Quando falamos de acompanhamento de pessoas em fase senescente ou com demências, o foco costuma recair sobre o idoso. Mas há uma “outra metade” da equação que requer atenção: o cuidador. E essa é uma preocupação central do geriatra Eduardo Marques.
“Por trás de cada idoso que recebe cuidado há um corpo, um cérebro e um coração e se esse cuidador não estiver saudável, o cuidado também se fragiliza”, afirma o médico, que soma quase duas décadas de prática clínica com educação em geriatria.
Ao longo de seus quase 20 anos de experiência, Marques observou que o cuidador muitas vezes assume a rotina de apoio com empenho total, porém negligencia o próprio bem-estar e isso tem consequências: desgaste físico, emocional e mental que acabam afetando o idoso assistido.
Estudos recentes mostram que o papel de cuidador familiar não é apenas nobre, mas também exige um nível de esforço que eleva os riscos de adoecimento. Dados da Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicam que, em 2021 e 2022, 13 dos 19 indicadores de saúde avaliados estavam piores entre cuidadores do que entre não-cuidadores, incluindo prevalência maior de depressão, doenças crônicas e pior autoavaliação de saúde.
Também segundo a agência, cerca de 1 em cada 5 adultos nos EUA atuam como cuidadores informais, o que evidencia o alcance desse papel para a sociedade.
Para Eduardo Marques, a prática geriátrica se estende para além da “consulta do idoso”. “Trabalho para que o idoso preserve autonomia, mas também para que o cuidador seja orientado, suportado e respeitado como parte desse processo”, explica.
Ele ressalta que medidas simples — como pausas regulares, suporte profissional, divisão de responsabilidades e educação sobre a doença assistida, podem transformar o cenário de desgaste em cenário de cuidado sustentável.
Quando o cuidador está saudável, o cuidado floresce
Um cuidador descansado, bem informado e apoiado será mais paciente, assertivo e presente, elementos que, segundo o médico Eduardo Marques, fazem diferença no processo terapêutico, na qualidade de vida do idoso e no prolongamento da autonomia.
“Cuidar não é apenas dar remédio ou suportar resistência, é garantir que quem está proporcionando esse cuidado também tenha suporte, saúde e dignidade para exercer essa missão”, reforça.
O especialista sugere que famílias, profissionais de saúde e gestores incluam o cuidador no plano de cuidados, com avaliações periódicas de saúde do cuidador; educação continuada sobre as demandas do idoso; rede de apoio, formal e informal, para dividir tarefas; e reconhecimento da própria limitação, com busca de ajuda terapêutica ou profissional.
“Quando o cuidador se torna paciente, perdemos meio caminho. A geriatria precisa se estender também a quem cuida”, finaliza o profissional.
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