Durante as obras de duplicação da rodovia Comendador Pedro Monteleone, a ‘Rodovia da Laranja’ (SP-351), em 2011, grande quantidade de rocha foi removida para a construção de uma ponte em um dos trevos de acesso a Catanduva. Na época, os entusiastas Edvaldo Fabiano dos Santos e Laércio Fernando Doro decidiram realizar trabalho sistemático de prospecção junto aos blocos removidos de rocha e, a partir disso, vários fósseis foram encontrados.
A parceria com o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori resultou na descoberta de mais materiais e no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos, onde foi identificada a presença de restos de conchas, peixes, anuros, tartarugas, crocodilos e dinossauros.
As novidades paleontológicas resultantes do trabalho continuam. Em estudo publicado este mês na revista científica internacional “Historical Biology”, foi apresentada uma espécie inédita de crocodilo do Período Cretáceo, o Caipirasuchus catanduvensis.
O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores Fabiano V. Iori (Museu de Paleontologia Pedro Candolo e Museu de Paleontologia “Prof. Antonio Celso de Arruda Campos”) Aline M. Ghilardi (UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Marcelo A. Fernandes (UFSCar – Universidade Federal de São Carlos) e Willian A. F. Dias.
O Caipirasuchus (crocodilo caipira) viveu por volta de 85 milhões de anos atrás, conviveu com os grandes dinossauros e com diversas outras espécies de crocodilos. Atingiam 1,2m de comprimento, eram animais de hábitos terrestres e curiosamente se alimentavam de plantas.
Seus restos foram encontrados em rochas do interior paulista e do Triângulo mineiro. Agora são seis espécies de Caipirasuchus descobertas. As duas primeiras descritas foram escavadas no município de Monte Alto/SP, outras duas são da região de General Salgado/SP, uma de Iturama/MG e a nova espécie de Catanduva - daí o termo “catanduvensis” no nome da espécie.
Embora descoberto em 2011, a percepção de que o exemplar de Catanduva poderia ser uma possível espécie inédita só ocorreu em 2018 durante os estudos de Willian Dias. As tomografias de diferentes espécimes de Caipirasuchus mostravam que o exemplar apresentava inusitada comunicação entre as vias áreas superiores e uma câmara no osso pterigoide (no céu da boca).
No estudo recente, a nova espécie foi formalmente descrita e interpretações sobre os espaços aéreos apresentados. Os pesquisadores propõem que a câmara no osso pterigoide funcionaria como caixa de ressonância para potencializar as vocalizações de Caipirasuchus catanduvensis, como proposto para outras espécies fósseis, como dinossauros da família dos lambeosaurídeos.
A vocalização, neste caso, é um indicativo de organização social dentre os Caipirasuchus, similar ao observado nos atuais suricatos na África. Embora proposta para Caipirasuchus catanduvensis, a organização social pode ter ocorrido nas outras espécies do gênero e influenciado na história evolutiva do grupo, marcada por sua ampla distribuição regional e diversificação.
Para os pesquisadores, a definição deste novo crocodilo do Cretáceo brasileiro ajuda a refinar o conhecimento paleontológico sobre os Caipirasuchus e suas interações paleoecológicas. “Esses inusitados animais não eram os mais fortes e nem os mais vorazes de seus ambientes, mas a organização social pode ter sido a resposta que estes pequenos crocodilos encontraram para o seu sucesso em um planeta dominado por gigantes predadores”, apontam.
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