A primeira jovem encaminhada à universidade pela Arcos - Associação e Rede de Cooperação Social formou-se este mês no curso de licenciatura de Educação Física, na Unifipa. A conquista pessoal foi alcançada por Franciéli Bruna Silva, 23 anos, que é casada, mãe de Samuel, e passou a infância e adolescência em um abrigo de Tabapuã. Atualmente, ela mora em Novo Horizonte.
“Com 6 anos de idade fui morar no abrigo em Tabapuã e vivi por lá até meus 18 anos, quando completei maioridade e fui morar com a minha mãe. Como cresci no abrigo, tive muitos ensinamentos, sempre fui orientada a trabalhar pra ter meu próprio dinheiro e nunca deixar de estudar pois o conhecimento é única coisa que temos para o resto de nossas vidas”, diz ela.
O encaminhamento de Franciéli ao projeto de apoio ao estudo desenvolvido pelo juiz Wagner Ramos de Quadros, presidente da Arcos, foi feito pela promotora de Justiça na Comarca de Tabapuã, Bruna Maria Buck Muniz. “Recebi o pedido de indicação do dr. Wagner há alguns anos e, por acompanhar os casos de acolhimento da Comarca, já pensei na Fran”, conta.
Bruna classificou a adolescente como esforçada e educada. “Uma história de vida muito sofrida, ela havia passado anos no acolhimento e deixado a casa por conta da maioridade”, pontuou a promotora. “Sempre ficamos muito apreensivos nesses casos, por ser muito comum que desacolhidos se entreguem à prostituição, ao consumo e tráfico de drogas e à situação de rua.”
Ela diz que, no caso da Fran, a revolucionária oportunidade dada à jovem, jamais ofertada pelos poderes públicos, a transformou em uma mulher de bem e uma inspiração para toda sua família.
Sobre a bolsa, Franciéli lembra que, ao concluir o Ensino Médio e pensar em prestar o Enem, sabia que mesmo com boa nota não conseguiria uma bolsa integral no Ensino Superior – e que levou esse anseio à equipe técnica do abrigo em que viveu e com quem mantinha contato.
“Numa sexta-feira de noite eu recebi a notícia que eu ganharia uma bolsa de estudos, mas que primeiro teria que fazer o vestibular. Afinal, dependia do meu desempenho para poder cursar a faculdade. Consegui entrar na classificação em 13° lugar”, lembra orgulhosa. “Agradeço demais todas as pessoas que me ajudaram na minha trajetória de vida e nos meus estudos.”
Ela afirma que o período da faculdade foi de muito conhecimento, mas bastante difícil, devido à pandemia do coronavírus. “Mas em momento nenhum eu pensei em desistir, acompanhei as aulas e, quando voltamos, os professores nos deram vários suportes para que nosso ensino fosse com a maior qualidade.”
Franciéli afirma que a oportunidade que teve possibilitou que ela seguisse outro caminho. “O projeto dá a oportunidade a jovens, que querem ter um futuro melhor, possam sonhar de novo, pois na maioria das vezes os jovens são obrigados a sair da escola e ir trabalhar sem ter a oportunidade de tentar algo melhor”, analisa, reforçando a importância do estudo.
Ao projetar ao futuro, a jovem diz que pretende dar aulas e ensinar que as pessoas podem conquistar tudo o que sonham. “Meu sonho é ser para meus alunos pelo menos um terço do que meus professores foram pra mim. Professores não apenas ensinam o que está pronto para ser ensinado, mas o modo que o mundo é lá fora e como devemos nos preparar para ele.”
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