Mães denunciam acidentes envolvendo crianças autistas nas escolas
Dois alunos sofreram fraturas e um deles precisará passar por cirurgia; polêmica envolve a função do cuidador
Foto: O Regional - Criticada por falta de cuidadores, Secretaria de Educação garante que crianças tinham suporte
Por Guilherme Gandini | 16 de junho, 2024

O Grupo de Mães TEApoio, de Catanduva, que reúne mães ativistas que lutam pelos direitos da pessoa com TEA - Transtorno do Espectro Autista, divulgou manifesto nas redes sociais para denunciar acidentes ocorridos com duas crianças autistas em escolas municipais de Catanduva. Os fatos aconteceram na Idette Couto (Parque Glória) e no Santos Aguiar (Amêndola).

Conforme o relato, as duas crianças sofreram fraturas durante o período letivo e, nos dois casos, elas estavam sem cuidador. “Sem uma explicação por parte da escola. Crianças que não têm sensibilidade a dor, ninguém viu, ninguém sabe, não tem imagens, ninguém paga a conta da negligência a não ser a própria criança que deveria ser protegida dentro da escola”, diz o texto.

A líder do Grupo de Mães TEApoio, Claudia Vaz de Lima, afirma que entre as quase 200 mães que são acompanhadas pelo projeto, há muitos relatos da falta de cuidadores nas escolas. Somente este ano, foram quatro acidentes físicos relatados por mães do grupo liderado por ela.

“Quando a gente vai para a mídia não é sensacionalismo. O nosso trabalho é sério. Só que a gente vem falando faz tempo, pedindo faz tempo, gritando faz tempo. A gente procura um, outro e não está tendo essa devolutiva, esse olhar. O machucar físico da criança é a ponta do iceberg, mas o que as crianças passam na escola? O isolamento, ser excluída, ser deixada de lado”, diz.

Ela lembra que as crianças são autistas, mas entendem o que está acontecendo em torno delas. “São crianças muitas vezes não-verbais ou até verbais, mas que não sabem explicar para as mães tudo o que acontece. Então, lá na frente, como vai ser isso, quais serão os danos psicológicos?”

A possibilidade de as crianças autistas se machucarem nas escolas, tal como todas as outras, segundo Cláudia, é compreendido pelas mães atípicas, mas o acompanhamento de um cuidador esclareceria os fatos. “Tem que ter alguém pra falar, tem que ter explicação. Como que agora a mãe fica? Ela não sabe nem falar para o médico. Ninguém veio procurá-la”, lamenta.

Num dos casos, o gesso foi colocado muito apertado e a mãe teria perdido o emprego devido à necessidade de cuidar do filho, que precisou ter o gesso refeito. No outro, a criança precisará passar por cirurgia e a família precisará de ajuda. “Essa criança está em casa, com o braço quebrado, cadê alguém para agilizar essa consulta, uma assistência para falar com ela?”

No comunicado veiculado na internet, o TEApoio diz que a política de contratação de cuidadores é ineficiente, que os salários são baixos para a função e que falta capacitação para lidar com crianças neurodivergentes. “O nosso grito é de ajuda para a sociedade inteira, para quem tem esse olhar humanizado e empatia”, completa Cláudia, que também tem filho em escola pública.

OUTRO LADO

A Secretaria Municipal de Educação informou, em nota, que a Rede Municipal tem o compromisso de colocar cuidadores para as crianças da Educação Especial que de fato precisam desse tipo de auxílio. E garantiu que os dois alunos que se machucaram são acompanhados.

“Nem todas as crianças desse público precisam deste apoio, que é destinado aos cuidados com alimentação, higiene e locomoção. Um mesmo cuidador pode ser compartilhado com até três crianças. No caso dessas crianças que se acidentaram estavam com cuidador compartilhado em apenas um período e exclusivo em outro, pois, tratam-se de crianças que estão matriculadas em tempo integral. Todas as crianças matriculadas na Rede Municipal, inclusive as da Educação Especial, participam de variadas atividades, e infelizmente, em atividade escolar se machucaram. Lamentamos o ocorrido e nos colocamos à disposição para dar o suporte à família.”

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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