Comunidade surda reivindica intérpretes e volta da Central de Libras
Promessas feitas pelo prefeito Padre Osvaldo foram citadas durante sessão da Câmara
Foto: Divulgação - Comunidade surda tem mais de 200 integrantes em Catanduva, segundo estimativa
Por Guilherme Gandini | 27 de abril, 2023

Os vereadores de Catanduva receberam integrantes da Comunidade Surda e Intérpretes de Catanduva e Região durante a sessão ordinária de terça-feira, 25. Andrei Rodrigo Cássia ocupou a tribuna e falou com os parlamentares utilizando a Libras – Língua Brasileira de Sinais, com interpretação de Patrícia Pereira. A participação do grupo atendeu pedido de Luís Pereira (PSDB).

Os primeiros gestos de Andrei, aliás, foram feitos sem acompanhamento da intérprete. A abordagem proposital serviu para mostrar que, sem a tradução, os expectadores da sessão e os próprios parlamentares ficaram sem entender o que estava sendo dito. A partir daí, com intervenção da profissional de Libras, ele falou sobre a falta de acessibilidade para os surdos.

“A nossa luta não é de hoje, vem de muito tempo. Fiz uma pesquisa com os surdos sobre a experiência de vida sobre a falta de comunicação em hospitais, em postos de saúde, em todos os lugares. Todos têm o mesmo sentimento e a mesma tristeza”, relatou Andrei, que tem 21 anos e, ao longo da sessão, falou sobre as dificuldades na educação, saúde e mercado de trabalho.

Ele citou também reunião feita em outubro do ano passado com o prefeito Padre Osvaldo (PSDB) e cobrou a concretização de promessas. “Mostrei todas as nossas dificuldades de acessibilidade, da Central de Libras, da falta de comunicação nos órgãos. Ele prometeu que a partir de janeiro de 2023 colocaria isso como proposta e lutaria por essa acessibilidade”, falou o jovem.

No encontro citado, conforme vídeo feito por um dos surdos ao qual O Regional teve acesso, o prefeito prometeu que, para o início deste ano, a prefeitura contrataria três profissionais para acompanharem a comunidade surda. Também afirmou que reabriria a Central de Interpretação de Libras (CIL), inaugurada em junho de 2014, na gestão de Geraldo Vinholi (PSDB).

A crítica de Andrei e das intérpretes que o acompanharam na sessão é porque nada disso aconteceu. “Os meses foram se passando e estamos esperando até hoje. Não vem nenhuma resposta pra gente, nada. Nós estamos aqui. Nós temos uma língua diferente da de vocês, nós precisamos de visibilidade. Precisamos que vocês nos enxerguem”, lamentou ele.

NOS HOSPITAIS

As experiências vividas pelos surdos na saúde pública foram tema da discussão na Câmara. Andrei citou um amigo que ficou internado por mais de 30 dias e faleceu no último sábado. “Nem um crachá ou placa escrita que ele era surdo tinha no hospital. Ele caiu na casa dele e chamaram o Samu, ninguém sabia a língua de sinais, o enfermeiro falando com ele, como que pode isso?”

De acordo com Daniela Moraes, intérprete de Libras, uma enfermeira chegou a relatar que falava com o paciente e ele não respondia, não dava sinal. “Claro, ele é surdo, como vai responder? Pode haver negligência no atendimento por falta de comunicação. Ele teve um AVC e tentava escrever o que queria para se comunicar dentro de um hospital.”

NAS ESCOLAS

Andrei criticou a falta de intérpretes nas escolas. “O ouvinte está indo, se desenvolvendo, e nós? O surdo precisa estudar, ter esse desenvolvimento. Será que vou ter que sempre pedir e a resposta nunca vai vir? Será que vou ter que sempre me humilhar? Estamos pedindo pelo nosso direito, igual ao ouvinte. Nós temos lei, temos direto à acessibilidade. Façam o certo.”

A intérprete Patrícia Pereira reforçou a reclamação. “Não tem intérprete nas escolas municipais. As crianças estão lá sem acesso à língua de sinais, que é a língua deles. Ontem fez 21 anos d a lei de Libras, que oficializa a língua oficial da comunidade surda, e não se tem nada. Eles querem acesso às informações. Eles estão lutando por um direito que é deles. É vergonhoso.”

O QUE ELES DISSERAM

Informado que a comunidade surda em Catanduva tem mais de 200 integrantes, incluindo crianças, deficientes auditivos e implantados, o vereador Luís Pereira colocou-se à disposição para buscar mecanismos para que o movimento tenha eficácia e não fique estagnado.

O discurso foi reforçado por vários outros parlamentares. “Catanduva não é uma cidade inclusiva. Como poder público eu me sinto constrangida com isso, porque a gente está falhando em não garantir acesso. Que todo esse desabafo chegue ao Executivo”, disse Taise Braz (PT).

Já o presidente da Casa, vereador Marquinhos Ferreira (PT), mostrou-se sensibilizado por todos os relatos. “Podem ter certeza que daqui para a frente vamos olhar com bons olhos.”

A Prefeitura de Catanduva foi questionada pela reportagem se há previsão para a contratação dos intérpretes de Libras prometidas no ano passado por Padre Osvaldo e para a reabertura da Central de Libras. Não houve resposta até o fechamento desta edição.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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