
Às 00h09 da madrugada do dia 24 de abril, o advogado e maratonista aquático Thiago Colombo Bertoncello, 40 anos, iniciou a travessia Leme ao Pontal, no Rio de Janeiro. Foram 36 km de nado em mar aberto, sob correntezas variáveis e maré oscilante, completados em 8h57. Ele se tornou o 83º atleta a finalizar oficialmente a prova pela Leme to Pontal Swimming Association (LPSA).
Aproximadamente metade dos nadadores que completaram o desafio utilizaram trajes de neoprene - que oferecem proteção térmica, aumentam a flutuação e melhoram a eficiência do nado. Thiago, no entanto, optou por enfrentar o percurso sem uso do neoprene, encarando as condições naturais do mar e o impacto da baixa temperatura da água sobre o corpo.
A distância percorrida equivale a nadar de Catanduva até Olímpia, em linha reta, sem pausas, enfrentando ondas, vento, salinidade e temperatura da água em queda durante a madrugada.
Pelas regras da LPSA, o nadador não pode ser tocado por ninguém nem se apoiar no barco em nenhum momento. Toda a alimentação deve ser feita com lançamentos de corda ou bastão, e o atleta deve se manter em movimento por conta própria durante todo o trajeto.
Durante a prova, Thiago manteve ritmo médio superior a 4 km/h - marca destacada pelo presidente da LPSA, Aderbal Treidler de Oliveira, como exemplo de execução técnica consistente e gestão de nado eficiente em condições variadas de mar.
A travessia impôs trechos com correnteza lateral, mar picado e pouca visibilidade, exigindo foco e rápida retomada após cada pausa de alimentação. O controle técnico, a estratégia de ritmo e a capacidade de manter a mecânica de nado sob desgaste contínuo foram determinantes.
Também houve indefinição sobre o melhor momento para a largada: as condições climáticas variaram ao longo da semana e a decisão sobre o horário exato só veio na véspera da prova.
Mais que simbólica, a Leme ao Pontal é uma prova concreta: são quase nove horas de esforço físico ininterrupto, com mínima margem para erro. O desempenho de Thiago Bertoncello reafirma a importância do planejamento, do treinamento consistente e da execução técnica sob pressão, além da força do povo catanduvense.
TREINAMENTO INTENSO
A preparação do atleta catanduvense teve início em dezembro de 2024, sob a supervisão da técnica Marta Izo, da equipe Anjos d’Água. O ciclo incluiu seis treinos semanais, com ênfase em séries intensas durante a semana e treinos longos em represa e mar aos finais de semana.
Como parte do processo, Thiago realizou treinos de 24 km em mar aberto com tempo inferior a cinco horas e meia, além de sessões específicas de 20 km na represa do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo. Também completou 15 km em quatro horas contínuas dentro da piscina do Clube de Tênis de Catanduva - um treino de alta exigência mental e física.
Nos 12 dias que antecederam a prova, Thiago passou a dormir às 14h e acordar às 22h, buscando adaptar o relógio biológico à largada noturna. Embora não tenha realizado simulado exatamente no horário da prova, o ajuste serviu para reduzir os efeitos da mudança de ciclo no desempenho.
ULTRAMARATONAS
Natural de Catanduva, Thiago divide sua rotina entre a cidade natal e São Paulo. A travessia Leme ao Pontal não foi sua primeira ultramaratona aquática: ele já completou a tradicional 14 Bis (24 km) e a Volta da Ilha do Mel (23 km), acumulando experiência em provas de longa distância em águas abertas.
Quando perguntado se o próximo passo seria enfrentar o Canal da Mancha, o atleta sorriu e respondeu: “Um passo tem que ser dado de cada vez”. Na sequência, revelou seu interesse em realizar uma travessia regional: sair nadando do Lago das Garças, em Novo Horizonte, até a Praia de Torres, em Sales - mais uma jornada para ser construída com método e persistência.
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