De Catanduva para o cinema: Lucas Sabatini estreia em longa nacional
Foto: Divulgação/Galeria Distribuidora - Lucas Sabatini interpreta um médico chefe de emergência no longa metragem
Ator que saiu da cidade aos 17 anos relembra infância e sua trajetória; ele integra elenco do filme ‘Fé para o Impossível’
Por Guilherme Gandini | 01 de março, 2025

O ator catanduvense Lucas Sabatini, 37, acaba de estrear no longa-metragem "Fé para o Impossível", dirigido por Ernani Nunes e estrelado por Dan Stulbach e Vanessa Giácomo. O filme, que chegou aos cinemas em fevereiro, conta a história de superação da pastora americana Renee Murdoch, que, em 2012, foi brutalmente agredida com um pedaço de madeira por um homem em situação de rua no Rio de Janeiro e, após ficar em estado gravíssimo, sobreviveu.

Mestre em Artes Cênicas pela UFSJ e formado em Artes Cênicas pela Unesp, Sabatini interpreta um médico chefe de emergência no longa. Antes, ele esteve presente no episódio 7 da série "Dois Tempos" (2023), dirigido por Vera Egito e produzido pela Disney. Com vasta experiência no audiovisual, integrou o elenco de premiados curtas e médias-metragens, com destaque para "Adentro" (2021), "O Canto do Sabiá" (2019), "O Rato Roeu" (2016) e "Pique-esconde" (2012).

O Regional: Conte sobre sua origem, quais suas lembranças da infância em Catanduva?

Lucas Sabatini: Eu nasci, cresci e morei em Catanduva até os 17 anos. Eu morava no bairro popularmente conhecido como Cecap, próximo ao famoso Campo do Grêmio. Minha mãe, aliás, ainda mora lá, no mesmo lugar. As minhas lembranças são as melhores possíveis. Sinto-me muito grato por ter tido uma infância muito feliz. Soltei muita pipa, joguei taco (chamávamos de “bétea”) e futebol de golzinho na rua. Tínhamos uma liberdade muito grande para ficar na rua brincando até tarde da noite. Liberdade que é muito difícil de ter na capital. Lembro-me que as frentes das casas ficavam repletas de cadeiras onde as mães, pais e avós sentavam para jogar conversa fora enquanto nós, crianças, brincávamos. Além disso, foi em Catanduva que fui pela primeira vez ao cinema assistir ao filme “O Rei Leão”, no ano de 1994. Apesar de ter pouco mais que 7 anos de idade, lembro-me da sensação mágica ao entrar no extinto cinema de rua Cine Bandeirantes. Vi muitos filmes lá. É uma pena que não existam mais cinemas de rua em Catanduva. Praticamente toda a minha família ainda mora em Catanduva.

O Regional: Como você começou a se interessar pelas artes?

Eu era muito tímido quando criança, muito mesmo. Ao ponto de, por exemplo, ser um grande desafio ir sozinho comprar uma bala na padaria. Um pouco do meu interesse pelas artes veio justamente da minha vontade de perder essa timidez e conseguir me relacionar socialmente. Além disso, antes mesmo do teatro, foi o cinema que despertou em mim esse amor pelas artes dramáticas. Lembro-me que cada filme que via no cinema era um acontecimento. Eu sai da sala me imaginando fazendo parte daquilo, me imaginando naquele universo, me vendo na telona.

O Regional: E quando, exatamente, decidiu ser ator?

Decidi-me, de fato, ser ator profissional e me lançar nessa jornada artística em janeiro de 2013 – ano que me mudei de Santos para São Paulo para focar na carreira. No entanto, acho relevante mencionar que foi em Catanduva que comecei a fazer teatro, por volta dos meus 16 anos.

O Regional: Você saiu de Catanduva em busca desse sonho de ser ator?

Saí de Catanduva com 17 anos. Fui morar em Santos com meus tios, mas, a princípio, não fui para lá com o sonho de ser ator. O objetivo inicial era prestar o vestibular e fazer faculdade de Logística e Transportes na Fatec-BS. O que de fato aconteceu. Uma opção bem diferente para quem depois viria a seguir a carreira artística, eu sei (rs). Mesmo assim, em Santos, eu comecei a buscar opções de escolas ou grupos de teatro em que eu pudesse continuar meu aprendizado artístico.

O Regional: Quais foram suas primeiras experiências na área?

Como mencionei, minha primeira experiência foi em Catanduva aos 16 anos. Entrei para um pequeno grupo de teatro, sob a direção de Rafael Cervantes e Cibele Sampaio, que ocupava uma sala de ensaio onde hoje está localizada a Biblioteca Municipal. Entrei para esse grupo e eles já estavam montando uma peça infantil baseada em um conto japonês chamado Urashima Taro. Eu iria fazer um personagem pequeno, mas, para minha surpresa, o ator principal que interpretava o Urashima teve de deixar o elenco, e eu fui convidado a substituí-lo. Tive muito receio, afinal era minha primeira peça de teatro. Mas aceitei o desafio e estreamos a peça no Teatro Municipal Aniz Pachá no final de 2004. Depois disso, já morando em Santos, em 2006, entrei para dois grupos, Kabuk e Fúrias, ambos dirigidos por Egbert Mesquita. Nesses grupos, atuei em algumas peças de teatro e participamos de muitos festivais pela Baixada Santista. Permaneci com eles por dois anos e foi um período de muito aprendizado pelo qual sou grato.

O Regional: De lá para cá, quais foram seus principais trabalhos?

