Chapeuzinho Vermelho é o conto infantil mais amado de todos os tempos – em todo planeta –, revelou pesquisa recente com crianças e adultos. A história completa 1.000 anos em 2023, desde sua primeira versão conhecida, publicada em 1023 pelo diácono e escritor belga Egbert de Liège, sob o título A menina poupada pelos lobos. Depois, o francês Charles Perrault tornou o conto mais popular com sua versão de 1697. Ela atravessou o mundo, entre muitas outras versões que surgiram antes e depois.
No entanto, foram os Irmãos Grimm, em 1812, que publicaram a versão mais conhecida e quase definitiva de Chapeuzinho, a mais próxima do que conhecemos hoje. Diversas versões continuaram a brotar por todo o mundo, tamanho o fascínio pela personagem. Seja nos livros, palcos, cinemas, animações, a Chapeuzinho Vermelho continua encantando e fascinando gerações.
O que essa história tem de cativante é que ela é tão atual quanto na Idade Média, quando as avós e as mães a contavam para suas netas e filhas com o intuito de alertá-las dos perigos da floresta.
Baseada nessa visão, a Cia da Casa Amarela, de Catanduva, trouxe este ano para crianças, jovens e adultos a sua própria versão do conto de 1.000 anos, “Pela estrada afora...”, apresentando a menina Rubra, Chapeuzinho Vermelho, em pleno século XXI, atualizada com o mundo atual.
Contudo, apesar de estar antenada com o mundo digital, ela ama Bossa Nova. Devoradora de livros, não abandona seu celular. Vive com a mãe. Não conhece o pai. Ama sua avó. Pela estrada afora encontra o Lobo, o mundo repressor que amedronta as meninas, as mulheres, os frágeis. O que o Lobo não sabe é que ela é mesmo uma menina do seu tempo – empoderada, ainda que ame o medieval.
A estreia do espetáculo aconteceu em março, por ocasião do Dia Mundial do Teatro para a Infância e Juventude, comemorado anualmente pela Cia da Casa Amarela. Foram cinco apresentações para escolas e projetos sociais de Catanduva. Depois, a peça foi apresentada em cidades da região e, no último final de semana, no Auditório Cláudio Santoro, em Campos do Jordão/SP, onde ocorre o tradicional Festival de Inverno que recebe, anualmente, orquestras e músicos do mundo todo.
Segundo a atriz Drika Vieira, o público fica "profundamente mexido com a montagem porque depara-se com a história já conhecida, porém revisitada e atualizada para nossa realidade, que atinge diretamente as crianças e os adolescentes de 2023". Isso porque a versão da Cia da Casa Amarela provoca um debate mais lúcido sobre a distração causada pelo uso do celular, por exemplo.
"Todos nós, crianças, jovens e adultos, estamos muito distraídos e sem foco com o excessivo uso das redes sociais e não podemos nos esquecer que, desde a antiguidade o conselho das mães para seus filhos é: não se distraia no caminho, não converse com estranhos", complementa Drika.
Nas apresentações realizadas com o público escolar, educadores revelaram a importância da montagem para nossos dias, com tantos perigos, violência, agressão e assédio, bem como a necessidade de orientar os filhos e os alunos para esse momento tão grave que preocupa os pais.
“A reação dos estudantes, crianças e jovens foi muito tocante porque eles se divertiram, riram, sentiram medo, viveram o suspense – embora todos já conhecessem a história – até o momento em que nós, como dramaturgos e diretores, fizemos uma proposta inesperada: o final da peça é uma decisão de cada espectador e isso causa um estranhamento na plateia. Todos esperam um encerramento clássico e se surpreendem com nossa encenação, o que leva ao sentimento final que é o de emoção e de profunda reflexão. Por isso a importância de pais acompanharem seus filhos na apresentação, para pensarem e conversarem sobre o que assistirem", recomenda o ator Carlinhos Rodrigues.
ONDE ASSISTIR
A peça “Pela estrada afora...” será apresentada no Sesc Catanduva neste domingo, dia 28 de maio, às 10h30, com entrada gratuita. Aberto ao público em geral, crianças, jovens e adultos. A produção tem dramaturgia e encenação de Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues, da Cia da Casa Amarela.
Companhia é referência no teatro infantojuvenil
A Cia da Casa Amarela é uma referência dramatúrgica no teatro infanto-juvenil no Brasil e no exterior. A ousadia na montagem do espetáculo Pela estrada afora... só reforça o que começou a ser construído em 1995, ou seja, há 28 anos e fez da companhia catanduvense uma das mais premiadas do estado de São Paulo, única a conquistar o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) na capital paulista por três vezes e mais de 100 premiações pelo país e apresentações no exterior.
"Produzir o ‘teatrinho’, o ‘infantilzinho’, nunca foi nosso objetivo. Estamos conectados com o que acontece há décadas na Europa ou em outros países que também são referências no teatro para crianças, seja na América do Norte, na Ásia ou na África – onde se produz talvez o teatro mais corajoso para a infância em todo o mundo – e não podemos nos furtar de oferecer ao público uma dramaturgia que provoca e faz a plateia se olhar e sair do teatro com reflexões e questionamentos. No entanto, sempre de forma poética e sensível", complementa Carlinhos.
Autor