Marcos Pontes: "Nunca foi dada a oportunidade para cientistas transformarem trabalho deles em coisas práticas"
Astronauta relembrou viagem ao espaço e relatou avanços à frente do Ministério da Ciência
Foto: O REGIONAL - Marcos Pontes concedeu entrevista à rádio Vox FM e O Regional
Por Guilherme Gandini | 07 de maio, 2022
 

O ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações do governo Bolsonaro, austronauta Marcos Pontes, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal O Regional e rádio Vox FM e exaltou a competência dos cientistas brasileiros. “Temos cientistas magníficos no Brasil, nunca foi dada a oportunidade de transformar o trabalho deles em coisas práticas”, afirmou.  

A afirmação foi feita em meio aos relatos dos avanços conseguidos em seu ministério durante a pandemia da Covid-19. “Eu achava que o Brasil era um grande produtor de vacinas”, confidenciou, explicando na sequência que o país não produzia vacinas com tecnologia própria. 

“Agora temos vacinas com desenvolvimento nacional. Estamos testando uma vacina de RNA 3ª geração, tem mais 15 outras com tecnologia nacional. Não só pra Covid. Agora poderemos fazer no Brasil vacina pra dengue, zika, chikungunya, febre amarela, leishmaniose, malária, o que você quiser. Isso é só um exemplo do que a Ciência e Tecnologia é capaz de fazer no país.”  

Ele também afirmou que o país está construindo um laboratório de nível de biosegurança 4, que vai ser o único da América Latina pra tratar vírus tipo o Ebola. “O Brasil está muito mais protegido para as próximas pandemias, conectado no Sirius, que vai permitir que os cientistas vejam a nível de proteína, com isso a gente vai ter remédios e vacinas muito mais rápido.”  

Pré-candidato a deputado federal pelo PL, Pontes diz que deixou o Ministério da Ciência organizado e que, agora, precisa atuar no Legislativo para solucionar gargalos.   

“Por mais boa vontade que um senador tenha para proteger o setor de ciência, tecnologia e educação, porque não dá pra descolar essas coisas, se ele não tiver a argumentação prática, técnica, não vai conseguir ir pra frente. Tenho um Ministério organizado, com gargalos na parte de regulação e legislação que eu tenho que ir lá no Congresso para poder acertar isso”, disse.  

Os problemas envolvem, inclusive, a área de pessoal. O objetivo do ex-ministro é viabilizar concursos públicos para “termos mais cientistas e pesquisadores na área pública, e também na área de educação preparar melhor as crianças para esse setor”.   

Comparando os riscos como piloto de combate da Força Aérea Brasileira e da vida política, Pontes afirmou que nos dois casos é preciso agir com competência e honestidade.   

“Trabalhei 30 anos da minha vida fazendo investigação e prevenção de acidentes aéreos espaciais, aí você aprende muito e vê o seguinte.  O que faz com que um piloto tenha mais segurança no voo? Conhecimento, habilitade, atitude/competência, foco na segurança de voo. Transfere isso para a área política, o que faz a diferença é o conhecimento do que você está fazendo, e isso precisamos no Brasil, habilidade em fazer as coisas na maneira correta, e atitude de fazer com ética, honestidade, integraidade, com valores e pensamento no país.”  

A VIAGEM  

Nascido em Bauru, interior de São Paulo, Marcos Pontes teve infância simples, vivendo em uma casa de madeira e rua de terra. Desde criança sonhava em ser piloto e ia de bicicleta ao aeroclube da cidade para ficar mais perto dos aviões. Com dedicação, foi aprovado na Academia da Força Aérea, a AFA e, anos mais tarde, tornou-se piloto de combate da Força Aérea Brasileira para então se tornar piloto de testes, o que possibilitou que voasse em quase todas as aeronaves da FAB. Depois, passou 20 anos na Nasa.  

Em 2006, Marcos Pontes foi o primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço. Ele ficou na Estação Espacial Internacional e levou oito experimentos científicos do país e mais 72 de outros países para execução em ambiente de microgravidade.   

“A primeira coisa, ao chegar lá e olhar para a Terra, foi lembrar dos olhos azuis da minha mãe, lá atrás em Bauru, falando “você consegue ser tudo que você quiser na vida, desde que você estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você” e ela estava certa”, contou ele durante a entrevista.  

Confessou, também, que a experiência mudou sua visão da vida. “Eu como piloto de combate, de testes, astronauta, engenheiro, muito pragmático, muito número, trabalho com resultados. Depois das missões comecei a ver muito as pessoas, elas são a parte mais importante da vida da gente.”   

A POLÍTICA  

Depois da viagem espacial, Marcos Pontes atuou, de 2011 a 2018, como embaixador da Organização da ONU para o Desenvolvimento Industrial. Nas eleições de 2018, foi eleito segundo suplente de senador e, em 31 de outubro de 2018, aceitou o convite do presidente Bolsonaro para assumir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações em seu governo, que se iniciava.  

“Em 2018, fui entregar um livro para o comandante da Aeronáutica, fui ao Congresso e encontro o então deputado Jair Bolsonaro e ele falou: “vou ser candidato a presidente”. Ele queria que eu fosse candidato a alguma coisa em São Paulo, mas falei que minha vida inteira foi na área de ciência e tecnologia. Ele olhou e disse: “Taí, nunca ninguém prestou atenção em você como cientista, se eu for prsidente você vai ser o ministro. Ele cumpriu a promessa.” 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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