
Fazer um bordado, pintar uma mandala ou criar arte com as mãos é muito mais do que um passatempo. Segundo a neurologista Simone Fernandes, esse tipo de atividade tem efeitos positivos e comprovados no cérebro, especialmente em pacientes com ansiedade, depressão, dificuldades de concentração e em processos de reabilitação neurológica
"Quando nos dedicamos a uma atividade manual, estamos ativando diversas áreas cerebrais ao mesmo tempo: memória, coordenação motora, atenção, criatividade, função executiva e, principalmente, o sistema límbico — responsável pelas emoções. Isso gera um efeito calmante, organizador e muito benéfico para o funcionamento mental", explica a médica.
Atuando há mais de 15 anos em consultórios e atendimentos clínicos, Simone relata que muitos pacientes chegam com sintomas como insônia, cansaço mental, irritabilidade e esquecimento — consequências do ritmo acelerado de vida e de uma sobrecarga emocional constante.
"Tenho pacientes que, ao inserirem atividades como bordado, pintura ou até trabalhos com argila na rotina, relatam melhora significativa da ansiedade, maior clareza mental e até diminuição de sintomas físicos, como dor de cabeça tensional. Isso porque, ao focar em algo concreto com as mãos, o cérebro desacelera o fluxo de pensamentos excessivos, o que promove interrupção e sensação de controle emocional", afirma.
"É importante lembrar que o cérebro aprende, se reorganiza e se adapta ao que praticamos. Quanto mais experiências sensoriais e significativas a ele, mais saudáveis e ativos permanecemos", reforça o neurologista.
Ela também destaca que a terapia ocupacional estruturada promove a liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar e prazer. Por isso, ao realizar algo criativo com as mãos, o paciente tende a sentir-se mais disposto, motivado e emocionalmente equilibrado.
"Trabalhar com as mãos é, sim, uma forma de cuidar da mente. E não é necessário nenhum dom especial — apenas o desejo de estar presente consigo mesmo, de experimentar o processo criativo como parte do autocuidado", conclui Simone.
No contexto da saúde neurológica e mental, atividades como bordado, pintura e artesanato deixam de ser apenas hobbies para se tornarem práticas terapêuticas acessíveis, eficazes e encantadoras. Cuidar da mente pode, sim, começar pelas mãos.
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