A votação do novo Plano de Recuperação Judicial (RJ) apresentado pelo Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), da família Ruete de Oliveira, foi adiada para o dia 21 de junho, às 14 horas, com início das inscrições dos participantes às 10 horas da mesma data. A informação é do presidente do Sindicato da Alimentação de Catanduva e Região (Sinal), Marcelo dos Santos Araújo.
“Na assembleia do dia 16 de maio, pegando todos os participantes de surpresa, chegou mais um pedido de suspensão da atividade, com reagendamento para 21 de junho. Com essa informação, não houve qualquer debate sobre o plano de recuperação”, relatou.
Houve tempo para a aprovação de apenas uma alteração: quem iria receber R$ 15 mil, 45 dias após a homologação do plano, receberá R$ 20 mil. “Só foi essa proposta alterada, que está nos autos do processo. Em sequência, antes de qualquer debate, foi requerida a suspensão.”
O Sindicato da Alimentação defende os trabalhadores da indústria da usina Virgolino de Oliveira situada em Ariranha – a popular Usina Catanduva, mas a situação é a mesma para todos os segmentos, como trabalhadores rurais e motoristas. O Grupo VO ainda tem outras três unidades de produção, em Itapira, José Bonifácio e Monções, todas englobadas na recuperação judicial.
”A decisão da Assembleia dos Credores vale para todos”, reforça Araújo. “Está todo mundo no mesmo barco, vamos aguardar o dia 21 para ver se é aprovado o novo plano proposto”.
Com dívidas que chegam à casa de R$ 3 bilhões, a empresa entrou com pedido de RJ em 28 de maio de 2021, sendo aprovado em 8 de junho do mesmo ano. O processo segue em curso na Vara Única da Comarca de Santa Adélia, tendo como administradora judicial nomeada pelo Juízo da Recuperação a R4C Administração Judicial.
De acordo com declaração da empresa ao JornalCana, a apresentação do novo plano é indispensável para assegurar o sucesso da RJ e o soerguimento do GVO.
“Diante da existência de dificuldade da companhia em cumprir com suas atuais obrigações financeiras, o novo plano prevê a realização de medidas que objetivam o reperfilamento do endividamento do grupo; a geração de fluxo de caixa operacional necessário ao pagamento da dívida e a geração de recursos necessários para a continuidade das atividades das recuperandas, devidamente dimensionadas para a nova realidade do Grupo Virgolino de Oliveira”.
Segundo o documento a ser homologado, a atual situação do GVO decorre não de um único fator, mas de um conjunto de fatores responsáveis pelo desencadeamento de uma grave crise que se construiu pouco a pouco, durante anos de atividade empresarial.
Entre elas, cita os contínuos prejuízos há mais cinco anos; constantes bloqueios judiciais em contas correntes das recuperandas; cenário de incerteza econômica que se projeta para os próximos anos, em razão dos efeitos negativos da pandemia da Covid-19 e diminuição da matéria-prima disponível para a moagem, em razão da dificuldade em manter parceiros diante da dificuldade financeira experimentada pelo GVO, que dificultou a aquisição da cana.
Diante deste cenário, as usinas do grupo não irão moer nesta safra, o que ocasionou a dispensa da maioria dos funcionários na sexta-feira, dia 13. Segundo a empresa, as dispensas foram feitas de acordo com o novo PRJ.
HISTÓRIA
A Companhia Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool foi fundada em 1921, quando sua primeira unidade iniciou as atividades, a Usina Nossa Senhora Aparecida, em Itapira. No ano de 1970, o grupo adquiriu a Usina Catanduva. Em 2004, começou a construção de sua terceira unidade, localizada na cidade de José Bonifácio, que entrou em operação em 2006. No mesmo ano, a empresa iniciou as obras da quarta unidade, em Monções, que passou a moer em 2008.
Plano prevê reestruturação e venda de usinas como UPIs
Ao JornalCana, a empresa detalhou o novo plano, que busca solução mais eficiente para a equalização e liquidação de parte substancial do passivo do grupo. Ele prevê a reestruturação do passivo das recuperandas e sua reorganização societária; a distribuição aos credores de parte dos resultados líquidos auferidos pelas empresas ao longo do exercício de suas atividades; a possibilidade de captação de novos recursos para a implementação da retomada operacional; e a preservação de investimentos essenciais para a manutenção das atividades das empresas.
Além da alienação de bens, organizados ou não em unidades produtivas isoladas (UPIs). Neste caso, serão constituídas a UPI Usina José Bonifácio; a UPI Usina Catanduva; UPI Usina Itapira; UPI Usina Monções; a UPI Terras – Parte I; a UPI Terras – Parte II; a UPI Imóveis; a UPI Terras – Parte III e a UPI Créditos IAA.
“O Grupo Virgolino de Oliveira, agindo com transparência e boa-fé, visando à celeridade dos trâmites necessários para a implementação da alienação de cada UPI, à maximização do valor dos ativos e à redução de custos no procedimento, entende por bem dispensar a realização de avaliação judicial, com o que, desde já, os credores concordam mediante Aprovação do Plano”, esclarece a companhia.
Cada UPI será alienada mediante a realização de processo competitivo específico, na modalidade de propostas fechadas. Após 120 dias corridos contados da homologação do plano, o GVO deverá contratar corretores ou quaisquer outros assessores com expertise na área de alienação de usinas e imóveis rurais para o auxiliar na alienação das UPIs.
Segundo a empresa, com a homologação do plano, os créditos serão novados, ou seja, surgirá uma nova dívida do devedor em relação ao credor, com o desaparecimento da original.
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