A pessoa caminha na rua e, de repente, sente palpitações intensas no peito, tontura, falta de ar e começa a perder a consciência. Ela está tendo uma arritmia cardíaca grave e, provavelmente, em segundos o coração, que batia normalmente, irá parar de funcionar.
Essa cena se repete todos os dias no Brasil e, para evitar que ela aconteça, foi criado o Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita, celebrado nesta quarta, dia 12. A data dá base para a campanha “Coração na Batida Certa”, que mobiliza profissionais do IMC - Instituto de Moléstias Cardiovasculares, de Rio Preto, e de várias instituições de saúde do país.
“Como centro de referência no tratamento de arritmias para nossa região e até o Estado de São Paulo, atendemos muitos pacientes que não precisariam ter tido o problema se fizessem os exames preventivos periodicamente. Por isso, a importância de a população saber cada vez mais sobre as arritmias cardíacas”, afirma o cardiologista e eletrofisiologista Eduardo Palmegiani.
Ele explica que, em seu estado normal, chamado de ritmo sinusal, o coração se contrai ritmicamente, em consequência dos disparos elétricos, de forma regular. Quando não há essa regularidade, ocorre uma alteração do ritmo cardíaco, conhecida como arritmia.
“Se for rápida e totalmente irregular, pode estar relacionada à fibrilação atrial – o tipo mais prevalente de arritmia cardíaca, que afeta cerca de 2 milhões de brasileiros. As arritmias representam grande perigo principalmente para os que já tiveram um infarto ou têm doença cardíaca”, pontua o cardiologista do IMC.
NÚMEROS EM ALTA
Os números no Brasil demonstram a importância de a sociedade estar informada. As arritmias cardíacas afetam cerca de 20 milhões de brasileiros, de acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), coordenadora da campanha “Coração na Batida Certa”.
Em apenas três anos (2019 e 2023), mais de 283 mil pessoas foram internadas por causa de arritmias, com casos crescendo progressivamente e atingindo 74.500 internações em 2023, segundo o Ministério da Saúde.
A morte súbita cardíaca, no entanto, é o desfecho mais comum a quem sofre uma arritmia. A Sobrac estima que entre 250 mil e 350 mil pessoas morram dessa maneira, por ano, no Brasil.
“A maioria não sabia ter uma doença cardíaca. Em 80% dos casos, ela está relacionada a doenças coronarianas e arritmias ventriculares malignas”, ressalta o cardiologista Eduardo Palmegiani.
Outro dado sobre as mortes súbitas demonstra porque a prevenção e o conhecimento sobre esses problemas são tão importantes: mais de 95% das mortes súbitas ocorrem fora do ambiente hospitalar.
“Por isso, saber como agir ao presenciar uma pessoa tendo os sintomas pode garantir que ela seja atendida rapidamente no local e levada a um serviço especializado”, completa o médico.
Segundo o cardiologista, quando as manobras de ressuscitação são iniciadas imediatamente e em até 7 minutos após a parada cardíaca, mais da metade dos pacientes pode ser salva.
PREVENÇÃO
Assim como o infarto, as arritmias podem ser evitadas e controladas com algumas medidas preventivas como reduzir o estresse, ter uma alimentação balanceada, rica em legumes, frutas e verduras, não exagerar no consumo de bebidas alcoólicas e de energéticos, não fumar e praticar atividades físicas regularmente.
Cardiologista teve arritmia durante o futebol
É justamente por ter ciência de que tinha esta alteração e os riscos que corria que o cardiologista João Daniel Bilachi Pinotti, de 38 anos, evitou ser mais uma vítima a compor as tristes estatísticas. Ex-atleta de futebol na adolescência, a saúde e condicionamento físico em dia não impediram que, em 2015, descobrisse a alteração no ritmo do coração, em exames no IMC.
Para agravar o cenário, avaliações complementares revelaram uma causa genética que pode provocar arritmias malignas, que culminam em parada cardíaca.
A equipe do IMC implantou um CDI no peito, desfibrilador que regulariza o ritmo do coração quando ocorre a arritmia. Há cerca de 20 dias, enquanto jogava futebol com amigos, o médico teve uma arritmia, impondo ritmo de parada cardíaca.
“Felizmente o CDI deu o choque, desfibrilou o coração e me salvou. É fundamental que a população saiba cada vez mais sobre as arritmias cardíacas, assim como todas as doenças cardiovasculares assintomáticas”, afirma Pinotti.
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