Escritora catanduvense lança livro sobre vida das mulheres assentadas
Tamiris Volcean colheu depoimentos de mulheres de três assentamentos no interior paulista; lançamento na cidade será no dia 7
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Tamiris Volcean já tem dois livros publicados: nova obra foi apresentada na Flip de Paraty
Por Da Reportagem Local | 27 de novembro, 2022

A escritora, pedagoga e jornalista Tamiris Volcean, de Catanduva, lançou na quinta-feira, 24, na Festa Literária de Paraty (Flip) o livro “Mulheres assentadas: mães de todas as lutas”. Os relatos que constituem a obra pintam um quadro realista e comovente da vida das mulheres assentadas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Enquanto reconstituem trajetórias individuais de sofrimento e resistência, as falas ainda perfilam momentos históricos das lutas agrárias no Brasil, como o da repressão no campo durante a ditadura civil-militar (1964-1985).

Entre um e outro café doce coado, Volcean colheu depoimentos de mulheres de três assentamentos no interior de São Paulo: Horto de Aimorés (Pederneiras e Bauru), Zumbi dos Palmares (Iaras) e Boa Esperança (João Ramalho). Por meio dessas narrativas, ela construiu, neste livro, a saga do “nascimento da mulher assentada”.

São histórias de transformação de esposas submissas e oprimidas em agricultoras donas de seu destino, de mulheres passivas em sábias lideranças sociais, forjadas em anos de luta renhida, na verdade sua única opção disponível.

“Considero a publicação de Mulheres Assentadas um divisor de águas na construção de minha carreira de escritora, que ainda é breve, sinuosa e cheia de falhas. Este livro, a narrativa de não-ficção, a dinâmica do trabalho de campo e todas as demais etapas do processo de produção e criação me trouxeram o alívio de ter encontrado um lugar para existir dentro do fazer literário. Foi neste, que é o meu terceiro livro, que me dei conta de que escrever não é uma paixão e um desejo por si só, mas escrever sobre a história de pessoas reais e silenciadas, sim”, afirma Tamiris.

Ela diz estar vivendo um momento especial, descobrindo e reconhecendo a si mesma como escritora. “É um processo difícil, porque nós, mulheres, lidamos com uma impostora insistente. Esse olhar para dentro me fez vislumbrar, para além do meu eu escritora, também as minhas falhas, as minhas fraquezas, aquilo que ainda preciso aprimorar para chegar onde quero. Sai do êxtase de que escrevo bem e ponto. Agora, carrego comigo a percepção de que a carreira de escritora é um percurso longo e difícil, e que é preciso trabalhar muito, incansavelmente, para seguir por este caminho até o fim, até chegar lá.”

O LIVRO

“Mulheres assentadas: mães de todas as lutas” retrata a faina das assentadas desde sua adesão ao movimento. Passa por sua vida rústica nos acampamentos, em meio à violência policial e, algumas vezes, doméstica. Descreve a precariedade da vida familiar sob barracas de plástico, sempre provisórias, permeáveis a chuvas, calor e frio extremos, desprovidas de água e energia elétrica.

Expõe a dor da peregrinação forçada, do preconceito, da discriminação social, do abandono pelos poderes públicos. Trata da angústia de ter fome e do desespero de ver os filhos com fome. Conta da longa espera por um título de terra, única garantia para o assentamento definitivo e o começo, de fato, da lida no campo, com seus ciclos de novas incertezas.

Já idosas, as assentadas pioneiras, que abriram as portas a uma nova configuração dos papéis de gênero no MST, se orgulham das conquistas, mas padecem da saúde abalada pela aridez dos dias e o trabalho pesado. É, porém, a falta de perspectivas para seus descendentes e seus pequenos negócios o que mais as aflige.

O retrocesso, nos últimos anos, das políticas públicas de apoio à agricultura familiar e a ausência, nos assentamentos, de serviços públicos essenciais, como escolas, tem levado seus descendentes a reiniciar o ciclo de volta às cidades, de onde boa parte delas partiu há décadas. A terra, porém, “é substantivo feminino e, assim como uma mulher, sempre encontra um meio de resistir à devastação e ao abandono”, escreve a autora.

A AUTORA

Tamiris Volcean publicou o primeiro livro, As pessoas que matamos ao longo da vida (Editora Reformatório) em 2016, aos 24 anos. É autora, também, de Solidões Compartilhadas (Lyra das Artes), publicado em 2020. Atualmente, encontra-se na reta final do Doutorado em Literatura Brasileira pela FFLCH da Universidade de São Paulo (USP).

O projeto Mulheres assentadas: mães de todas as lutas foi contemplado no edital #19/2021 do Programa de Ação Cultural - ProAC realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. O lançamento do livro em Catanduva conta com a parceria do Coletivo Dell’arte e acontecerá no dia 7 de dezembro, às 19 horas, no Sesc. A entrada é gratuita.

Autor

Da Reportagem Local
Redação de O Regional

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