Historiador explica tradições de Natal e como surgiu o teor comercial da data
Dayher Giménez, professor e historiador, fala sobre a origem de hábitos como o de montar árvores e a crença no Papai Noel
Crédito: O Regional - Tradição de montar árvore de Natal, com feita pelo Garden Shopping, vem de séculos atrás
Por Stella Vicente | 25 de dezembro, 2022

O surgimento da crença em tradições natalinas comuns nos dias de hoje, como montar a árvore de Natal e acreditar no Papai Noel, vem de séculos atrás. O historiador e professor Dayher Giménez afirma que há muitas prováveis origens, que misturam o paganismo e o cristianismo.

No que diz respeito à árvore que se tornou símbolo da data comemorativa, é provável que seja uma junção de tradições distintas, mas similares de algum modo. As principais são as romanas e as nórdicas, que se mesclaram durante séculos, resultando na tradição cristã, hoje predominante.

Para Dayher, que também é presbítero da Igreja Presbiteriana de Catanduva, a árvore de Natal atual parece ser uma cristianização da prática germânica de enfeitar árvores em honra às divindades da prosperidade, da fertilidade e das boas colheitas, cujas festas ocorriam próximas ao atual 25 de dezembro.

Com a conversão em massa dos povos europeus, muitas dessas tradições foram incorporadas pelas igrejas, preponderantemente pela tradição protestante no que diz respeito à árvore, inicialmente.

“Dizem, não está devidamente comprovado, que o próprio Martinho Lutero foi o recriador moderno da árvore de Natal. Fato é que, já no século XVII, havia uma divisão religiosa quanto ao seu uso: os católicos montam o presépio; os protestantes, talvez por seu iconoclastismo consciente ou inconsciente, a árvore”, explica.

Ele diz que no ocidente essa prática se consolidou com a adoção do símbolo da árvore pelos ingleses, que por sua vez foram influenciados pela família real, sob reinado da rainha Vitória. “Daí, o costume cruzou o Atlântico, tomando conta primeiro dos Estados Unidos e, depois, de todos os lugares onde sua influência cultural chegou.”

Um destes lugares foi o Brasil, onde, segundo relatos, durante a fase do reinado de Dom Pedro II, muitas embaixadas estrangeiras montaram suas árvores.

Dayher conta que as casas dos embaixadores da Áustria, Alemanha, Reino Unido e Rússia, por exemplo, eram apontadas nos jornais brasileiros como extremamente decoradas se comparadas com a singeleza das tradições locais, de origem ibérica.

“Contudo, creio que a popularização da árvore de Natal no Brasil só foi ocorrer, em larga escala, na segunda metade do século XX, no pós-Segunda Guerra, quando a indústria cultural norte-americana começou a influenciar mais diretamente a população através dos seus filmes”, declara o historiador, que ainda cita a relação da popularização deste símbolo com outro tão conhecido quanto: o Papai Noel.

Natal é a celebração de Jesus

Com relação à figura do Papai Noel, Dayher ressalta que ela é mais antiga em termos de fontes históricas. Seu fundamento está na vida de um santo da Igreja, São Nicolau de Mira. Ele foi um bispo grego, do século IV, conhecido por sua generosidade e caridade. Costumava pagar dívidas alheias, dar esmolas e, mais eventualmente, distribuir presentes às crianças.

Quase um milênio depois, já na Idade Média, era comum os pais presentearem os filhos no dia 5 de dezembro, véspera do Dia de São Nicolau. “Com a Reforma Protestante, nos países que adotaram a tradição dos presentes se alterou do dia 5 para a véspera ou para o Natal mesmo, numa tentativa de dissociar São Nicolau e sua veneração dos presentes”, alega.

Ele lembra que era comum no dia de São Nicolau um velho gordo vestido de vermelho, que é a cor eclesiástica dos bispos, aparecesse dando brinquedos às crianças.

A transformação final foi ocorrer no século XIX, nos Estados Unidos, onde, ao que tudo indica, essas tradições se fundiram para criar o atual Papai Noel, com sua morada na Lapônia ou no Polo Norte, acompanhado de renas e duendes artesãos.

Segundo Dayher, a afirmação dessa crença no mundo se deu pela indústria cultural norte-americana e, consequentemente, do comércio proveniente desta data.

“O Natal como um todo foi deixando de ser a comemoração de um aniversário, o de Cristo, no qual já não se acreditava tanto quanto antes. Acabou se convertendo numa data de confraternização laica. Muita gente já não diz mais ‘Feliz Natal’, mas diz ‘Boas Festas’. E toda festa precisa ter seus presentes. Tudo é comprado, tudo é vendido, tudo tem etiqueta e preço”, menciona.

Apesar disso, a data comemorativa do Natal é importante para a sociedade, pois é sinônimo de tradição, continuidades que tendem a se repetir e às quais são atribuídas significado, importância e fundamentos transcendentais.

Dayher, porém, questiona qual Natal deve ser mantido: o baseado no poder de compra ou aquele que remete à Estrela de Belém, do bebê Jesus na manjedoura e dos exemplos de santidade de São Nicolau?

“A vida em sociedade precisa ser vivida pela comemoração sincera daquele que, morrendo na cruz, primeiro teve que nascer como qualquer um de nós. A boa tradição, que precisa ser resgatada, é a do ‘bate o sino pequenino, sino de Belém. Já nasceu Deus-menino, para o nosso bem’”, afirma.

Autor

Stella Vicente
É repórter de O Regional.

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