpresa. Quando convidado a trabalhar numa multinacional israelense de defesa estratégica e diretamente com um diretor e todo o corpo executivo israelense, o hebraico era tido como segunda língua. Somente ele entendia e falava o hebraico. “Porém em certas reuniões eu estranhamente não participava”, diverte-se.

Casado e com duas filhas, e diante da estafa da cidade grande, decidiu migrar para algum lugar mais calmo, com qualidade de vida. Catanduva tornou-se a escolha. Três meses depois de chegar, começou a atuar na área de comércio exterior em uma empresa local e, com a pandemia, passou a compartilhar seu conhecimento em aulas particulares a distância.

Hoje, o aluno pode escolher entre inglês, espanhol, alemão, francês, croata, chinês (mandarim), holandês, grego moderno, italiano, latim, indonésio, hebraico, japonês, ucraniano, romeno, russo, português, turco, norueguês, sueco, búlgaro, tcheco, sérvio, escolavo e árabe clássico.

“Nunca pense que algo é em vão, tudo na vida poderá ser compensador em um determinado momento. Menosprezar conhecimento é dar adeus a oportunidades que possam ser servidas no futuro. Idiomas abrem portas, enriquecem culturalmente e unem o mundo”, enaltece.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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