Suicídio e depressão aumentam e se tornam problema de saúde pública
10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio; Brasil é o quinto país com maior incidência de depressão no mundo
Fotos: DIVULGAÇÃO - Marina Toscano de Oliveira é psiquiatra e professora de Psiquiatria na Faculdade de Medicina de Catanduva
Por Stella Vicente | 10 de setembro, 2022
 
 

A data 10 de setembro foi instituída como o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e endossado pela Oragnização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo é chamar atenção para a importância de se falar sobre o suicídio e também sobre a depressão, uma das principais causas dessa prática extrema.  

A depressão vem se tornando um problema de saúde pública no Brasil, que já é considerado o quinto país com maior incidência da doença no mundo. A viés de comparação, os casos de depressão superam os casos de diabetes, segundo Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde.  

Já uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, que ouviu 800 pessoas com ou sem relação com a depressão em 11 estados brasileiros, revela que entre os diagnosticados entrevistados o tempo médio para procurar ajuda foi de três anos e três meses. Os motivos variam entre falta de consciência de se tratar de uma doença (18%), resistência (13%) e medo do julgamento, reação dos outros ou vergonha (13%).  

Dessa forma, com a falta do suporte médico necessário em casos graves de depressão, o quadro tende a piorar e uma das alternativas para dar fim a essa dor é o suicídio. Este é um ato deliberado e executado pelo próprio indivíduo de forma consciente, cuja intenção é a morte. Além do fator psicológico, também influenciam fatores biológicos, genéticos, culturais e socioambientais.   

Segundo a psiquiatra Marina Toscano de Oliveira, aproximadamente 96% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos psiquiátricos, especialmente a depressão, o transtorno afetivo bipolar e a esquizofrenia. Uma minoria de casos está relacionada a atitudes impulsivas diante de situações de vida desesperadoras, tais como perda de trabalho, luto e separações.  

“Mudanças no padrão de comportamento devem ser observadas, tais como isolamento, tristeza persistente, choros, recusa em fazer atividades anteriormente prazerosas, alterações no padrão de sono e apetite, discurso negativista com frases do tipo ‘ninguém vai sentir minha falta’, ‘nada faz sentido nessa vida’, ‘eu não valho nada’, ‘sou um fardo para os outros’, ‘vocês estariam melhor sem mim’, entre outras”, alerta a profissional. 

Nestes casos, o recomendado é sempre acolher sem julgar, uma vez que a dor de cada indivíduo é única e não pode ser comparada a ninguém ou a nenhuma outra situação. E o mais importante é oferecer ajuda médica especializada com um psiquiatra e também a ajuda psicológica.  

“O psiquiatra inicialmente faz o acolhimento do paciente, escutando seu sofrimento na tentativa de apaziguar suas angústias. Depois, faz minuciosa avaliação em busca de transtornos psiquiátricos que possam ser tratáveis através de medicações, como a depressão. Avalia ainda o risco de suicídio para aquele momento, indicando internação se necessário for. Nesses casos, cabe ao psiquiatra chamar a família para participar do tratamento e ajudar a garantir a segurança do paciente”, explica Marina.  

Para a psiquiatra, o Setembro Amarelo é campanha fundamental para ajudar a desmistificar a questão do suicídio como falha de caráter, falta de Deus ou de amor na família. “O suicídio é o último recurso que muitas pessoas em sofrimento buscam, em grande parte por não terem tido a oportunidade de serem adequadamente ajudadas. Assim, fazer com que a sociedade reconheça os sinais, acolhendo sem julgamentos é o passo primordial para reduzir os números tão alarmantes”, ressalta. 

 

 

CVV de Catanduva é alternativa para quem precisa de ajuda 

O ponto de atendimento do Centro de Valorização à Vida (CVV) de Catanduva está localizado no Terminal Rodoviário João Caparroz. Nele é oferecido atendimento por meio de conversas acolhedoras e sigilosas, feitas por voluntários, a fim de ajudar indivíduos que se encontram em momentos de tristeza, medo e angústia.   

Ivete Marques de Oliveira, psicóloga e presidente da Aviva (Associação para Valorização da Vida), mantenedora do posto de Catanduva, conta que o município apresenta alto índice de suicídio.  

“Em Vitória (ES), com uma população de 365.855 pessoas, após a proteção da terceira ponte, os números de suicídio caíram de dez para quatro mortes por ano. Em Catanduva, com uma população bem menor, temos uma média de dez suicídios por ano. Além disso, uma pesquisa realizada em 2019 em Catanduva e região com 1.807 indivíduos apontou 47% de risco de suicídio dentre as pessoas entrevistadas. Daí a importância do desse posto do CVV para prevenir o suicídio em nossa cidade”, expõe a psicóloga.  

De acordo com Ana Paula Santos, coordenadora do setor de comunicação do CVV, eles buscam fazer uma escuta empática e amorosa, proporcionando um espaço onde a pessoa possa falar de seus sentimentos e dores mais profundas sem ser julgada. O objetivo é ajudá-la a enxergar alternativas e caminhos que antes ela não via.  

“Estamos disponíveis através do telefone 188, que pode ser acessado de forma gratuita de qualquer lugar do Brasil, 24h por dia, todos os dias do ano, também prestamos apoio emocional por email e chat através do site  www.cvv.org.br. Em 2021 fizemos mais de 3,6 milhões de atendimentos. Inclusive, estamos com as inscrições abertas para aqueles que desejam se tornar voluntários do CVV. Basta entrar em contato através do email catanduva@cvv.org.br”, comunica Ana Paula.  

O CVV presta apoio emocional por e-mail e chat do site oficial 

Autor

Stella Vicente
É repórter de O Regional.

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