Campanha luta contra preconceito referente à hanseníase
Doença não é contagiosa, desde que sejam tomadas medidas de precaução; falta de informação é principal problema
Foto: Reprodução/TV Brasil - Se diagnosticada tardiamente, hanseníase pode trazer sequelas, como perda de movimento e deformidades
Por Agência Brasil | 12 de janeiro, 2023

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) está promovendo neste mês a campanha Janeiro Roxo, que visa conscientizar a população contra o estigma e o preconceito vinculados à hanseníase. Segundo o presidente da SBD, Heitor Gonçalves, a iniciativa destina-se ainda às autoridades públicas, no sentido de chamar a atenção para a necessidade de mais investimentos para o controle da doença, aos profissionais de saúde, para reacender a discussão técnica e política sobre a problemática da hanseníase e à imprensa, para que seja aliada da campanha.

Gonçalves disse que o nome da campanha decorre do fato de a cor roxa sinalizar a criatividade e o aprofundamento sobre o estudo das questões “e, principalmente, a luta contra uma causa sem amarras e sem preconceitos. Daí o lema Janeiro Roxo, um mês de combate ao preconceito contra a hanseníase”.

O Dia Mundial de Combate e Prevenção da Hanseníase é comemorado no último domingo de janeiro. Informações sobre a campanha podem ser obtidas no site www.sbd.org.br/janeiroroxo.

O bacilo causador da hanseníase foi identificado no século 19, pelo médico norueguês e pesquisador de saúde pública Gerhard Armauer Hansen. Naquela época, a doença já carregava preconceito, segregação e era chamada de lepra, em tom pejorativo. Por conta do sobrenome do pesquisador, a doença passou a ser chamada hanseníase.

O chefe do Departamento de Hanseníase da SBD, Egon Daxbacher, disse à Agência Brasil que a doença, se tratada, não é transmitida. No passado, os pacientes eram isolados e segregados.

Ao perceber sintomas como manchas mais claras que a pele, ou avermelhadas, que têm alteração de sensibilidade quando testadas, além de sensação de choque, dormência ou fisgada nos pés e mãos, a pessoa deve procurar uma unidade básica de saúde ou um dermatologista. Isso deve ser feito também por pessoas da família que moram com o paciente ou que tiveram contato prolongado e próximo com ele, porque têm mais risco de adoecimento.

O dermatologista advertiu que esses sintomas podem evoluir para deformidades, caroços, quando a doença adquire forma mais avançada. A procura por tratamento se explica, do mesmo modo, porque, se não for hanseníase, pode ser outra doença de pele que necessita de diagnóstico. A identificação precoce evita danos aos nervos e movimentos.

QUADRO PREOCUPANTE

A Sociedade Brasileira de Dermatologia considera preocupante o quadro da hanseníase no Brasil. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre hanseníase, em 2019, antes da pandemia de covid-19, foram notificados 27.864 novos casos no país, o equivalente a 93% de todos os registros da região das Américas e a 13,7% dos números globais do ano.

Em 2020, foram informados à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais 127.396 casos, dos quais 19.195 (15,1%) ocorreram na região das Américas, sendo 17.979 notificados no Brasil, ou seja, 93,6% do número de casos novos das Américas. Brasil, Índia e Indonésia reportaram mais de 10 mil casos novos, correspondendo a 74% das notificações feitas em 2020. Em número de casos de hanseníase, o Brasil é o segundo no mundo, atrás apenas da Índia.

O boletim epidemiológico publicado neste ano sobre a doença, com dados referentes a 2021, informa que o Brasil diagnosticou 15.155 casos novos de hanseníase. Para o médico Egon Daxbacher, esses números mostram queda, que pode chegar a até 50% em algumas regiões, relacionada à pandemia de covid-19, que prejudicou a procura por ajuda. “Isso foi decorrente, realmente, da dificuldade de acesso [ao tratamento], por conta da pandemia”.

SEQUELAS

“Como é uma doença que, se diagnosticada tardiamente, pode trazer sequelas, como perda de movimento e deformidades, qualquer um que fale que tem a doença, as outras pessoas já ficam com preconceito”, ressaltou o médico. “Mas sabemos que, se for tratada logo no início, com o aparecimento de uma pequena mancha ou alteração da sensibilidade, a doença tem cura. Às vezes, a pessoa nem tem deformidade, mas já é vista como alguém fadado a ficar assim.”

Daxbacher deixou claro que o isolamento não é necessário, uma vez que, cerca de 15 dias depois de iniciado o tratamento, o paciente deixa de transmitir a doença.

De acordo com o especialista, há também uma defesa natural nas pessoas contra a doença. “Não é fácil adquirir. Não é uma virose respiratória, como a gripe. Essa bactéria a gente consegue combater internamente, no nosso organismo, na maioria dos casos.”

Daxbacher enfatizou que a campanha Janeiro Roxo objetiva manter ativa a lembrança da doença entre os profissionais de saúde, para que estes, ao se deparar com casos e sintomas parecidos, lembrem-se da hanseníase.

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Agência Brasil
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