O primeiro contato do catanduvense Lucas Venturin, 30, com o mundo das artes foi com um grupo de teatro chamado Velha Estação, que na época ensaiava no tradicional Galpão 6. Ele foi apresentado por um amigo, Jonas Mendes, ator, diretor e pesquisador da área. “Foi ali que eu conheci o Rafael Cervantes (in memoriam), que foi um amigo e professor”, lembra Venturin.  

Embalado, o jovem lançou-se para a capital paulista, em 2012, para estudar na SP Escola de Teatro. Lá, formou-se em dramaturgia e, desde então, estuda e trabalha na área.   

“Eu sempre, desde moleque, tive claro para mim que eu queria escrever. Sempre quis escrever. Eu tinha claro que eu queria ganhar a vida escrevendo. E ao começar no teatro, com o Jonas e o Rafael, eu tive contato com o texto teatral e achei algo muito doido criar personagens e diálogos e ver isso ser encenado em cima do palco e essa foi a minha viagem”, confidencia.  

Já em São Paulo, Lucas Venturin conheceu o cinema através de outro grupo, o Teatro de Narradores, que desenvolvia pesquisa integrada de teatro e audiovisual.  

“Depois de alguns anos eu comecei a estudar mais o cinema, e como já era formado em dramaturgia, foi um processo tranquilo sair da dramaturgia e ir para o roteiro cinematográfico, audiovisual, porque são coisas diferentes, mas muito parecidas, e minha bagagem me ajudou muito no começo da minha trajetória nessa área de cinema”, explica Venturin.  

Formado pela SP Escola de Teatro, o dramaturgo fez cursos, oficinas e workshops nas áreas de dramaturgia, roteiro, audiovisal, e iniciou a faculdade de Comunicação Social, com habilitação em Rádio e TV mas que, por conta da pandemia e questões financeiras, trancou a matrícula. “Quero me formar nessa área, acho importante possuir a graduação e formação profissional.”  

Seu foco é a produção de roteiros cinematográficos. “É a função que me dedico integralmente, pré-produção, de pesquisar, levantar materiais e criar os textos – a peça, o roteiro, inventar a história, essa a função que eu me dedico como dramaturgo, roteirista e escritor.”  

PREMIAÇÕES 

Lucas Venturin venceu um concurso nacional de dramaturgia em 2014, no 1º Festival Proscênio de Teatro de Indaiatuba, com a peça 'Habeas Porcus', que fala sobre ditadura militar e já foi encenada por uma temporada em São Paulo. Em 2020, foi um dos vencedores do Concurso Novos Roteiros Originais - Edição Brasil da OEI - Organização dos Estados Íbero-americanos, na categoria de Telefilme e/ou Longa-Metragem, com o roteiro Alakorô, seu primeiro filme. 

Ainda em 2020 foi finalista do IV ROTA - Festival de Roteiro Audiovisual, no concurso de Roteiros de Curtas-Metragens na categoria de 'melhor diálogo' com o roteiro 'Oceano' e ganhou edital de dramaturgia do Núcleo de Pesquisa Drama Seis com o texto 'Cachorro de rua', que foi encenado no formato de curta-metragem e está no Youtube.  

DESMONTE  

Com relação ao cinema brasileiro, Lucas Venturin lamenta o desmonte da área de cultura e a redução de investimentos públicos e privados, mas enaltece a qualidade da produção nacional. 

“Infelizmente não só para o mercado cinematográfico, mas para toda a área cultural, a coisa não está fácil. A gente está tendo um desmonte muito grande da cultura e do cinema brasileiro. Não vou entrar em detalhes sobre o atual governo, mas a gente perdeu muito investimento público e privado, ao mesmo tempo que estão surgindo outras possibilidades de investimento. Mas ainda assim é pouco, o Brasil produz pouco cinema comparado com outros países”, diz.  

E elogia, na sequência, as produções. “O cinema brasileiro tem produzido coisas muito boas, mas infelizmente a maior parte acaba não chegando ao grande público, tanto que as salas de cinema exibem poucos filmes brasileiros, mas nosso cinema é muito bom, temos um cinema independente crescendo, com muita coisa boa sendo produzida.”   

Ele afirma que continua confiante com o crescimento do cinema nacional e diz que as plataformas de streaming começaram a olhar para a produção brasileira. O mercado de trabalho para roteiros, pondera, ainda enfrenta muitas barreiras, apesar da necessidade de renovação.  

“Para roteiristas iniciantes é muito difícil furar essa bolha do mercado. A galera quer ideias novas, mas só roteiristas experientes, então é meio contraditório. As grandes produtoras não estão dispostas a contratar essa galera nova que está surgindo. É uma estrada longa e difícil, as pessoas têm a mania de romantizar a profissão dos artistas, mas não é assim, a grande parte dos artistas trabalha de forma precária, então é importante ter essa consciência.”  

Curso de criação de roteiros tem vagas esgotadas  

O dramaturgo, roteirista e escritor Lucas Venturin ministrará o curso 'Arte e técnica para a criação de roteiros cinematográficos', no Sesc Catanduva, a partir da próxima terça-feira, 20. A atividade será semanal e presencial, com aulas até 18 de outubro. A proposta é despertar o interesse pelo estudo e a escrita de roteiros audiovisuais. As vagas, entretanto, já esgotaram.  

“Vou falar sobre dramaturgia, conceitos básicos, técnicas, etapas de criação, todo o processo, um conteúdo introdutório com teoria e prática. Quero fomentar o desejo de o participante sentar e escrever um roteiro de cinema, tentar entrar no mercado e nessa onda. A ideia é que todos terminem o curso com a escrita de uma sinopse completa de seu próprio filme”, expõe.