Número de bebês com pai ausente é de quase 4% em Catanduva
Dados do Portal da Transparência mostram que foram 59 casos do tipo entre os 1.477 nascimentos até o mês de agosto
Foto 1: Ednilson Aguiar/O Livre - De 2016 até agosto de 2023, Catanduva teve 2,6% dos registros com pais ausentes
Por Guilherme Gandini | 17 de setembro, 2023

Dos 1.477 recém-nascidos registrados em Catanduva de janeiro a agosto deste ano, 59 foram identificados somente com o nome da mãe no cartório. O número equivale a 3,9% e está bem acima do verificado nos anos anteriores, em toda a série histórica iniciada em 2016. Até então, o índice mais elevado havia sido em 2022, com 3,1% e, antes disso, 2017, com 2,7%.

Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que incluiu no Portal da Transparência do Registro Civil uma página voltada à identificação do número de crianças registradas só em nome da mãe no Brasil – denominada Pais Ausentes.

Segundo a Arpen-Brasil, o registro de nascimento, quando o pai for ausente ou se recusar a realizá-lo, é feito somente em nome da mãe que, no ato de registro, pode indicar o nome do suposto pai ao cartório, que dará início ao processo de reconhecimento judicial de paternidade.

Conforme levantamento do jornal O Regional no Portal da Transparência, de janeiro de 2016 até 31 de agosto de 2023, Catanduva teve 17.422 nascimentos registrados nos cartórios locais, dos quais 463 foram com pais ausentes – equivalente a 2,6%. No mesmo período pesquisado, foram contabilizados 380 processos de reconhecimento de partidade, ou seja, 2,1% do total.

Levando-se em conta a média mensal de registros com pais ausentes verificados de janeiro a agosto deste ano, que é de 7,3 casos, Catanduva superaria a marca de 88 casos ao final deste ano, batendo todos os recordes da série histórica. Para efeito de comparação, em 2022 foram 67 registros só com o nome da mãe de janeiro a dezembro, média de 5,5 casos a cada mês.

NASCIMENTOS CAEM

A pesquisa feita no portal também comprova a redução do número de nascimentos em Catanduva, já mostrado por O Regional, como um dos possíveis reflexos da pandemia do coronavírus. Em 2016, foram 2.239 nascimentos e, na sequência, 2.361, 2.378 e 2.442, com queda a partir da chegada do novo vírus para 2.262 (2020), 2.155 (2021) e 2.108 (2022).

Psicólogo reforça a importância do papel do pai

O vínculo entre mãe e filho, dentro da psicologia, sempre foi assunto em destaque, já que, sem dúvida, a figura materna é a primeira a promover a sobrevivência do filho desde o útero. Entretanto, segundo o psicólogo Anderson Pedro, a partir do momento em que a criança começa a conhecer o mundo, cresce a importância do papel do pai em seu desenvolvimento social.

“Estudos a partir do trabalho de Bowlby (1951/1910), sobre a conduta do apego, indicam que desde a concepção ocorre forte ligação entre mãe e filho, que só aumenta com o passar do tempo. No entanto, à medida que a criança cresce e se desenvolve, passa a existir a necessidade de apresentar à criança o mundo além da mãe, o pai então passa a ser a figura primordial”, diz.

Segundo o especialista, o desenvolvimento socioemocional da criança está intrinsecamente e igualmente ligado às figuras materna e paterna, sendo a mãe e o pai essenciais para que o filho possa desenvolver o sentimento de pertencer a uma família e de sentir-se aceito.

“Estudos científicos mostram que a ausência do pai pode gerar consequências negativas, como, problemas psicológicos e comportamentais. Por outro lado, um pai presente contribui significativamente no desenvolvimento emocional dos filhos. Essa relação afetiva facilita a capacidade de aprendizagem e a interação social da criança”, pontua o psicólogo.

Pesquisa realizada nos Estados Unidos pela PubMed, Lilacs e Science Direct no período de 2000 a 2010 aponta que 72% dos adolescentes envolvidos em assassinatos, 60% em estupros e 85% dos presidiários do sexo masculino cresceram sem a presença do pai. Pesquisadores destacaram também que as crianças na fase escolar estão sujeitas duas vezes mais a repetirem de ano e terem desajustes psicológicos pela ausência do pai do que aquelas com o pai presente.

“A presença do pai é necessária na família, pois ele oferece o apoio moral e emocional à mãe, para que possa inserir na vida da criança o senso de ordem e autoridade. É ele quem dará auxilio no desenvolvimento da capacidade de socialização do filho, cabe ao pai transmitir aos filhos o senso de segurança e valores. Neste aspecto, compete aos homens uma posição mais efetiva na vida dos filhos, sendo a autoridade do pai, a direção segura que proporciona confiança e desenvolve a autonomia dos filhos, possibilitando uma vida emocional mais equilibrada.”

Anderson Pedro afirma, ainda, que o exemplo do pai é importante para o desenvolvimento saudável dos filhos, pois, durante a adolescência os meninos buscarão uma identificação, e as meninas, autoestima. “Você que é pai, estando cada vez mais presente na vida dos filhos, trará benefícios que irão favorecer o vínculo afetivo saudável”, garante. “Desta forma, seus filhos alcançarão o equilíbrio emocional.”

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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