Texto também por Stella Vicente
A estudante catanduvense Rafaela Buainain Luiz, de 21 anos, foi aprovada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um dos vestibulares mais concorridos de todo o país. O vestibular do ITA disponibiliza 150 vagas no total, sendo 114 para carreira militar e 36 para quem não escolheu essa opção, e em 2023 foram 9.075 inscritos concorrendo.
Filha da professora Kelly Cristina Buainain Fonseca Luiz e do gerente de captação de recursos da Fundação Padre Albino, Julio César Luiz, Rafaela conta que até chegar ao 2º ano do Ensino Médio, seu foco era o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a Fuvest, mas ela decidiu que gostaria de fazer Engenharia Aeroespacial, porque gostava do tema satélites e foguetes.
Após a sugestão de um amigo de que ela deveria tentar passar no ITA por ser estudiosa, Rafaela começou a se questionar. “Eu lembro de pensar que o ITA eram aquelas questões insuportáveis da apostila que ninguém conseguia fazer de física e matemática. E eu falei ‘o ITA? Você está louco? É coisa de gênio’. Só que eu fui pesquisar depois sobre o ITA em casa e eu enfiei na minha cabeça que eu queria fazer ITA, porque oferecia carreira militar, tinha engenharia aeroespacial e era em São José dos Campos, que é relativamente perto de Catanduva. Então acabou sendo muito favorável”, diz.
Ainda assim, ela enfrentou a descrença de muitas pessoas, que acreditavam, assim como Rafaela no início, que o ITA seria, realmente, um lugar de “gênios”. Isso apenas a motivou a estudar cada vez mais para conseguir alcançar esse objetivo. Porém, o caminho não foi tão simples. Quando fez a prova pela primeira vez, no 3º ano do Ensino Médio, ela diz que seus resultados foram péssimos.
“Não era porque eu não estudava, era porque realmente no ITA só cai física, química, matemática e português. Então o estudo é extremamente avançado nessas matérias, então não era esperado que uma escola comum conseguisse me fornecer o que eu precisasse para competir com quem estava em cursinhos específicos. Já tinha conversado com os meus pais e assim que eu me formei, comecei a estudar no Poliedro, em São José do Rio Preto, um cursinho específico para isso”, explica.
ANOS DE DEDICAÇÃO
Rafaela acreditava que bastaria um ano nessa nova rotina para conseguir a tão sonhada vaga, o que não aconteceu. Foram quatro anos de cursinho preparatório para o ITA, com vários questionamentos se deveria tentar outra universidade ou se deveria ter aproveitado a chance quando passou em outras instituições federais do Brasil.
“No meu primeiro ano de cursinho, eu lembro que na minha primeira semana eu liguei todos os dias chorando para minha mãe, porque eu era a melhor aluna da minha turma em Catanduva e na turma ITA eu estava na pior sala, porque somos divididos por média. Eu pedia para ir embora porque acreditava que nunca iria conseguir chegar ao nível das outras pessoas”, relembra.
Apesar das desconfianças e dificuldades ao longo dos anos de cursinho, Rafaela persistiu e, até mesmo durante a pandemia, quando precisou estudar de forma on-line, ela continuou firme e com foco na sua meta. A rotina era frenética, com aulas durante toda a semana, de domingo a domingo, com simulados para serem feitos quando não estivessem na sala de aula.
“Foi muito difícil, de verdade. É difícil você ver quase todo mundo que estudou contigo estar se formando ou está para se formar. Eu passei na Academia da Força Aérea (AFA) e no Instituto Militar de Engenharia (IME) três vezes e eu não fui. Eu abri mão de muitas aprovações e de muitos lugares que poderia estar para estudar para o ITA”, confidencia.
APROVAÇÃO
O reconhecimento, em forma de aprovação, veio recentemente, quando o resultado do vestibular do ITA foi divulgado e o nome de Rafaela estava entre os selecionados. Segundo a estudante e seus professores do cursinho, as provas de física e de matemática na segunda fase foram as mais difíceis das últimas décadas.
“Eu era uma aluna muito preparada nos meus quatro anos de cursinho. Tive todo o apoio que eu precisei da minha família, do meu namorado e dos meus professores. Eu tive muitas pessoas e bons resultados em simulados dizendo para mim que eu estava apta a passar no ITA, mas quando eu sentei para fazer aquelas provas, eu fiquei assustada. Pensei que talvez eu tivesse voltado a ser aquela garotinha do meu primeiro ano de cursinho que ligava para a mãe chorando com medo de não ser inteligente o suficiente. Mas, graças a Deus, toda a preparação psicológica que eu tinha feito antes e todo o apoio me fez pensar que eu sou boa o suficiente”, frisa Rafaela.
A sensação de finalmente alcançar o seu sonho, afirma, foi indescritível. A jovem relembra as palestras motivacionais que participou, onde pediam para que se imaginassem contando para os familiares e amigos que haviam passado na prova e hoje percebe que está vivendo tudo o que um dia idealizou.
“Saber que eu estou finalmente falando sobre isso e contando para as pessoas que eu passei no ITA é de longe a melhor experiência que eu já tive até hoje. É realmente incrível e eu estou muito animada pra essa nova fase da minha vida. Eu quero deixar meus pais orgulhosos, minha família orgulhosa. Eu quero realmente aproveitar tudo o que essa universidade tem pra me oferecer”, projeta.
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