No cinema, sem dúvidas, é o longa-metragem “Fé Para o Impossível”, com direção de Ernani Nunes, que estreou nos cinemas de todo o Brasil no dia 20 de fevereiro e que continua em cartaz. Cito também o curta-metragem “O Canto do Sabiá”, com direção de Amanda Mergulhão Ferrari, “O Rato Roeu”, com direção de Marco T. Alves e “Pique-Esconde”, com direção de Eduardo Ferreira e Thiago Campos. Todos esses trabalhos participaram de muitos festivais de cinema, sendo agraciado com vários prêmios. No teatro, um dos meus principais trabalhos mais recentes é a peça “O Poço da Mulher-Falcão”, com direção de Emilie Sugai e Fabio Mazzoni. Com essa obra ficamos em cartaz, com apresentações esgotadas, no Sesc Consolação de novembro de 2023 a abril de 2024, e fomos selecionados para integrar a programação oficial do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto/SP (FIT) na última edição em julho de 2024.

O Regional: Quais foram suas influências?

Para essa pergunta, acho melhor dividir a resposta. Em relação ao teatro, minha maior influência, sem dúvidas, foi o Antunes Filho e seu legado enquanto diretor e realizador teatral. Ter sido dirigido por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral (CPT-SESC), mesmo por um curto período de tempo, revolucionou meu modo de entender a arte e meu ofício de ator e artista. Em relação ao cinema, tenho várias influências. Entre os brasileiros, gostaria de citar os cineastas: Eduardo Coutinho, Glauber Rocha, Laís Bodanzky, Walter Salles e Fernando Meirelles. Já entre os estrangeiros, cito: Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Andrei Tarkovski e Federico Fellini. Em relação aos atores, as referências são muitas também: Fernanda Montenegro, Leonardo Villar, Paulo Autran, Liv Ullmann, Paul Scofield, Marlon Brando, Denzel Washington, Cate Blanchett, Viola Davis, Daniel Day-Lewis, Charles Chaplin, e por aí vai...

O Regional: Como você se sente ao levar o nome da cidade?

Catanduva é berço de excelentes artistas. A Beatriz Mendes, por exemplo, que além de atriz é pesquisadora acadêmica, desenvolve um rico trabalho em cenografia. Posso citar também o Jonas Mendes que é ator, diretor e arte-educador. São dois grandes artistas catanduvenses, que, assim como eu, deixaram o interior em busca de novos aprendizados e novas conquistas na capital paulista. Conheço também o pessoal do Coletivo Dell'arte e sei do importante trabalho que eles desenvolvem em prol da manutenção e do fomento cultural em Catanduva. E, sim, fico muito feliz por levar o nome de Catanduva para outros territórios. Sinto muito orgulho disso.

O Regional: Fale sobre o projeto atual. É um filme com grandes nomes do cinema nacional.

Antes de mais nada, é importante chamar a atenção para o fato de que o filme é baseado em uma história real vivida por Renée Murdoch (interpretada por Vanessa Giácomo) e sua família. Em outubro de 2012, enquanto Renée fazia sua rotineira corrida matinal pela orla da Barra da Tijuca, ela foi atacada por uma pessoa em situação de rua em surto psicótico e brutalmente espancada na cabeça. Com severas e múltiplas lesões cerebrais, as estatísticas mostravam que ela tinha menos de 1% de chance de se recuperar e voltar a ter uma vida completamente normal. A partir daí o seu marido, Philip Murdoch (interpretado por Dan Stulbach), inicia uma campanha de fé, compartilhando a luta de Renée com o Brasil e o mundo na esperança de reunir o máximo de pessoas possíveis em oração pela total recuperação de sua esposa. O meu personagem é o médico chefe da emergência do hospital que recebe a Renée da ambulância. Na trajetória do filme, ao ter sido alertado pela médica da ambulância sobre o quadro gravíssimo da Renée, o meu personagem já toma todas as medidas prévias e deixa tudo preparado para a chegada da paciente. Rapidamente ele já mobiliza toda a sua equipe e leva a paciente para a sala de tomografia computadorizada, identificando os múltiplos hematomas cerebrais. É nesse momento que meu personagem constata a criticidade da situação e diz uma das falas mais dramáticas e que vai mudar o tom do filme a partir de então: “Se ela sobreviver, vai ser um milagre”. Eu me senti extremamente feliz e honrado em poder participar desse projeto e poder ajudar a contar essa história de fé e superação através das telas do cinema.

O Regional: Você tem outros projetos em andamento? Qual o seu foco de atuação?

Meu foco atual é o cinema, a TV e o streaming – que, aliás, vem expandindo cada vez mais o campo de trabalho para nós atores. Tenho vários projetos em andamento no teatro com apresentações agendadas. Por exemplo: faço parte do elenco da peça “Escola de Mulheres - Uma Sátira ao Patriarcado” do Grupo Lunar de Teatro e em março vamos fazer uma mini turnê por alguns Sescs do Rio de Janeiro por meio do Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar. Ademais, com a peça “O Poço da Mulher-Falcão” vamos nos apresentar no último final de semana de março no Sesc Santos.

O Regional: Como você analisa o momento atual do cinema nacional impulsionado pelo filme ‘Ainda Estou Aqui’?

O cinema nacional vive, hoje, um dos seus melhores momentos da história. O cinema é um espaço fundamental de preservação de nossas memórias e de reflexão crítica sobre o ser humano e a sociedade de um modo geral. As três indicações ao Oscar para “Ainda Estou Aqui” representam um marco e um reconhecimento internacional que há muito tempo o cinema brasileiro merecia. Temos grandes cineastas, produtores e atores e o mundo precisa abrir mais os olhos para nós. Com essa visibilidade proporcionada pelo longa do Walter Salles, creio que podemos ter maiores investimentos públicos e privados na nossa indústria cinematográfica e audiovisual, fomentando mais empregos e oportunidades para técnicos e artistas.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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