Ibam rechaça denúncias e mantém pontuação das redações de concurso da Prefeitura
Professores revisaram dissertações e detectaram erros graves em textos com notas altas
Foto: PREFEITURA DE CATANDUVA - Provas do concurso da Prefeitura foram realizadas no campus do Imes/Fafica
Por Guilherme Gandini | 14 de maio, 2022
 

Um grupo de professores contestou notas atribuídas a redações no Concurso Público 01/2022, da Prefeitura de Catanduva, que destinava vagas a professores de Educação Especial. Eles tiveram acesso aos textos e os revisaram, detectando erros graves mesmo naqueles que receberam notas altas. A denúncia foi veiculada pelo Jornal O Regional, com exclusividade, no início do mês.   

O Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), responsável pela prova, manifestou-se nesta sexta-feira, 13, rechaçando as denúncias e mantendo as pontuações.   

“As provas foram corrigidas de acordo com os critérios previamente estabelecidos no edital do respectivo concurso público e de acordo com as melhores práticas. Nesse sentido, as infundadas alegações em nada afetaram o processo de correção e revisão da pontuação atribuída aos candidatos pela banca responsável ou a lisura do certame que transcorreu em estrito cumprimento aos princípios da legalidade, da vinculação ao edital, da impessoalidade, da moralidade, da probidade e da isonomia”, afirmou o Ibam, em comunicado.  

Conforme a denúncia dos educadores, a prova dissertativa teria excluído candidatos cujas redações estavam “impecáveis”, atribuindo a outras produções textuais notas quase máximas. O Regional teve acesso a algumas dessas redações, já revisadas, revelando desvios discursivos, de coerência e coesão, que, segundo os denunciantes, foram aclamadas com “notas altíssimas”.  

Os professores que revisaram as redações, que também mantêm o anonimato, ponderam que “raramente, o Ibam tem exigido redação em seus processos seletivos e concursos” e relembram que isso ocorreu no concurso de direção e coordenação, de 2018. “São muitas margens interpretativas. Será que há suspeição, pois não se pode atribuir notas altíssimas para candidatos que escreveram, evasivamente, aos regulamentos do edital”, criticam.  

Na prova, os candidatos precisaram elaborar dissertação que abordasse e respondesse a seguinte questão: “uma política que separa alunos com deficiência das escolas regulares acaba por segregá-los ou por protegê-los?”. O texto deveria trazer o ponto de vista e fundamentação. A análise levaria em conta a capacidade argumentativa e o respeito à norma culta da língua.  

Além do problema em si – de redações com erros graves bem avaliadas pela banca examinadora – o próprio vazamento dos textos, possibilitando a revisão por terceiros, chama a atenção no caso. Uma das candidatas que teve sua redação vazada e exposta de maneira anônima nas páginas de O Regional afirmou estar indignada e que sua privacidade teria sido invadida.  

Outra participante do concurso confirmou à reportagem que cada usuário consegue ter acesso apenas à sua prova no site, mediante usuário e senha. Ela também revelou que existe um grupo de whatsapp que reúne professores que prestaram o concurso e que algumas pessoas até divulgaram suas redações, mas negou que o “esquema” de revisão tenha surgido no grupo. 

Sobre isso, o Ibam afirmou que tomará as medidas necessárias. “Esclarecemos que conquanto o regular andamento do certame não tenha sido afetado, estamos avaliando as medidas a serem adotadas para identificação e responsabilização dos envolvidos na divulgação de dados de uso restrito para fins de responsabilização nas esferas cível e criminal.”  

SEM RESPOSTA  

A Secretaria Municipal de Educação foi questionada pela reportagem sobre os fatos denunciados. Na primeira reportagem, no início do mês, a Secretaria de Educação afirmou que encaminhou a questão à Secretaria de Negócios Jurídicos para definir as providências que seriam adotadas. Consultado novamente esta semana sobre as providências, o setor não respondeu.   

Vereadora cobra esclarecimentos sobre correção de redações 

A vereadora Taise Braz (PT) encaminhou requerimento à Prefeitura questionando o concurso público realizado pelo Ibam para vagas de professor de Educação Especial, realizado em 20 de março de 2022. No documento, ela cita a denúncia veiculada pelo Jornal O Regional.  

Segundo Taise, um grupo de professores está contestando as notas atribuídas às redações e candidatos que fizeram a prova procuraram o gabinete da parlamentar com questionamentos sobre a falta de transparência na correção e a falta de credibilidade que isso gerou.  

Taise questionou o prefeito Padre Osvaldo (PSDB) quais os critérios usados na avaliação e quais medidas serão tomadas em virtude dessas acusações. Ela frisou que a denúncia publicada pelo jornal revelava, em anexo, duas redações de notas altíssimas e erros graves de escrita. 

Taise termina o documento indagando sobre como vai ficar o concurso no período de análise das denúncias e qual a previsão de regulamentação. O requerimento foi aprovado pela Câmara na Sessão Ordinária do dia 10 de maio; o Executivo tem, por lei, prazo de 15 dias para responder. 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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