Estação Cultura de Catanduva é tema de estudo de pesquisador da USP
Eduardo Bacani Ribeiro celebra preservação do edifício de Art Déco, em contraste aos prédios abandonados na linha da antiga EFA
Foto: Arquivo Pessoal - Eduardo Bacani Ribeiro estuda o patrimônio ferroviário que pertenceu à EFA
Por Guilherme Gandini | 13 de abril, 2024

O arquiteto e urbanista Eduardo Bacani Ribeiro, 37, que está na fase final do doutorado pela USP, é um profundo estudioso sobre a Estrada de Ferro Araraquara (EFA). Durante o mestrado, também na USP, ele investigou o desenvolvimento da ferrovia desde a sua fundação, em 1895, em Araraquara, até ela atingir São José do Rio Preto, em 1912, passando, é claro, por Catanduva.

O profissional é bolsista da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo e o foco de suas investigações, desde a graduação, tem sido o patrimônio ferroviário que pertenceu à EFA. Ele tem orientação da professora Beatriz Mugayar Kühl, um dos maiores nomes, no Brasil, em torno da temática industrial/ferroviária e do restauro arquitetônico.

Um dos pontos de parada do pesquisador, no estudo atual e que ainda está em andamento, foi a Estação Cultura Deca Ruette, em Catanduva, que ele encara como um projeto pioneiro, já que a transformação do espaço, de ferroviário para cultural, aconteceu em 2006.

“Considero muito importante essa iniciativa de preservação desse espaço ferroviário, pois, se olharmos para o histórico de Catanduva, a estação estava ali antes da fundação do município. Ela é, portanto, um elemento importante para refletirmos, por exemplo, esses entrelaçamentos entre o sistema ferroviário e o desenvolvimento urbano no noroeste paulista”, pontua Ribeiro.

Ele afirma que manter viva a antiga estação ferroviária catanduvense, mais do que preservar a imagem de uma edificação emblemática na paisagem local é, também, reafirmar o valor cultural de um espaço de grande significado para a memória da localidade.

O prédio, segundo Ribeiro, tem estilo Art Déco. “Identificamos, por meio da observação de diversas outras estações, localizadas em diferentes regiões do Brasil, que esse estilo, ainda pouco evidenciado nas pesquisas, manifestou-se na arquitetura ferroviária quando a ferrovia era um meio de transporte em declínio, isto é, que perdia espaço para as rodovias.”

Ou seja, o Art Déco é uma das últimas manifestações estilísticas vinculadas a essa produção arquitetônica. “A partir da presença desse estilo na arquitetura ferroviária, entre os anos 1930-1940, podemos refletir sobre questões que vão desde as transformações pelas quais a arquitetura passava naquele momento, com introdução de novos materiais e um despojamento das formas, até os últimos estágios de avanço dos trilhos em algumas regiões do país.”

ABANDONO

Diferentemente de Catanduva, as antigas estações ferroviárias estão abandonadas. Na linha da EFA, segundo Eduardo Ribeiro, várias estações e outras tipologias ferroviárias estão esquecidas, subtilizadas e em condições materiais bastante críticas – quando ainda não se tornaram ruínas.

“Basta observar São José do Rio Preto, a maior cidade do noroeste paulista, com uma estação localizada na área central, um exemplar belíssimo de arquitetura Art Déco, que apenas agora vem sendo recuperada. Lembro-me de minha última visita a ela, em 2019: a cobertura em balanço da plataforma estava sendo sustentada com escoras de madeira, para não correr o risco de ruir, e o relógio, tão caraterístico de sua fachada, estava quebrado e jogado em um canto.”

Ribeiro diz que o processo de abandono das estações paulistas guarda relação com a junção da EFA, em 1971, com a Paulista, Mogiana, Sorocabana e Estrada de Ferro São Paulo e Minas para compor a empresa estatal Ferrovia Paulista S/A - Fepasa, que foi extinta em 1998.

“A partir disso, todo esse material foi incorporado à Rede Ferroviária Federal - RFFSA, que já existia desde a década de 1950. Posteriormente, com a extinção da RFFSA, em 2007, esse acervo ferroviário passou a gerar um desafio para a administração pública federal. Naquele momento, eram cerca 52 mil imóveis distribuídos em 19 estados e em mais de mil munícipios, ou seja, um volume imenso que demandava de vistoria à destinação de um novo uso”, detalha.

De ator a pesquisador e o amor pela ferrovia

Eduardo Ribeiro nasceu em Cosmorama e, atualmente, mora em São Paulo. Aos 12 anos, começou a estudar teatro com o Walter Máximo, em Rio Preto, e ingressou no curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL). De lá foi para o Rio de Janeiro, onde fez vários cursos, trabalhou como figurante até ser aprovado em teste para interpretar o cantor Leonardo em especial que contou a história da dupla Leandro e Leonardo.

“Foi uma felicidade dar vida a um personagem real e que eu ouvia suas músicas no toca fitas do carro de meu pai desde criança. Alguns anos depois desse fato, em 2009, também tive a oportunidade de trabalhar como ator da novela Paraíso ao lado de outro cantor sertanejo, o Daniel. Essa também foi uma experiência incrível e única”, relembra.

Preocupado em ter um curso de graduação, optou pela Arquitetura e Urbanismo por ter certo apreço por obras e afins. No entanto, acabou descobrindo um universo muito mais amplo do que poderia imaginar. Além da guinada profissional, também se debruçou sobre as pesquisas. “A pesquisa, em todos os setores, é um passo importante para avanços, tomadas de consciência e a construção de realidades mais críticas, qualificadas e fundamentadas em conhecimento.”

Já o interesse pelas ferrovias remete à sua infância em Cosmorama, quando seu pai jogava futebol aos domingos no Bairro da Estação, que também era o local onde sua mãe havia morado quando jovem.

“O prédio da estação presente ali, que naquela altura já estava desativado e abandonado, sempre despertou minha atenção. Eu e meus amigos íamos brincar lá e esperar o trem passar, esse era o momento mais festivo. Sinto que o início de meu interesse veio daí, desse sentimento romântico que foi despertado nos olhos daquele menino”, recorda.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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