Pessoas de todas as tribos, classes e idades estão unidas em defesa do esporte: elas reivindicam a reabertura da pista de skate do Conjunto Esportivo Anuar Pachá, fechada há cerca de 6 meses. No início da história, em fevereiro do ano passado, houve promessas de reforma e melhorias, o que elevou as expectativas dos usuários. Tempos depois, restou apenas a frustração.
“A gente teve um encontro com Padre Osvaldo e a vereadora Ivânia para fazer as solicitações: banheiro, água, conserto do piso e outras coisas básicas para um espaço público. Eles disseram que fariam a reforma na pista. Passou o tempo e simplesmente passaram uma tinta, tiraram fotos e colocaram como se tivessem reformado”, relembra a pedagoga Flávia Nunes, 41, que frequenta o local com a filha Maria Fernanda, de 6 anos.
Vieram, então, os primeiros protestos de que “maquiagem não é reforma”. “Não houve vandalismo. Além de não terem cumprido o que prometeram, eles não permitem o acesso a eles. A gente tentou por diversas vezes. Eles estão usando o cargo público, deveriam olhar o bem comum, atender as necessidades dos lugares públicos, da população”, lamenta.
Em outubro, houve uma segunda perspectiva de reforma, aliada à divulgação da conquista de uma verba federal para construção de outra pista. A intervenção, entretanto, ficou restrita à pirâmide central e ao conserto de buracos de algumas rampas – segundo os skatistas, com cimento comum e mão de obra da Prefeitura, sem qualquer tipo de especialização.
Outros pontos problemáticos, segundo relatos colhidos pelo Jornal O Regional, não foram solucionados. É o caso da mini ramp e de um paredão – ambos alvos de reformas paliativas e com péssimos resultados para a prática do esporte. “Tentaram fazer uma reforma fajuta, mas ficou um lixo”, critica Guilherme Olímpio, 30, skatista e usuário da pista há 18 anos.
“A pista é defasada, um projeto muito antigo, não é o tipo de skate que a gente gostaria de ter pra andar. O que a gente reivindica é uma pista adequada, apropriada e ampla para a quantidade de pessoas que tem frequentado ali, principalmente aos finais de semana”, diz ele.
O skatista afirma que, aos finais de semana, são 20, 30 pessoas andando ao mesmo tempo, e o local não comporta. “Há bastantes crianças, os pais levam, estão apoiando, estão com a gente no movimento, reclamam também da iluminação. Porque se resolvesse ao menos a iluminação, reduziria a lotação, já que à noite tem menos criança. Hoje, é um ambiente bem familiar.”
Conforme os esportistas, a iluminação também não recebeu melhorias: um pleito antigo dos usuários da pista. “Nunca teve uma iluminação decente. Eu ando ali faz 18 anos e nunca teve. Sempre foi péssimo. Nesse governo, melhorou um pouco, aí o cara foi lá, prometeu várias coisas e depois sumiu faz 6 meses”, completa Olímpio. “Pelo skate ser um esporte milimetricamente preciso para as manobras, a falta de luz é um fator muito importante, creio que o principal.”
Para piorar a situação, pinturas feitas pela Prefeitura desagradaram a comunidade do skate, acarretando nova série de protestos. “Quando fechou para reforma, eu estava na pista”, conta Flávia. “Chegaram dois funcionários e uma moça que faria os desenhos. Perguntei o que seria feito. Eles afirmaram que era só a pirâmide central que seria refeita e os buracos tampados.”
A pedagoga chegou a dialogar com a artista que faria as pinturas. “Ela afirmou que faria muralismo, mostrou fotos no celular, apreciei a obra, mas disse que caberia conversar com os skatistas para que fizesse algo coerente com o espaço. Não adianta pintar uma maternidade de preto e uma pista de skate de rosa. Ela disse que faria o que bem entendesse, então me calei”.
“A gente não quer desenho de criancinha, a gente quer a cultura de rua”, frisa Olímpio, com críticas à punição que, segundo ele, está sendo feita pela sociedade. “Eles não olham pra nós, não vão lá enxergar, conversar, pra tentar entender qual o nosso estilo de vida. A partir do preconceito, tiram conclusões totalmente falhas sobre quem somos.”
