Catanduva terá uma representante no festival Escena Sur, que acontecerá de 2 a 8 de outubro, em Lima, capital do Peru. Quem conquistou a vaga foi a jovem Gabriela Zornetta, 23 anos, que acaba de se formar em Teatro na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ela apresentará a peça “Moela, corpo em queda” ao lado da rio-pretense Júlia Mouza, sua colega de faculdade.
A montagem fala sobre a morte de um pai que, em meio a diversas formas de morrer, “escolheu ir embora, fechar a porta, apagar a janela e despencar do alto”. O corpo cai, mas não atinge o chão. “Como pode desaparecer em plena queda e todo mundo continuar vivendo, como nada tivesse acontecido?”, aponta a sinopse da história, contada por sua própria filha.
Compondo a Cia Las Frags, Gabriela e Júlia são a mesma pessoa na peça: a filha. Elas abordam a espera pelo pai que desapareceu, despencou, foi embora e nunca mais voltou, abrindo espaço para interpretações diversas. Até agora, foram oito apresentações, de maio a junho, todas em Uberlândia. E será a única exibição brasileira que participará do Escena Sur deste ano.
As duas atrizes souberam do festival na faculdade pela professora Mara Lúcia Leal. Em Lima, serão acompanhadas pelo professor, que é diretor do grupo de teatro, Narciso Telles. Completa a equipe Luiz André Perrela, que é responsável pela iluminação. Para custear o transporte, elas lançaram a vaquinha virtual (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/peru-la-vamos-nos).
CRIANÇA 2000
Gabriela Cristina dos Santos, que usa o nome artístico de Gabriela Zornetta, foi a primeira criança catanduvense a nascer, por parto normal, no ano 2000, tendo sido contemplada pelo projeto Criança 2000, encabeçado pelo então vereador Ademar Raymundo de Moraes, falecido dois anos depois. Ela veio ao mundo à 1h07 daquele 1º de janeiro, no Hospital São Domingos.
Naquela virada de ano, temia-se o fim dos tempos a partir de um colapso global, em que nada que estivesse sujeito a um sistema de computador funcionaria – o chamado ‘bug do milênio’. A paranoia pela mudança de 19 para 20 no calendário reavivou medos e teorias do caos. Mas nada aconteceu, a vida seguiu seu curso e Gabriela, em Catanduva, nasceu e cresceu saudável.
Como segunda filha do pintor José Carlos dos Santos e da dona de casa Fernanda de Fátima dos Santos, a representante da nova geração ganhou atendimento hospitalar pelo São Domingos Saúde, poupança da Caixa, maternal e pré-escola na Arte Livre, um obelisco em sua homenagem no Jardim Paraíso, enxoval da Hira-Imi e bolsa de estudos garantida no Imes/Fafica.
“Eles me deram a conta bancária, o enxoval, estudei em escola filantrópica e recebi todo o material da prefeitura, o obelisco na avenida Miguel Calil na esquina de onde eu morava com os meus pais – há alguns anos aconteceu um acidente e o carro derrubou – a vaga da Fafica eu fiz o vestibular e passei em Nutrição, mas optei por estudar na UFU”, detalha Gabriela.
Ela cursou o Ensino Médio na Escola Estadual Paulo de Lima e, no 3º ano, fez o cursinho Sala Extra, oferecido pelos alunos da Medicina da Fameca. Depois prestou Enem e se inscreveu no Sisu, onde garantiu o segundo lugar na UFU utilizando a cota de escola pública e PPI – preto, parda e indígena, por ser negra. Fez licenciatura e bacharelado e, hoje, pode dar aulas e atuar.
15 ANOS
Nas páginas de O Regional, Gabriela Zornetta apareceu logo ao nascer, como a primeira bebê catanduvense do novo milênio, tendo sido contemplada pelo projeto Criança 2000. Ela ainda voltaria a ser destaque ao completar 15 anos, data em que concedeu entrevista relembrando todos os holofotes que foram direcionados a ela, considerada esperança dos novos tempos.
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