Júri popular condena homem por matar artista circense em Catanduva
Kauany de Moraes foi assassinada pelo namorado em novembro de 2021, quando o Circo Encantado fazia temporada na cidade
Foto: Arquivo Pessoal - Kauany de Moraes foi embora de casa aos 17 anos para viver sonho circense
Por Guilherme Gandini | 30 de agosto, 2023

Quando o Circo Encantado passou por Catanduva em novembro de 2021, um crime chocou a população. André Luís Coutinho, na época com 18 anos, assassinou com golpes de tesoura sua namorada, a artista circense Kauany de Moraes, 32, no trailer que o casal dividia. Ele foi preso em flagrante ao se entregar à polícia horas depois do crime, no dia 6 daquele mês.

Em júri popular realizado na semana passada, André foi condenado a 14 anos de prisão pelo assassinato. O conselho de sentença aceitou a tese de homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Conforme a denúncia do Ministério Público, na data do homicídio, Kauany teria tentado impedir André de comprar mais drogas, quando ele atacou a companheira – foram pelo menos sete tesouradas em várias partes do corpo, sendo a fatal na aorta.

Natural de Corumbá/MS, Kauany apresentava números acrobáticos e de força capilar e era uma das estrelas do circo há cerca de 8 anos. Já o jovem trabalhava nos bastidores como montador e teria sido contratado a pedido da namorada. Eles estavam juntos há apenas três meses.

Depois da morte da artista, a família de Kauany precisou organizar campanha de arrecadação e chegou a fazer empréstimo para custear o translado do corpo. O sepultamento ocorreu no Cemitério Santa Cruz, em Corumbá.

SONHO CIRCENSE

Leiliane Moraes Pereira, irmã de Kauany, declarou na época ao jornal Diário Corumbaense que ela estava muito feliz com o trabalho no circo. “Ela se sentia realizada, pois sempre sonhou em estar nesse mundo da arte circense. Desde a época de escola, era bem participativa em desfiles, concurso, apresentações. Simplesmente estava num momento bastante completo de sua vida”.

Kauany foi embora com o circo quando tinha 17 anos. Desde então, apaixonada pelo trabalho, viajava pelo Brasil, mas mantinha contato diário com a família. “Quando ela decidiu ir embora, foi muito difícil, principalmente para a minha mãe, aceitamos, pois esse era o sonho dela. E em toda apresentação que fazia, com certeza, estava feliz, realizada e muito satisfeita”, mencionou.

DESABAFO

Depois da condenação do assassino de sua irmã, Leiliane desabafou nas redes sociais, afirmando que a justiça foi feita, mas que a dor permanece. “O homem que cometeu o terrível e cruel ato que tirou minha querida irmã de mim foi condenado a 14 anos. Eu sei que essa sentença não trará a vida dela de volta, e essa dor que carrego no peito continuará a ecoar, implacável.”

A jovem confidenciou que a saudade é contínua. “A saudade que sinto não pode ser traduzida em palavras. Cada memória, cada riso compartilhado, tudo agora é uma saudade dolorida que me persegue a cada momento. Hoje a justiça foi feita, mas mesmo assim, meu coração continua partido, e não tenho certeza se algum dia será possível encontrar completa paz”, escreveu.

Advogados lamentam falta de qualificação como feminicídio

O vice-presidente do Conselho de Direito Criminal da OAB de Catanduva, André Monteleone, disse lamentar que o Ministério Público não tenha apresentado a denúncia como feminicídio, impedindo que o júri analisasse a qualificadora – podendo inclusive elevar o tempo de prisão. Ele relembrou que essa discussão surgiu no início do caso pelo fato de Kauany ser transexual.

“O questionamento que faço é por qual motivo o Ministério Público, que é titular da ação, não ofereceu a denúncia como feminicídio? O fato de ela ser transexual não impede a denúncia cem a qualificadora. Os jurados deveriam ter tido a chance de decidir se é um crime de feminicídio ou não, pois esse é um debate a ser feito pela sociedade ao exercer sua cidadania no júri.”

A advogada Luísa Helena Marques de Fazio, presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, foi na mesma linha. “Esse debate deveria ter sido abordado no júri. Ela foi inclusive referida com nome masculino no julgamento”, conta ela, que chegou a ser procurada pela família da vítima, que temia pela impunidade.

Autor

Guilherme Gandini
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