Casamentos homoafetivos quase dobram em Catanduva em oito anos
Em São Paulo, participação no todo aumentou de 0,7% (2013) para 1,4% (2021), totalizando 24.300 uniões entre pessoas do mesmo sexo
Foto: ARQUIVO PESSOAL - Estatística soma Angela e Alessandra, juntas há 14 anos e casadas desde 2018
Por Myllayne Lima | 04 de julho, 2022
 

Dados do Painel Seade com base nas informações dos Cartórios de Registro Civil mostram que os casamentos homoafetivos quase dobraram em Catanduva em oito anos, de 2013 a 2021. O aumento foi de seis para onze - alta de 83% no período. 

Em todo o Estado de São Paulo, a participação dos casamentos homoafetivos aumentou de 0,7% (2013) para 1,4% (2021) e totalizou 24.300 uniões celebradas nesse período, sendo 62,3% entre mulheres e 37,7% entre homens. 

Na estatística estão Angela Possati do Amaral, 43 anos, e Alessandra Hain do Amaral, de 46 anos, juntas há 14 anos e casadas desde 2018. Ao Jornal O Regional, Angela contou como tudo começou.

“Nós estamos juntas desde 2008, ela tinha terminado um relacionamento de quatro anos e eu um de cinco, estávamos solteiras. Eu sempre fui amiga da irmã dela, frequentava a casa delas, como estávamos solteiras saímos para alguns lugares juntas”, relembra.  

Os antigos relacionamentos de ambas foram um dos desafios enfrentados na fase inicial. “A minha ex-companheira descobriu o novo relacionamento, entrou em contato com a ex-parceira da Alessandra, que acabou ateando fogo na nossa casa, perdemos tudo. Neste dia, eu havia ido trabalhar no rodeio, na época, eu tinha uma barraca de lanche e a Alessandra me acompanhou no rodeio. No dia do ocorrido, nós dormimos na casa de uma amiga, quando no dia seguinte, a minha cunhada apareceu cheia de fuligem, relatando que a ex-namorada da Alessandra havia colocado fogo na casa. Perdemos tudo, ficamos apenas com a roupa que estávamos usando. Passamos um tempo na casa do meu sogro, que mora sozinho. Posteriormente, reformamos a casa, a ex-namorada da Alessandra foi presa, cumpriu a pena e seguimos a nossa vida.” 

A mudança temporária de Angela para Mato Grosso fez com que elas cogitassem o término do relacionamento. “Nesta mesma época, eu tinha que ir para Mato Grosso para resolver alguns assuntos familiares, meu pai havia falecido e eu tive que fazer essa viagem. Após o ocorrido do incêndio, perdi todos os meus pertences, por isso, tive que adiar. Após sete anos, em 2012, consegui ir para Mato Grosso, a cada três meses a Alessandra me visitava, ela trabalhava aqui e não conseguia deixar a família dela. Foi um período muito difícil pra gente, chegamos a cogitar o término do relacionamento, mas aguentamos firme. Acabei conseguindo resolver as questões em Mato Grosso, voltei para Catanduva em 2015.” 

Após vencerem a distância, Angela fala sobre o diagnóstico da esposa Alessandra, que lutou contra a síndrome de Crohn. “Quando retornei para Catanduva descobri que Alessandra era portadora de Crohn. Ela sofria há muito tempo com a doença, mas não sabíamos o que era. Em 2016, ela teve uma crise, ficou muito mal, ficou internada e morei com ela no hospital por quatro meses. Ela precisou usar a bolsa de urostomia. Nesta época, eu tinha voltado de Mato Grosso, era representante de uma empresa multinacional, quando retornei para Catanduva fui transferida, aconteceu a mudança do Banco do Brasil, na mesma época em que a Alessandra ficou doente. Passamos uma barra financeira e de saúde, porque eu precisava ficar com ela no hospital, a minha sogra trabalhava. Fiquei quatro meses sem receber salário, devido à mudança do banco, quatro meses com contas para pagar, tivemos que entregar a casa.” 

Após a vitória de Alessandra contra a doença, o casamento tornou-se realidade. “Depois da recuperação, a Alessandra retomou os estudos, que foram paralisados devido à doença. Montamos um trailer de lanches. A gente já tinha intenção de casar, concretizamos o sonho em 2018, tivemos 18 padrinhos. Foi uma realização para gente. A minha mãe não aceitava a minha orientação sexual, ela dizia que eu só poderia fazer o que quisesse quando saísse da casa dela. Eu saí de casa com 18 anos, tive a minha filha, sempre foi uma vontade minha. O pai da minha filha é falecido. Foi muito difícil pra minha mãe entender, o mundo foi ensinando pra minha mãe. O meu sogro e minha sogra nunca foram contra. Quando resolvemos nos casar, minha mãe foi no casamento, pegou buquê, pra gente foi e é um motivo de emoção até hoje.” 

Após o casamento, Angela compartilha os desafios enfrentados diariamente. “Eu acho que o casamento entre pessoas do mesmo sexo precisa ser mais normal. Sinceramente, não gosto muito do termo casamento homoafetivo, porque acho que é um casamento normal, duas pessoas se gostam, querem morar, ter seus direitos juntas. Hoje nós enfrentamos muito isso ‘ela é sua companheira’, ‘a menina que mora na sua casa’, ‘sua amiga’, não, ela é minha esposa.” 

Angela deseja que todos consigam oficializar a união. “Eu tenho uma filha, que no início do relacionamento com a Alessandra tinha oito anos, atualmente ela tem 22. A Alessandra me ajudou a criá-la, ela a chama de mãe também. A cada dia o nosso amor se renova. Neste ano, assim como nos anteriores, pretendemos refirmar nosso relacionamento com todos os padrinhos. A gente deseja de coração que todas as pessoas que se amam consigam realizar esse sonho de oficializar a união e possam viver felizes, como a gente vive.” 

 

Autor

Myllayne Lima
Repórter de O Regional.

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