AbriLivre analisa impactos da disparada dos preços dos combustíveis na vida do cidadão
Diretor da entidade afirma que elevação ocasiona uma cadeia de aumentos e maior inflação
Foto: Arquivo/Agência Brasil - Mercado de combustíveis no Brasil não tem livre concorrência
Por Da Reportagem Local | 14 de março, 2022

O aumento dos combustíveis anunciados pela Petrobras impacta diretamente a economia brasileira. Essa é a análise feita pelo diretor executivo da Associação Brasileira dos Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres (AbriLivre), Rodrigo Singales. Para ele, a elevação dos preços do diesel e da gasolina ocasiona uma cadeia de aumentos e, consequentemente, maior inflação no Brasil

“Esse aumento do combustível no mercado tem de ser olhado por dois aspectos distintos. O primeiro é do ponto de vista macro. Com o aumento do combustível, a tendência é que haja um aumento da inflação, exatamente porque o Brasil é um país onde a maioria dos produtos é transportada pelo meio rodoviário e, aumentando o diesel, aumenta também o custo do frete e, consequentemente, o preço de todos os produtos comercializados no país. Então, a tendência é que esse aumento acabe gerando inflação e, com isso, temos menos investimentos, menos empregos e corremos um sério risco de recessão”, afirma.

Zingales reforça que, se analisado o cenário micro, tem-se o consumidor e os donos de postos de combustíveis prejudicados. “O consumidor vai pagar mais caro, assim como o dono do posto também está pagando mais caro e, é importante deixar claro, que o dono do posto tem margens baixas, normalmente, segundo a ANP, a margem em média bruta é de R$ 0,40 e com esse valor o posto precisa pagar IPTU, aluguel, folha de pagamento, taxas ambientais, luz, água, enfim, todos os custos e precisa de volume de vendas. Com aumento do preço do combustível, a população deixa de usar carro, deixa de consumir e o dono do posto acaba vendendo menos e tendo mais dificuldade para pagar suas contas”.

O diretor executivo comenta sobre os motivos para o aumento definido pela Petrobras. “A principal razão para os aumentos excessivos está na política de preços. Essa política se baseia na paridade do preço internacional. Então, se por exemplo, a Petrobras gasta US$ 30 para explorar, refinar e retirar o petróleo para gerar gasolina e diesel e o preço internacional do petróleo está em US$ 110, como hoje, em vez de cobrar no mercado interno com base nos seus custos, mais uma margem de lucro razoável, ela cobra o valor internacional no barril. O que acontece, a Petrobras aumenta seus lucros, os acionistas estão mais felizes porque tem mais dividendos e a população acaba pagando o preço internacional”, afirma.

Como forma de justificar os valores, a Petrobras afirma não ter condições de atender 100% da demanda a partir da sua produção. Os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a Petrobras atende cerca de 80% de toda a demanda de diesel e gasolina do país. “Ela e outras empresas privadas são obrigadas a comprarem combustível de fora. E comprando de outros países, tem de pagar o preço de mercado internacional. Outra justificativa é não prejudicar a concorrência com agentes privados que também vão ao mercado internacional comprar petróleo”.

Além disso, Zingales pontua a elevada carga tributária brasileira. “Ela acaba gerando prejuízo e se torna um problema para a elevação dos preços no país”, diz. “A desvalorização da moeda brasileira que aconteceu nos últimos anos também impacta negativamente no aumento dos preços. Porque o preço pago do barril de petróleo é em dólar. Então se em 2018, a moeda americana estava em R$ 4, hoje em R$ 5,20, há uma perda de R$ 1,20 em razão da cotação.”

O mercado de combustíveis no Brasil também não é onde a livre concorrência impera. “A Petrobras praticamente monopolista na exploração, comercialização e refino de petróleo. No mercado você tem hoje a exigência de gasolina e diesel, necessariamente passar pela distribuição. O mercado de distribuição tem cerca de 150 distribuidoras e, é controlado por três grandes empresas que juntas correspondem a mais de 65% de toda a oferta no país, então o que acaba acontecendo é que o dono do posto, onde normalmente é uma concorrência acirrada, é obrigado a comprar o combustível da distribuidora e, muitas vezes, de uma única distribuidora, por causa dos contratos de exclusividade de bandeira. Essa distribuidora não tem uma política transparente de preços. É possível que um posto na mesma localidade pague R$ 0,10, R$ 0,15, R$ 0,20 mais caros que outro posto pelo combustível, o que acaba gerando a distorção de preços no mercado e a elevação dos preços na bomba para o consumidor”.

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Da Reportagem Local
Redação de O Regional

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