Problemas com a voz preocupam e professores apostam na tecnologia
Uso do microfone é marca das educadoras Laís Sagrillo de Ricco e Dorotéa Pereira; problemas vocais estão entre os mais recorrentes
Foto: Arquivo Pessoal - Professora Laís Sagrillo de Ricco usa microfone e aposta na hidratação
Por Guilherme Gandini | 18 de junho, 2023

A perda da voz, entre outros problemas do tipo, está entre as principais causas de afastamento de professores da sala de aula. No setor público, esse tipo de situação é relatada em pesquisas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de SP (Apeoesp) e do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), esta última em parceria com o Centro de Estudos da Voz.

Os estudos não são recentes, já que nos últimos anos a pandemia tomou conta dos temas de levantamentos e pesquisas, mas o cenário visto em sala de aula, relacionado aos problemas vocais, não sofreu melhoras. Na pesquisa do Sinpro-SP, que é de 2006, por exemplo, 63 dos docentes consultados afirmaram, à época, terem tido alterações vocais e 16% ainda tinham.

“As alterações nos professores são de natureza recorrente, já as alterações em não-professores estão dentro da faixa de incidência de disfonia na população geral”, explicou ao apresentar os resultados Fabiana Copelli Zambon, fonoaudióloga e uma das coordenadoras da pesquisa. Os principais problemas relatados foram garganta seca (51,7%), rouquidão e pigarro (35,1% cada).

De acordo com a pesquisa “Condições de trabalho e suas repercussões na saúde dos professores de Educação Básica no Brasil”, publicada em 2010 pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), entidade do Governo Federal, as duas maiores queixas médicas dos professores foram os problemas de voz e os transtornos psicológicos.

A própria Apeoesp obteve resultados semelhantes, em 2007 e 2010, ao pesquisar o tema junto aos delegados de seu congresso estadual, por meio do Centro de Estudos e Pesquisas do Dieese. Os resultados mostraram, com pequenas variações percentuais, como as principais causas do adoecimento dos professores o estresse, as doenças da voz, tendinites, LER e bursites.

Ciente de que os professores tendem a apresentar mais problemas vocais que os profissionais de outras áreas, a educadora Laís Emanuela Sagrillo de Ricco, 36 anos, formada em Ciências Biológicas e Pedagogia e lecionando há 3 anos, é uma das que resolveu apostar na tecnologia como forma de se precaver. Ela faz uso do microfone nas salas de aula do Ensino Fundamental.

“Minha história com a educação em sala de aula é recente. Apesar disso, já percebo que o cuidado com a voz é essencial para conseguir mantê-la até o final de um dia letivo com crianças”, afirma ela, que sempre levo consigo o microfone e uma garrafinha para hidratação. “A utilização do microfone é outro fator que me ajuda bastante no cuidado com a voz. A tonalidade da minha voz é baixa e o microfone é uma ferramenta que me auxilia potencializar minha voz.”

Quem está a mais tempo na carreira, já vivenciou problemas do tipo com colegas e sabe que a prevenção é essencial. É o caso de Dorotéa Renata Pereira, 41 anos, que leciona há cerca de 17 na rede pública como professora de inglês, além de já ter trabalhado com Língua Portuguesa no município e na Etec Elias Nechar. Uma de suas marcas é justamente o microfone auricular.

“Eu comecei a usar o microfone porque eu trabalhava dois períodos, manhã e tarde, e, aos domingos, cantava no grupo de louvor da igreja. No meio da semana eu já estava sem voz e aos domingos sentia muita dificuldade para cantar. Vi uma colega de trabalho usando o microfone e comprei um. Desde então, essa é minha marca registrada, não fico mais sem”, comenta.

À reportagem, Dorotéa mostrou um desenho de si mesma feito por um aluno, em que o microfone é retratado. “Quando as crianças me desenham, desenham o microfone também, pois na escola é uma extensão do meu corpo. O uso do microfone me ajuda muito, pois não preciso alterar minha voz, posso falar baixo e vou controlando o volume da caixa de som.”

Fonoaudióloga dá dicas para manter a saúde vocal

Para ficar com a saúde vocal em dia e ter uma voz bonita e saudável, a fonoaudióloga Daniela Espírito Santo Coca, que atua em Catanduva, recomenda uma série de medidas preventivas, o que inclui alguns exercícios relaxantes antes da fala, como vibração de língua e lábios.

“Beber no mínimo dois litros de água ao dia, dormir oito horas diariamente, sempre praticar exercícios físicos e consumir legumes e frutas, principalmente a maçã, que é adstringente e estimula os músculos da face e pescoço”, orienta.

Ela também diz que é importante articular corretamente as palavras, movimentando bem a boca ao falar; reduzir o consumo de leite e derivados, bebidas gasosas e chocolate; e manter boa postura quando estiver conversando, falando ou cantando, alinhando pescoço e coluna ereta.

Ainda, é preciso evitar o consumo de cigarros e de álcool, principalmente destilados, dando preferência para o consumo de bebidas em temperatura ambiente. “Evite hábitos inadequados, como pigarro e tosse constante”, pontua a especialista, que ainda sugere não permanecer em ambiente com ar condicionado por muito tempo – e, se o fizer, beber muita água.

“Sempre antes do período que você for utilizar muito a sua voz, alimente-se de forma mais leve, com comidas menos condimentadas. Sempre evite o hábito de competição vocal, como gritar, falar alto. Não consumir excessivamente café, chá preto, sprays e pastilhas”, complementa.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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