Quando a mensagem chegou pelo WhatsApp por meio de um número desconhecido, C.F.M. ficou desconfiado desde o primeiro momento. A foto de perfil trazia a marca da empresa de telefonia Claro e, ao longo do diálogo, vários detalhes quase o convenceram de que se tratava de um representante da companhia. O nome do catanduvense foi preservado nesta reportagem.  

O texto inicial trouxe uma apresentação do que seria a assistente virtual Claro/Net, anunciando “descontos incríveis” para clientes regularizarem débitos pendentes e para clientes adimplentes pagarem sua fatura a vencer, já informando tratar-se de uma prestação de serviços terceirizada.  

No suposto golpe, o interlocutor aproveitou-se de um possível vazamento de dados pessoais para apresentar ao cliente do plano Claro Residencial, que utiliza internet e telefone fixo da operadora, além de nome, endereço completo e telefones, os valores em aberto de faturas pendentes. Todas as informações indicadas coincidiam exatamente com a realidade.  

O cliente, então, escolheu entre as opções apresentadas com números de 1 a 5 a que dizia “deseja efetuar o pagamento a vista dos valores totais que ja estão fechados no sistema com desconto do algoritmo do dia” – assim desta forma, com falhas de acentuação mesmo.  

Para aumentar a veracidade da história, a mensagem seguinte dizia que foi liberada a reativação do sinal no prazo de 1 hora até 24 horas, com pedido para que o cliente da Claro desligasse e ligasse os equipamentos da tomada “com intervalo de um (01) minuto para atualizarmos aqui”. Ele deveria pagar o valor do acordo em 24 horas, caso contrário o sinal seria interrompido.  

Para surpresa de C.F.M., o serviço foi restabelecido em poucos minutos. “O que mais chama atenção é: primeiro, como esse pessoal tem todos os valores que a pessoa tem em aberto? E, depois, a partir do momento que iniciou a tratativa de acordo, mesmo sem efetuar o pagamento naquele momento, como que eles conseguem, naquele minuto, religar o sinal?”, questiona.  

O pagamento deveria ter sido feito via pix para uma empresa de crédito, cuja chave é seu CNPJ, com posterior envio do comprovante “para agilizar a compensaçaõ da baixa”. A imagem da situação cadastral da empresa chegou a ser enviada pelo WhatsApp, durante a conversa, como mais uma tentativa de transmitir segurança. O pagamento não foi feito pelo cidadão.  

A reportagem de O Regional confirmou que a empresa de recuperação de crédito que teve o nome exposto durante a conversa pelo aplicativo de mensagens tem CNPJ ativo e endereço na cidade de Guarulhos. As ligações feitas para o telefone do cadastro não completaram.  

O QUE DIZ A CLARO  

A empresa Claro foi questionada por O Regional sobre o contato feito com o cliente de Catanduva via WhatsApp e se, ao tratar-se de um golpe, que providências seriam tomadas. Outro ponto levantado nos questionamentos foi o suposto vazamento de dados pessoais. 

Em resposta, a Claro afirmou que “não realiza contato para negociação de dívidas por meio de aplicativos de mensagens”, que não há desconto em fatura e reforçou que o domínio oficial da fatura digital enviada por e-mail, que é protegida por senha, é faturadigital@minhaclaro.com.br.   

A empresa afirmou ainda: “Uma onda de golpes tem afetado vários setores de produtos e serviços no Brasil há algum tempo e esse processo se intensificou com a digitalização impulsionada pela pandemia. O fenômeno não é recente e atinge setores diversos.” 

Ainda, orientou cuidado com o compartilhamento de informações pessoais, conteúdos e transações feitos por meio de sites de compras e aplicativos de origem duvidosa. “Ações como essas podem abastecer grupos criminosos com dados reais.”  

A empresa não falou sobre vazamento de dados e a reativação do sinal, mas recomendou que os clientes utilizem somente seus canais oficiais. “A Claro permanece atenta a este cenário e vem tomando providências para prevenir e combater fraudes que possam atingir seus clientes."