Foi de forma tímida e lenta que o empresário e ex-prefeito de Catanduva Warley Agudo Romão, fundador de O Regional começou a relatar a história do periódico, em entrevista por telefone. Disse que a memória, no alto dos seus 82 anos, já não estaria ajudando. Mas a riqueza de detalhes que apresentou na conversa de quase 1 hora e a empolgação ao falar sobre a criação do matutino, em 1971, mostraram que o episódio estará para sempre registrado em sua mente.
“Há 50 anos, Catanduva tinha apenas o jornal A Cidade, do Nair de Freitas. Era um jornal de quatro páginas, sendo uma nacional e internacional, muitas propagandas e pouco conteúdo local. Dependia muito da Prefeitura e da Câmara com suas publicações e dos editais de casamentos. Então fui a São Paulo, comprei máquinas e impressora e criei O Regional”, resumiu Warley.
O novo órgão da imprensa catanduvense, segundo ele, não trazia conteúdos nacionais. “Era um jornal tipicamente da região”, disse, relembrando a revolução alcançada. “Comprei a Polaroid, que a foto saía na hora, aquilo foi revolucionário. A gente tirava a fotografia e às 6 horas da manhã a pessoa já recebia o jornal com a foto na página. O Regional revolucionou a imprensa.”
O espírito de inovação também ocorreu na parte gráfica, primeiro com o linotipo e depois com a importação de uma impressora offset – havia apenas quatro em operação nos grandes jornais do Brasil, na época. “A capacidade de produção era incrível, 1.500 jornais por hora, começava a imprimir às 5 horas da manhã e às 6 horas estava tudo pronto”, empolgou-se Warley.
No jornalismo, O Regional quebrou paradigmas. “Começamos a mostrar coisas de Catanduva que os outros jornais não mostravam. Éramos uma espécie de oposição a eles. Denunciávamos as coisas erradas, com sugestões e cobrando soluções. Se faltava iluminação e isso era perigoso para as moças transitarem, cobrávamos durante dias até a companhia consertar”.
Warley lembra que o jornal teve grande penetração na sociedade, com influência na cidade e na região. Incomodou ao mostrar coisas sobre as quais não se falava. Inovou com equipe forte, um redator-chefe experiente vindo de São Paulo e um jornal de qualidade. Havia um encarte infantil com tirinhas da Turma da Mônica aos domingos e coluna de humor com João Elias.
Com o desligamento de Warley, anos mais tarde, o trabalho seguiu com Gerson Gabas, seu sócio, e depois com Marina Gabas. O empresário ressalta que ao longo dessa trajetória, a independência foi uma constante. “Nunca dependemos de dinheiro público”. Ele também foi proprietário de rádios locais e da TV Rio Preto, canal 8, depois vendida a Silvio Santos.
TRANSIÇÃO
A transição da gestão do jornal para as mãos de Gerson Gabas foi tema de entrevista de Warley à TV Câmara, em 2011. Ele afirmou que o processo ocorreu da forma mais tranquila possível. “Geral era meu cunhado e amigo particular. Era uma pessoa maravilhosa que trabalhou não apenas para o jornal, mas também nas rádios e na TV Rio Preto. Quando me elegi prefeito, não tinha mais condições de continuar no projeto. Ele então assumiu o jornal e posteriormente cedi as ações para ele”.
Na ocasião, Warley disse sentir saudade da época em que esteve à frente do matutino. “É um grande orgulho ver o jornal da forma como está hoje e que ele possa seguir sempre nesse caminho. Trata-se de um jornal corajoso, que traz no seu íntimo uma noção de responsabilidade e de responsabilizar pessoas e fatos da cidade. Ele está cumprindo sua missão e seus objetivos desde o início e não fugiu de forma alguma de sua meta, criando essa mentalidade em Catanduva. A população se espelha na conduta do jornal, na forma corajosa e vários jovens que queriam ser jornalistas viram no jornal esse espelho”, declarou.
PREFEITURA
Advogado, empresário e prefeito. Suas variadas facetas profissionais foram relembradas por Warley durante a entrevista ao Jornal O Regional. Da sua gestão na Prefeitura, ele destaca a construção de mais de 5 mil moradias financiadas pelo extinto BNH – Banco Nacional da Habitação, incluindo o bairro Solo Sagrado, com lotes vendidos a preços bem acessíveis.
Outro episódio fixo em sua memória é o da construção do Terminal Rodoviário. O fato ocorreu durante o mandato do governador Paulo Egydio Martins, que liberou recursos para construção de 10 rodoviárias pelo interior. Quando Warley reivindicou uma para Catanduva, foi orientado pelo governador a procurar pelo secretário responsável pela pasta, na capital paulista.
“Fiquei horas esperando na antessala, até que comecei a dar um escândalo. O secretário saiu assustado, então pedi a 11ª rodoviária e dei a solução. Se ele fosse dar 100 mil para cada uma, era só dar 90 mil e com o saldo fazer a de Catanduva”, relembra orgulhoso. Um de seus lamentos é não ter denominado os prédios que construiu, casos da Rodoviária e do Teatro Municipal.
DOMINGOS
Coluna Infantil Era Um dos Destaques
A edição de domingo do Jornal O Regional sempre foi reforçada, de forma a atender aos mais variados públicos. Por muitos anos, a coluna infantil 'O Reizinho', cuidada por Marli Magatti Ferreira, foi um dos destaques.
A criançada também tinha como atrativo o 'Cantinho Infantil', com brincadeiras e passatempos. Outros pontos fortes e tradicionais da edição dominical, ao longo do tempo, foram os cadernos sociais, classificados, veículos e a programação de cinema e cultura.
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