Como os pedidos não foram atendidos, como água, iluminação e outras melhorias, vieram mais protestos. A Prefeitura, por sua vez, passou a tachar os protestos como vandalismo. Já as críticas às obras de arte foram colocadas como machismo. “Eles colocaram como vandalismo para não olhar o lado deles: não fizeram o que prometeram e se colocam encastelados”, diz Flávia.
Usuário do local há mais de 10 anos, Eliezer Giannucci, 30, diz que entre os frequentadores de longa data, como no seu caso, há muitos pais que levam as crianças. “Tem muitas pessoas que estão acompanhando essa situação que está acontecendo agora”, indica. “Além de não cumprir as promessas, eles ainda estão castigando os skatistas. É uma forma de preconceito.”
A pista fechada e apagada há 6 meses é, na visão dos skatistas, retaliação do governo municipal. “A Prefeitura está castigando a gente pelas manifestações que fizemos”, frisa Olímpio.
SEM DIÁLOGO
A falta de diálogo, segundo Flávia, é um dos piores agravantes. “Os últimos skatistas que foram até o secretário de Esportes, Marco Braga, foram tratados de maneira irônica para que eles procurassem seus direitos na Justiça para que ele reacendesse a luz da pista”, relata, emendando que chegou a dialogar com a vereador Ivânia pelas redes sociais – e ela teria dito que o espaço só seria reaberto depois da instalação de um bebedouro e câmeras de vigilância.
“Coloquei para ela que essas coisas não interferem em nada no uso da pista. Ali é um espaço público que já deveria estar reaberto, haja vista que a reforma de estrutura já foi feita, que só foi aquilo que eles fizeram, então está sendo realmente usado o poder público de forma punitiva e infantil. Não está sendo atendido o bem comum”, critica Flávia.
Há duas semanas, ela tentou novo contato com Braga, em uma sexta-feira, mas ele não estava. “Falamos com uma servidora, contextualizamos todo isso, e marcamos para a segunda-feira seguinte. Na data, antes do horário marcado, recebemos ligação avisando que não era preciso ir, porque não reabriria a pista, nem acenderia as luzes antes de colocar o bebedouro e instalar as câmeras. Eu pedi um prazo. A obra iniciou em outubro, eles deram um prazo de dois meses e já estamos há seis, quase sete meses e está muito claro que estão agindo de forma punitiva.”
Sem resposta, Flávia insistiu e foi à Secretaria de Esportes no horário marcado, 16 horas. “Eles não deram prazo, saí de lá na mesma, sem resposta alguma”, lamenta.
“O que a gente está querendo é que no mínimo é que as luzes sejam reacendidas e a pista reaberta. É um espaço público, já terminaram a reforma há meses e isso é o mínimo. Nessa situação que a gente se encontra, o que estamos querendo é andar de skate. Então que no mínimo isso seja respeitado. Isso não é uma solicitação de nada, é um direito como cidadão.”
Ela frisa que o objetivo não é persistir no embate. “Solicitamos coisas e eles não cumpriram. Com toda razão, vem sentimento de inconformismo e revolta. Mas não queremos embate, queremos que os problemas sejam solucionados, mas não existe perspectiva por parte deles, eles se colocam como se fossem donos da cidade e dos lugares. Sempre foram colocados os julgamentos, culpa, condenações do lado dos skatistas, sem colocar os porquês dos protestos, das coisas, pra tirar o foco daquilo que não foi feito. Deixo aqui meu depoimento como cidadã, como mãe de uma filha que ama o skate, o patins e o esporte”, completa a pedagoga.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo (Smelt) afirmou ao Jornal O Regional, por meio da Assessoria de Comunicação Social, que os usuários da pista de skate reivindicam a reforma e que, em acordo, foi decidido que o espaço seria fechado para a realização das intervenções. “O trabalho acabou sendo comprometido por entraves na compra do cimento e tinta”, reconheceu.
Segundo o setor, serão feitos novos reparos na pista a fim de corrigir imperfeições, nova pintura, iluminação e construção do bebedouro. Também serão instaladas câmeras de monitoramento. A reabertura imediata do local foi descartada. Nenhum prazo foi indicado para a conclusão.
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