Educadora se reinventa na pandemia: da sala de aula para o mundo virtual
Andrea Justino teve uma das piores experiências da vida na primeira aula virtual, mas deu a volta por cima e hoje oferece cursos on-line
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Andrea revela que, um ano depois da infeliz experiência, sua percepção sobre a aula on-line já havia mudado
Por Guilherme Gandini | 15 de outubro, 2022

“A pandemia veio como um susto, desses que pulam na tela durante os filmes de terror.” A frase que abre esta reportagem é de Andrea Justino, professora de Língua Portuguesa e especialista em Neurociência e Educação. “Lembro-me que nos enganamos por uns 15 dias dizendo que tudo voltaria ao normal, mas não voltou. Aos poucos as fichas foram caindo, as escolas foram se adaptando, buscando alternativas e em questão de dois meses já tínhamos algum plano”, recorda.

Na época, Andrea trabalhava em duas escolas de Catanduva. Uma delas implantou a aula ao vivo em horário normal e ela foi até lá, na manhã de uma terça-feira, para ministrar sua primeira aula virtual.

“Foi um desastre, descobri que a minha internet não tinha potência suficiente, que o notebook que eu utilizava também estava defasado, que o tom que eu usava no presencial não poderia ser o mesmo no universo digital. Descobri tudo isso durante o período de aula com a sala virtual caindo toda hora ou com aluno tentando entrar e não conseguindo”, relata a educadora.

A experiência, nunca imaginada, também não será esquecida. “Frustante, entristecedor, foi uma das minhas piores manhãs dando aula, porque a aula de fato não rolou e eu me senti impotente, principalmente por nunca ter lidado com nada parecido. Recordo-me que quando desliguei a primeira vez a câmera eu chorei muito e pensei que não sabia dar aulas nesse novo formato.”

Andrea revela que, um ano depois da infeliz experiência, sua percepção sobre a aula on-line já havia mudado por completo. Mas chegou a tal patamar com muito esforço e estudo.

“Nos próximos meses, depois desse primeiro dia, eu vivi como quando comecei a lecionar, tive que encontrar maneiras para que a aula fluísse como eu conseguia fazer no presencial. Fiz vários cursos, pesquisas e tinha milhares de ideias, minha casa virou uma sala de aula em tempo integral, ou seja, eu passei a trabalhar todas as horas do dia em que estava acordada, ou com as escolas ou com estudo de como fazer dar certo”, detalha a docente.

Isso trouxe questões opostas, diz ela. “Havia um excesso de trabalho e consequentemente uma canseira mental absurda, mas havia novos horizonte que eu nunca tinha considerado, o virtual começou a fazer sentido não só para as aulas das escolas que eu trabalhava, começou a fazer sentido para eu divulgar o meu trabalho, inclusive trabalhar nesse universo”, confidencia Andrea, que começou a produzir conteúdo no Instagram em dezembro de 2020.

No ano seguinte, surgiram parcerias, aulas particulares on-line e até para um cursinho on-line do Ceará. “No meio de 2021 eu deixei uma das escolas que eu trabalhava para ficar somente em uma e poder dedicar mais tempo para as aulas on-line e os cursos que eu pretendia montar no formato virtual. Comecei participar de uma comunidade chamada Professor Autor e desenvolvi trabalhos de autoria de questões e materiais didáticos, aprendi como montar um curso completo on-line, montei e vendi um dos meus primeiros produtos digitais ainda em 2021.”

Hoje, Andrea afirma que o mercado digital é um mercado de educação. “Nós professores podemos e devemos estar nele. Nunca se ensinou tanto, e on-line, como nesse momento”, salienta. “Diferente do que eu pensava, é possível você vender o seu serviço de educação sem precisar ter milhões de seguidores, é necessário ter constância, desenvolver métodos que tragam a sua didática e produzir conteúdo gratuito”, completa ela.

A educadora catanduvense diz que a maioria do conteúdo que ela produz é gratuito e que, esporadicamente, lança alguns produtos monetizados para continuar produzindo os gratuitos. “Continuo em uma escola, de forma presencial, atualmente, e tenho meus alunos no universo on-line, tantos os que compram meus materiais autorais, quanto os que fazem aula comigo.

‘Cuidar, ensinar e recuperar são os desafios’

Instigada a refletir sobre a retomada do ensino no período pós-pandêmico, a professora Andrea Justino diz que temos de lidar com três verbos: cuidar, educar/ensinar e recuperar, e que o primeiro guarda relação com a saúde mental que parecia ser prioridade após a pandemia.

Educar é uma referência ao que o professor faz na escola. “Ajuda o aluno a ir se descobrindo um ser pensante, que interpreta os textos e o mundo a sua volta, auxilia para que o aluno utilize essa montanha de conhecimento que ele tem acesso hoje como recurso para se expressar melhor no mundo, para evoluir enquanto ser humano, para conviver de forma harmônica.”

Já o verbo recuperar remete às perdas do período. “Porque não tínhamos – e ainda não temos – um número real do quanto a pandemia afetou o desenvolvimento das habilidades que deveriam ter sido contempladas nos dois anos de ensino on-line.”

No que se refere à tecnologia, amplamente utilizada durante a pandemia, Andrea diz que na volta foi necessário fazer o caminho inverso, mas não a ponto de fazer com que tais recursos se percam completamente. O desafio é aproveitar as descobertas e adequá-las à vida real.

‘Precisamos ensinar os alunos a estudarem’

Andrea Justino faz questão de ressaltar que foi perceptível para os professores a “não cultura do estudo” fora do espaço escolar, pois a pandemia colocou o aluno como protagonista, ou seja, ele tinha que fazer um movimento mínimo que fosse de entrar nas plataformas, acessar as aulas, assistir, anotar, perguntar, ou, em outros casos, participar das aulas on-line todos os dias. “Infelizmente isso não aconteceu da forma que talvez idealizássemos ou queríamos”, lamenta.

“Desde essa época tenho pensado sobre a importância de ensinarmos as crianças e adolescentes a estudarem, porque não fazemos isso, talvez em outras épocas não fosse necessário, mas atualmente, com a demanda enorme de informações que essa criança ou adolescente é colocado em contato diariamente haja necessidade de ensinarmos na escola “como estudar”, e não só “o que estudar”, pontua a educadora, que prevê um projeto neste sentido para 2023.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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