O dia em que Jô Soares entrevistou o Palhacinho que viraria vereador
Catanduva foi parar na bancada do apresentador, em seu talk show no SBT, representada por Vagner Luiz Pimpão Bersa
Foto: REPRODUÇÃO - Jô Soares entrevistou Pimpão em 1995; palhacinho seria eleito 13 anos depois
Por Rodrigo Ferrari | 06 de agosto, 2022
Jô Soares, que nos deixou ontem, teve uma das carreiras mais versáteis de que se tem notícia na história do entretenimento brasileiro. Começou no rádio, depois foi para o cinema e a TV, onde encarnou personagens inesquecíveis em programas que fizeram imenso sucesso e cujos bordões são lembrados até hoje. Quem nunca ouviu a expressão “muy amigo”, por exemplo?  Jô também foi escritor, autor de teatro, roteirista de cinema e dava suas palhinhas como instrumentista. E houve uma vez, nos anos 90, em que o “Gordo” foi muy amigo de Catanduva.  
 
Depois de quase três décadas atuando como humorista, Jô Soares resolveu se reinventar e revolucionar a televisão brasileira, ao tornar o talk show um entretenimento consumido pelo povo em geral. Criado em 1988, o “Jô Soares Onze e Meia” virou uma verdadeira febre nacional, garantindo assuntos para horas de conversas a seus telespectadores, nos dias seguintes à exibição. Transmitido pelo SBT (que não contava com elenco estelar) e sem acesso a nomes famosos da Globo, que, na época, mantinha contrato de exclusividade com os principais artistas do Brasil, o programa era obrigado a inovar, apelando para ilustres desconhecidos, que traziam histórias inusitadas para o público. 
 
Foi assim que, no ano da graça de 1995, Catanduva foi parar na bancada de Jô Soares, representada por um palhacinho que se tornaria vereador. Foi no dia 29 de agosto. Naquele ano, Carlos Eduardo de Oliveira Santos estava em seu terceiro ano de mandato na prefeitura. O presidente era Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, o governador. O salário mínimo era de R$ 100 (ou US$ 111) e o litro de leite custava R$ 0,77.  
 
Trajando uma roupa verde e amarela e um chapéu pontiagudo, Vagner Luiz Pimpão Bersa foi chamado ao palco por Jô. Na época, ele usava o bigodinho estilo Carlitos, que também foi adotado por outra personalidade histórica de triste memória - um político austríaco, que muita dor de cabeça causaria ao palhacinho, depois que ele foi eleito (mas isto é outro causo).   
 
Pimpão foi selecionado para ser entrevistado por Jô Soares por conta de um anúncio publicado em jornal, no qual o futuro edil de Catanduva procurava casamento com uma pessoa endinheirada. Segundo ele próprio relatou ao apresentador, aquela seria a única forma de ele subir na vida. “Ou arranjando uma mulher rica ou entrando para a política”, afirmou o catanduvense.    
 
As aspirações cívicas de Pimpão também devem ter influenciado a escolha, já que, na época, não existiam figuras como Tiririca e afins. Bersa aproveitou sua passagem pelo programa para ironizar medalhões da política brasileira como Paulo Maluf e Mário Covas.    
 
Ele também contou que havia alterado o próprio nome na Justiça, de modo a incluir Pimpão, explicando que temia ser barrado pelo Tribunal Regional Eleitoral, caso eventualmente tentasse utilizar o apelido famoso nas urnas. Bersa ainda relatou sua trajetória nas eleições que disputara até então, começando com 41 votos, em 1988. “Uma votação expressiva”, ironizou Jô. Na segunda tentativa, ele saltaria para 79 votos. Em ambas, não se elegeu.    
 
O que muitos não imaginavam é que, 13 anos depois, Pimpão seria eleito vereador com 1.400 votos, ficando à frente de figuras conhecidas da política catanduvense. A saga do Palhacinho no Legislativo de Catanduva foi menos efêmera do que sua passagem pela bancada de Jô Soares. Mas depois de quatro anos atuando como parlamentar, acabou por não se reeleger e retornou a uma rotina parecida à de antes da fama. Ele ainda se orgulha de seus 20 e poucos minutos de fama nacional. Tanto que mantém o vídeo em seu canal do YouTube. Hoje, a entrevista, o mandato e o próprio apresentador - tudo isso virou história. 

 

 

Foto: DIVULGAÇÃO/TV GLOBO - Jô Soares morreu aos 84 anos na madrugada de ontem, dia 5, em São Paulo

Autor

Rodrigo Ferrari
É jornalista de O Regional.

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