Nesta quarta-feira, dia 30 de março, é celebrado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, data que coincide com o aniversário do pintor holandês Vincent Van Gogh, que foi diagnosticado, postumamente, como provável portador do transtorno. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de pessoas no mundo e é considerada uma das principais causas de incapacidade.
“O transtorno é caracterizado pela alternância dos dois estados emocionais opostos, ora por períodos de extrema tristeza ora de intensa euforia. Esse distúrbio é caracterizado pelas condições emocionais que expressam desajustes entre as fases de tristeza e alegria, mas com uma conotação doentia: a depressão e a mania, respectivamente. Ao contrário do que acontece em muitos desajustes psicológicas, a base que desencadeia o Transtorno Bipolar não está associada à falta de serotonina, substância produzida pelo cérebro e que é conhecida como hormônio do bem-estar”, explica a psicóloga Silvia Helena.
O transtorno está relacionado a fatores bioquímicos, genéticos e ambientais. “O problema resulta da desregulação de elementos cerebrais que coordenam as emoções positivas e negativas. O transtorno está relacionado a fatores bioquímicos, genéticos e ambientais. O primeiro surto geralmente é deflagrado por um fato marcante na vida da vítima. À medida que vão ocorrendo, as crises ficam mais intensas e passam a ser provocadas por acontecimentos corriqueiros.”
A psicóloga classifica os tipos de transtornos. “Transtorno Bipolar tipo 1 (Mania): nesse transtorno os sintomas são mais intensos e caracterizados por fases de humor eufórico combinadas a um estado mais leve de excitação e otimismo exagerado. Dependendo do grau de comprometimento, também pode ocorrer manifestação de agressividade física ou verbal. No Transtorno Bipolar, o indivíduo pode apresentar profundas mudanças comportamentais e que influenciam sua conduta. Nesse estado de instabilidade psíquica, há um risco expressivo de afetar as relações familiares, sociais, afetivas, escolares e profissionais.”
O Transtorno Bipolar tipo 2 tem como característica a depressão. “Nesse segundo tipo, os episódios de depressão são mais frequentes. As características dessa fase estão mais ligadas à tristeza profunda, à desesperança e à falta de estímulo para com a vida. As alterações comportamentais geram prejuízos tanto ao portador desse distúrbio quanto às pessoas de seu convívio familiar e social. As causas do transtorno estão relacionadas a diferentes etiologias, mas a mais discutida é a correlação entre as heranças familiares, a influência genética e questões ligadas ao ambiente. Além disso, muitos fatores podem se desenvolver ao longo da vida e se expressar tardiamente. A identificação desses fenômenos ajuda na diferenciação dos tipos de transtornos para a determinação do diagnóstico.”
Segundo a profissional, os sintomas mais comuns do Transtorno Bipolar são, na fase de mania ou hipomaníaca, a “diminuição da necessidade de sono, irritabilidade, ideias suicidas, esquecimentos, ganho de peso, fala compulsiva, culpa excessiva, aumento da libido, autoestima elevada, agitação psicomotora, delírios e alucinações, ideias descoordenadas, problemas com dinheiro”.
Já as características da fase depressiva são “apatia, ideação suicida, culpa excessiva, redução da libido, humor deprimido, isolamento social, distúrbios, mania de grandeza, alterações e apetite, agitação psicomotora, descontrole ao coordenar as ideias, irritabilidade e impaciência crescentes, queda no desempenho escolar ou no trabalho, desinteresse pelas atividades de lazer e profissionais.”
Silvia Helena frisa os cuidados para diferenciar os sintomas de problemas normais de humor. “Uma das formas mais seguras de diferenciar o Transtorno Bipolar das alterações normais de humor é pela avaliação clínica do comportamento. O profissional de saúde deve fazer uma análise do histórico do paciente e, de acordo com as informações obtidas, chegar à conclusão. O diagnóstico somente com profissional da saúde mental. Em casa, os familiares e amigos também podem se atentar ao modo de falar e às expressões faciais do portador desses distúrbios. Mudanças bruscas de humor podem ser comuns no cotidiano de qualquer pessoa, mas quando essas atitudes se tornam muito frequentes, é sinal que algo está acontecendo.”
O Transtorno Bipolar pode ser confundido com outras doenças psiquiátricas. “Muitos sintomas desse distúrbio são parecidos com os que surgem em episódios de Esquizofrenia, de Síndrome do Pânico, Surto Psicótico ou até mesmo durante Distúrbios da Ansiedade. Identificar os indícios dessa doença é crucial para diferenciar oscilações que podem afetar o estado de humor, mas que nem sempre representam patologias. Isso significa que nem todas as alterações de humor ou do estado emocional configuram condições de bipolaridade. Na dúvida, o ideal é procurar orientação profissional e iniciar um tratamento ambulatorial ou avaliar a necessidade de internação, se for o caso.”
Não há cura para a bipolaridade. “Não há nenhum método que elimine completamente os sintomas do quadro com a garantia de que eles não voltarão. Apesar disso, há tratamento para que a doença seja controlada e o paciente consiga ter uma vida estabilizada.”
PSICOTERAPIA
A especialista fala sobre os benefícios da psicoterapia no tratamento da bipolaridade. “A medicação estabiliza o indivíduo organicamente, minimizando as variações de humor. Reduz as consequências emocionais dessas variações, a psicoeducação, por exemplo, visa fornecer aos doentes e aos familiares informações sobre a natureza e o tratamento da bipolaridade. O paciente passa a ter habilidade no reconhecimento de situações que possam desencadear crises.”
Silvia pontua dicas essenciais que servem como regras de convivência para ajudar a viver de forma harmoniosa com pessoas bipolares.
“Evite discutir, pois esse debate pode desencadear uma crise. Assim, evite dizer coisas que podem gerar irritação. Tenha calma ao falar e use um tom de voz adequado. Dessa forma, você evita que a pessoa bipolar aja com impulsividade e tome atitudes exageradas. Procure ser positivo ao conversar com o paciente, principalmente nos episódios depressivos. Evite embates, pois será prejudicial para ambos. Lembre-se de que a pessoa já sofre com a variação de emoções. Não torne a pessoa bipolar uma vítima da situação e evite facilitar as coisas para ela. A atitude correta é se mostrar disponível, incentivá-la a realizar suas tarefas e seguir em frente.”
A psicóloga alerta sobre preconceitos e suposições sobre quem sofre com o transtorno. “Não julgue a condição de quem sofre com o transtorno, evite preconceitos ou suposições inadequadas sobre o quadro dele. Esteja atento ao que é dito pela pessoa bipolar, normalmente, eles costumam fazer o que dizem. Então, se ouvi-lo comentar qualquer coisa relacionada a suicídio, por exemplo, procure ajuda. Com todas essas informações e colocando em prática essas dicas você estará apto a lidar melhor com quem sofre de transtorno bipolar. Você que convive com um indivíduo bipolar também precisa de ajuda psicológica.”
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