Novo Enem poderá exigir reformulação nas escolas para preparar alunos
Formato prevê dedicação exclusiva dos estudantes para áreas específicas de conhecimento no segundo dia do exame
Fotos: ARQUIVO/COLÉGIO SÃO MATEUS - Alunos do Ensino Médio participam de aulas especiais preparatórias para o Enem
Por Guilherme Gandini | 19 de junho, 2022
 

Com Agência Brasil 

 

O novo formato do Enem - Exame Nacional do Ensino Médio, anunciado oficialmente em março, agradou a especialistas em educação, mas também alertou professores e coordenadores para eventual necessidade de reestruturação do planejamento escolar, que inclui o plano pedagógico, a organização das aulas, a estruturação de atividades escolares e projetos extracurriculares, além das novidades inauguradas a partir do Novo Ensino Médio (NEM).  

Conforme descrito pela Agência Brasil, o Ministério da Educação alterou padrões de avaliação do Enem, que passará a ser composto por duas provas. O modelo atual com dois dias de aplicação deve ser mantido e, em uma das datas, os participantes responderão a questões da parte comum, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Farão também a prova de redação.   

A segunda etapa será voltada para a formação específica que os estudantes receberão no Ensino Médio. Na inscrição, os candidatos escolherão entre questões de linguagens, ciências humanas e sociais aplicadas; matemática, ciências da natureza e suas tecnologias; matemática, ciências humanas e sociais aplicadas; ou ciências da natureza, ciências humanas e sociais aplicadas.  

As universidades vão decidir quais áreas serão cobradas para ingressar em cada um dos cursos ofertados. Dessa forma, um estudante que deseja cursar, por exemplo, matemática no Ensino Superior deverá escolher as questões cobradas para ingressar nesse curso.  

O Enem passa por mudanças justamente para adequar-se ao NEM, modelo que começou a ser aplicado este ano em todo o país. Nos novos currículos escolares, parte das aulas é comum a todos os estudantes e direcionada pela BNCC. Quanto às demais, é o aluno que opta entre os itinerários formativos oferecidos por área, por uma formação técnica e profissional.  

Algumas escolas anteciparam as mudanças no Ensino Médio, com intenção que ela fosse mais gradual, caso do Colégio São Mateus, em Catanduva. “Adotamos o Projeto de Vida, que é importante porque eles começam a ter essa formação, entendimento, qual meu projeto de vida, onde quero chegar. O jovem tem imaturidade, então essa prática é justamente isso: ter uma formação mais realista, conhecimento prático do que ele vai fazer, a gente vai trabalhando com uma escolha consciente com o jovem”, expõe a vice-diretora Marcela da Silva Halley Araújo.  

Segundo a educadora, hoje há as disciplinas obrigatórias e os itinerários formativos em que os alunos podem fazer as escolhas. “Não é um caminho irreversível como muitos acharam. Vou escolher humanas, então não vou ter biológicas, não é isso. A Formação Geral Básica continua, o que houve são alterações de horas, mas o conteúdo básico foi preservado, tendo liberdade de escolha, experimentação, vivência para a prática, complementando o currículo básico.”  

Ela diz que o aprendizado se tornou mais voltado à prática: “Dentro da matemática, eles veem muitos cálculos e fórmulas, aí vão para a prática com isso, mercado financeiro, bolsa de valores, começam a ver essa funcionalidade do conteúdo. Isso dá significado para o jovem, dá uma direção, permite perceber se gosta ou não gosta. É como se fosse um test drive”, explica.  

Outra característica forte do Novo Enem, comenta a especialista, é a interdisciplinaridade, que se tornou mais concreta no NEM. “Antigamente, falava-se muito da interdisciplinaridade. Colocávamos seminários, trabalhos, simulações da realidade para ter a interdisciplinaridade. Hoje na execução dos itinerários e projetos realistas, as disciplinas já se cruzam naturalmente.”  

As mudanças no Enem, diz Marcela, já vêm ocorrendo – apesar do Novo Enem estar previsto somente para 2024. “O Enem é muito interpretativo. Ele era mais conteudista, com perguntas diretas, agora não, ele vem tendo esse perfil mais interpretativo, interdisciplinar, uma questão muitas vezes considerada de física abrange outras disciplinas, traz atualidades – o aluno tem que estar conectado com o mundo, na velocidade que as coisas vêm acontecendo.”  

Ela diz também que os famosos aulões para a segunda fase dos grandes vestibulares deverão cair em desuso. “Porque essas habilidades estão sendo trabalhadas durante o Ensino Médio. Quando o aluno vai para a segunda fase do vestibular, que é específica, assim como os itinerários, ele já estará preparado para o que vai encontrar”, justifica.  

FORMAR CIDADÃOS  

O Ensino Médio tradicional foca o vestibular, o acesso à universidade. Mas isso começa a mudar. “A gente tem que entender que nossa educação está formando um cidadão. Há anos o professor de Ensino Médio ou cursinho tinha meta, tinha que atingir o objetivo do vestibular, e hoje a gente entende como uma formação mais integral, não adianta o aluno sair pronto para uma faculdade, ele tem que sair pronto para encarar a vida, o futuro, a realidade”, salienta Marcela.  

Neste sentido, ganha força a visão favorável ao Ensino Técnico. “Existia esse conceito de que só será alguém na vida se tiver faculdade, é lógico que o estudo leva além, mas o jovem tem oportunidade de escolha e é possível ter um estudo técnico e realizar a atividade que você se sente feliz, além de descontruir a imagem de que se é técnico não dá dinheiro, pelo contrário.”   

A educadora frisa que é preciso buscar satisfação pessoal. “Temos usinas, a Cocam e outras empresas que muitas vezes não têm mão-de-obra qualificada, então a gente tem que pensar que o adolescente tem essa escolha. A gente tem que perceber o perfil do aluno e em que área ele vai ser feliz. A gente só consegue ter sucesso com felicidade. Se eu encaro meu trabalho como obrigatório, não vou avançar, vou fazer só o obrigatório e o sucesso está no além”. 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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