Altobeli lamenta desempenho do país nas Olimpíadas: ‘falta incentivo’
Único catanduvense a disputar os Jogos Olímpicos, ele cobra outro olhar e investimentos para as modalidades individuais
Foto: Gabriel Heusi/Brasil2016.gov.br
Por Guilherme Gandini | 18 de agosto, 2024

O catanduvense Altobeli Silva não gostou do desempenho da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos e lamentou que a evolução no quadro de medalhas não tenha se confirmado. Ele é o único catanduvense que já disputou as Olimpíadas – duas vezes, no Rio de Janeiro/2016 e em Tóquio/2021. Ele tem três medalhas no atletismo nos Jogos Pan-Americanos, em 2019 e 2023.

Para o atleta, que sempre tem postura bastante dura e crítica, posicionando-se sobre vários temas, ficou nítida a falta de investimentos no esporte individual, que poderia fazer a diferença no quadro de medalhas. “Para alcançar a medalha olímpica você precisa se abdicar muito e, de preferência, ir para fora do país e se manter lá fora em grandes competições de alto nível”, diz.

O Regional: Como você avalia o desempenho do Brasil nas Olimpíadas de Paris?

Altobeli: Foi bom para o judô, para a ginástica, que os dois juntos trouxeram 8 medalhas para o Brasil. Quem mais trouxe medalha? Qual foram as outras modalidades que produziram mais? A gente vê aí que temos um déficit, né? A quantidade de atletas que foram e pouco menos de 5% trouxeram medalha, então é um número pequeno, né? Isso mostra que a gente precisa melhorar bastante o incentivo, as empresas precisam abraçar mais essa causa, fortalecer as modalidades individuais e incentivar, falta muita coisa. Eu tenho que ser sincero, ser franco. Eu não vou falar uma coisa que eu achei bom, quando não achei. Porque o Brasil ficou atrás de países como a Quênia, por exemplo, um país mais pobre, pequeno, não tem tantas riquezas naturais, não tem a arrecadação de impostos e tantas coisas que têm aqui. Não é desmerecendo o Quênia, pelo contrário, está de parabéns, mas o Brasil não pode perder para um país da África, que é muito mais pobre que o estado de São Paulo sozinho. Nós precisamos melhorar e muito. 

O Regional: O que você achou do número de medalhas conquistadas pelo Brasil?

O Brasil nessas Olimpíadas de Paris conquistou 20 medalhas no quadro geral, ficando na 20ª colocação. Nas Olimpíadas de Tóquio 2020, que aconteceu em 2021 devido à pandemia, o Brasil conquistou 21 medalhas, só que tem uma diferença: ele conquistou sete medalhas de ouro. Nessas Olimpíadas de Paris, foram três medalhas de ouro. Então a gente percebe que não houve uma evolução, nem no quadro de medalha e nem no número de medalhas de ouro, que é somado para ranquear o país. Somando isso na balança, o Brasil não foi tão bem. Não teve grande investimento para que nossos atletas de modalidades individuais, que mais trazem medalhas, pudessem ter melhor desempenho possível e subir no quadro de medalhas.

O Regional: O que fez diferença na preparação dos atletas brasileiros para esses Jogos Olímpicos?

A questão que fez a diferença na preparação dos atletas brasileiros é muito difícil falar, porque a gente sabe que o esporte no Brasil é muito difícil. Alguns deles investem um pouco do seu bolso, tem programas do governo federal, tem bolso atletas, tem uns atletas que têm patrocínios, outros que são das Forças Armadas. Isso ajuda bastante, mesmo assim um atleta tem que colocar a mão no bolso para poder, muitas vezes, se preparar, fazer algo mais específico para alcançar o melhor desempenho. Por que isso? Porque para alcançar a medalha olímpica você precisa se abdicar muito e, de preferência, ir para fora do país e se manter lá fora em grandes competições de alto nível. Se você ficar só competindo no Brasil e pegar uma competição internacional lá fora, com europeus, americanos, asiáticos, o atleta leva um tombo, porque é absurdo o nível competitivo lá fora. Os países estão muito mais evoluídos que o Brasil, então eu como atleta sei muito bem disso porque eu vivenciei, eu fui para outros países, sei o que eu estou falando. Então, assim, essa questão da preparação dos atletas brasileiros, acho que faltou investimento, acho que falta isso, né, mais das empresas, acho que falta mais a mídia divulgar outras modalidades que não seja apenas o futebol, para que os patrocinadores, investidores, tenham interesse por essa modalidade de uma maneira geral e a gente possa ter mais incentivo de outros esportes de modalidade individual e mais investimentos com isso. Assim os nossos jovens poderão se interessar em treinar, em sonhar em ser um atleta também, do judô, da natação, da ginástica.

O Regional: Qual impacto que o sucesso olímpico pode ter na promoção do esporte entre os jovens?

Ah, o sucesso das Olimpíadas, ele tem um impacto fundamental nos jovens e adolescentes, né? Até nos adultos, você vê todo mundo falando das Olimpíadas. Isso é legal, quando a mídia pega pra transmitir, quando a mídia pega pra fazer acontecer, as pessoas conhecem, né? As pessoas passam a olhar, a observar diferente, as pessoas largam um pouco o mundo, só futebol, e começam a olhar várias outras modalidades, que também existem atletas guerreiros, né? Atletas com suas histórias que se superaram e estão ali defendendo o nosso país. A importância maior nisso é a inclusão social que o esporte faz, né? E transforma vidas como transformou a minha, como pode transformar de inúmeros jovens. O que eu quero dizer com isso é que nem todo mundo vai virar atleta, mas a partir do momento que um jovem adolescente assiste os Jogos Olímpicos na televisão, vê uma modalidade, ele se espelha naquilo, se inspira, quer praticar, ele fala, eu quero fazer, eu quero ser atleta. Muitas vezes não vão conseguir ser um atleta, mas o esporte vai direcionar para um caminho do bem, tirar da prostituição, tirar das drogas, da bebida, porque a mãe que leva o seu filho pra praticar esporte dificilmente ela vai visitá-lo numa prisão, ou vai vê-lo na porta de um bar bebendo, ou fazendo extravagância com a sua saúde. O esporte é inclusão social, é educação, ele transforma, muda, evita muitas coisas que tem problema aí na nossa sociedade em questão de saúde e segurança. Se o governo investisse mais no esporte, com certeza não teria problema em outras áreas. 

O Regional: Quais modalidades você acredita que têm potencial para crescer no Brasil?

São aquelas modalidades individuais que podem trazer o maior número de medalhas. Você pegar uma modalidade coletiva, como o vôlei ou o futebol, e precisa de 25 ou 30 pessoas para trazer uma medalha, contando atletas e comissão técnica. Agora você pega uma modalidade individual tem atleta que compete duas provas diferentes com oportunidade de trazer duas medalhas. Só que tem que ter mais investimento, ter um olhar diferente pelo COB [Comitê Olímpico Brasileiro], pelo Time Brasil, por alguns governantes. Depois a gente não sabe porque o Brasil está estacionado no quadro de medalha desde 2016 com 19 medalhas, 21 medalhas, 20 medalhas, totalizando 60 medalhas em três olimpíadas. A gente precisa rever alguns conceitos, a gente não, os governantes né. E melhorar a estrutura para esses atletas de modalidades individuais poderem brigar e trazerem mais medalhas para o nosso país, para o Brasil subir no quadro de medalhas, ser uma potência do esporte.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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