Em campanha de conscientização e combate à Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), o governo brasileiro traz dados sobre a doença no país. Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids 2022 do Ministério da Saúde, o país vem registrando queda nos casos, mas não entre homens de 15 a 29 anos. Nesta faixa, o índice tem aumentado, chegando em 2021 a 53,3% dos infectados de 25 a 29 anos.
O médico infectologista do Grupo São Lucas, Luis Felipe Visconde, explica que, apesar do contágio poder ocorrer através de compartilhamento de agulhas ou transmissão pela placenta de mãe para filho, a principal via do vírus HIV é pelo contato sexual sem uso de preservativo.
“Sabemos que o sexo anal é a relação que oferece o maior risco de transmissão, pois o revestimento do reto é mais fino e apresenta uma grande quantidade das células alvo do vírus, quando comparada ao revestimento do canal vaginal e pênis. Hoje, os novos casos de HIV ainda se concentram mais na população de homens que fazem sexo com homens, em que a realização de sexo anal é mais prevalente”, informa.
O governo tem estimativa de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV. Desse número, 100 mil ainda precisam ser diagnosticadas. Com dois tipos principais de vírus, o HIV tipo 1 e HIV tipo 2, cerca de 95% dos casos mundiais é causado pelo tipo 1. A evolução do vírus para a Aids vem de um grave comprometimento do sistema imunológico do paciente.
“A principal causa de morte são as infecções oportunistas. Nessas situações, o sistema imunológico do paciente não se encontra funcionando plenamente para detê-las. É importante lembrar que a Aids é uma manifestação tardia da infecção pelo HIV, ou seja, depois que o paciente contrai o vírus, demorarão alguns anos para que ele evolua para esse estágio. Por isso, a testagem regular é tão importante. Se diagnosticarmos a infecção precocemente, é possível tratarmos o HIV e impedir que o paciente evolua para esse estágio crítico”, detalha.
O diagnóstico é realizado através da sorologia, que busca evidências de que o vírus entrou no organismo. Uma vez com resultado positivo, o próximo passo é a realização do exame “molecular”. Nele, investiga-se fragmentos do vírus do HIV presentes no sangue que confirmam a infecção. A sorologia pode ser solicitada por qualquer médico e está indicada para todo paciente que tem vida sexual ativa, e deve ser feita anualmente ou antes, caso exista suspeita de infecção ou para grupos específicos da população.
“O tratamento do HIV e Aids teve avanços muito significativos desde o início da epidemia na década de 1980. Essa revolução mudou totalmente o curso da infecção e a perspectiva de vida dos pacientes. Hoje, conseguimos ‘zerar’ a presença do vírus na corrente sanguínea, evitando tanto que o paciente evolua para Aids quanto o risco de transmissão para outras pessoas através da via sexual. Os medicamentos são mais seguros, com poucos efeitos adversos e bem tolerados pelos pacientes. Em alguns casos, já é possível fazer o tratamento completo com apenas um comprimido”, esclarece o infectologista.
AUTOTESTES
Disponíveis pelo SUS e em farmácias, os autotestes ou testes rápidos de HIV detectam o vírus pelo sangue ou saliva a partir da identificação de anticorpos. Para que sejam confiáveis, é preciso ter o respeito da “janela imunológica”, período entre a exposição ao vírus e a produção de anticorpos. O tempo de espera recomendado é de até 90 dias de contato por meio de relação sexual desprotegida ou compartilhamento de seringas.
Diferentes infecções, algumas doençasautoimune entre outros casos podem estimular a produção de anticorpos que são detectados por esses testes. Assim, um teste positivo não fecha o diagnóstico de infecção pelo HIV ou Aids. Se ocorrer testagem positiva, o paciente deve procurar um médico infectologista para complementar a investigação e realizar avaliação mais detalhada.
NOVA VARIANTE
Segundo estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado na revista “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, os pesquisadores encontraram quatro registros de uma nova variante do HIV no Brasil nos Estados da Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Até o momento, não foram registradas infecções em outros países.
A nova variante combina genes dos subtipos B e C do HIV, predominantes no Brasil, e por isso é chamada de vírus recombinante. A variante não se mostrou mais virulenta ou com resistência aos tratamentos vigentes.
Autor