Durante as férias escolares, o uso dos eletrônicos que já está presente na rotina da maioria das crianças tem a oportunidade de ganhar ainda mais espaço. Embora a tecnologia traga incontáveis benefícios, se não for usada com sabedoria pode trazer sérios prejuízos, desafiando os pais quando se trata de oferecer opções de divertimento e lazer aos pequenos.
Desde muito cedo a tecnologia é apresentada às crianças que nascem observando os pais acessando tablets, smartphones e computadores. Muitas vezes, não sabem ler nem escrever, mas já entendem a linguagem dos dedos para destravar telas com senhas e códigos, acessam jogos e interagem por videochamadas.
Antes de tudo, não se deve demonizar os males da tecnologia, porque é preciso compreender que os recursos estão disponíveis para serem utilizados e que cabe a cada um fazer bom ou mal uso deles.
“Nós entendemos que as crianças de hoje em dia merecem, gostam e têm o direito de se relacionar com a tecnologia. Por isso, o microscópio digital, os projetores de imagens, os tablets, as máquinas fotográficas, as mesas de luz, a internet e outros recursos são ferramentas potentes e fundamentais, que enriquecem o nosso cotidiano educativo”, afirma a coordenadora pedagógica e psicopedagoga Ana Paula Pamplona.
Segundo a especialista, as crianças já chegam à escola acostumadas com as telas e muitas precisam reaprender o modo como lidam com a tecnologia. “Percebemos que na nossa sociedade as crianças se relacionam com a tecnologia, principalmente com as telas, de modo passivo. Ganham celulares, tablets, televisão para se acalmar, fazer silêncio ou se divertir, enquanto os adultos precisam trabalhar ou se envolver em outros afazeres”, observa.
Diante dessa realidade, as escolas entram com o desafio de trazer os aparatos tecnológicos como ponte, de associá-los como mais um recurso para o “pensar sobre algo”. “O desafio é fazer as crianças se relacionarem de forma ativa com as tecnologias e aprender por meio delas, construindo significados sobre o mundo. Isso é o que pode fazer a grande diferença na educação”, destaca Ana Paula.
A profissional conta que as crianças fazem suas descobertas por meio das brincadeiras, das pesquisas, da natureza, do espaço em que estão inseridas. O papel dos educadores é preparar o espaço dedicado ao conhecimento, escolher os materiais e recursos didáticos, bem como organizar um cotidiano rico para que elas possam brincar, subir em árvores e rolar na grama.
“Ao mesmo tempo, devemos proporcionar às crianças que façam pesquisas em computadores, escutem boas músicas, utilizem o scanner para eternizar uma ideia ou o microscópio digital para ampliar sua visão de mundo. São oportunidades que os pequenos encontram de se relacionar de forma potente com a tecnologia”, esclarece.
ESTRATÉGIAS PARA OS PAIS
Em família, a relação com a tecnologia deve ser a de equilíbrio. A grande questão é que os malefícios das telas não são tão evidentes nem para as crianças, nem para os adultos. Nesse sentido, é preciso ajudar os pequenos a se relacionar de modo saudável e equilibrado.
“Todos nós precisamos lidar com a falta: saber a hora de dar tchau, compreender que há o dia certo para comer doces, ganhar presente apenas em datas especiais, guardar tudo o que tirou do lugar, saber a hora de desligar o celular e encerrar um jogo... É uma aprendizagem que demanda tempo, paciência e dedicação dos adultos”, afirma.
Ana Paula destaca que há várias formas divertidas e prazerosas de se relacionar com o mundo e cabe aos adultos a responsabilidade de oferecer boas opções para seus filhos.
Veja algumas estratégias que podem ser colocadas em prática pelos pais:
- Combinar em quais momentos da rotina e por quanto tempo a criança poderá se relacionar com as telas em casa.
- Prever e antecipar o tempo do início e do fim da relação com a tela. Por exemplo: hoje você vai assistir televisão por 30 minutos, lembra? Depois disso, você vai ajudar a mamãe a organizar o quarto.
- Incluir as telas na rotina da criança de modo significativo. Por exemplo, terça-feira é o dia do cinema em casa com a família.
- Acompanhar a criança e conhecer quais são os jogos e vídeos que ela costuma acessar.
- Orientar, comentar e estabelecer combinados sobre o conteúdo, o tempo de acesso, os melhores horários.
- Explicar para as crianças quando por necessidade os pais e as mães precisam acessar as telas com frequência ou permanecerem muito tempo no computador. "Hoje preciso resolver algo importante do trabalho, precisarei usar o celular... Depois vamos fazer algo juntos, ok?"
A psicopedagoga alerta, ainda, que é importante explicar para as crianças que as telas, os jogos, os vídeos, são, sim, muito prazerosos e divertidos e por isso nós queremos sempre mais e mais, mas que é preciso aprender a usar.
“Aí é que mora o perigo. Para tudo na vida, quando não conseguimos dizer basta, ou encerrar um ciclo, é sinal de que há algo de errado e que precisamos repensar”, conclui.
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