Solidariedade e ‘desapego’ trazem benefícios para a saúde mental
Psicólogas falam sobre reflexões que surgem no último mês do ano, junto ao enfrentamento do luto e à busca pelo que é novo
Foto: SARAH BROWN - Doar é um ato de desprendimento, renúncia, entrega e amor ao próximo
Por Guilherme Gandini | 25 de dezembro, 2022

Dezembro é um mês em que as pessoas se tornam mais reflexivas e introspectivas. Algumas ficam até mais melancólicas porque são invadidas por uma série de recordações: algumas boas, outras nem tanto, mas elas tomam conta da subjetividade humana neste momento.

“Temos de lidar com os lutos mal elaborados e lembranças dolorosas. Começamos a analisar se fomos capazes de alcançar todos os objetivos que havíamos traçado em janeiro, ou será que foi mais um ano perdido em nossas vidas?”, pontua a psicóloga clínica Ivete Marques de Oliveira.

Ela diz que, nessa época, pensamos sobre as condições de vida melhor que gostaríamos de ter oferecido aos nossos pais ou filhos. “Esses são os gatilhos que geram angústias e conflitos internos, pois percebemos que estamos nos afastando cada vez mais daquilo que ficou para trás.”

É nesse período, também, que muitas pessoas relacionam a virada de ano com o desapego de roupas e itens sem uso em casa, buscando fazer doações. Ou se deixam levar pelo espírito natalino e tomam atitudes solidárias, realizando ou participando de campanhas assistenciais.

“As mudanças feitas em nosso entorno estão intimamente ligadas com aquelas que desejamos para nossas vidas. Fazer doações, abrindo espaço para o novo pode favorecer o processo interno de elaboração dos lutos. Toda realidade material tem a ver com a realidade psíquica”, afirma.

FIM DE UM CICLO

A psicóloga clínica Érika Catanzaro Ramos lembra que a virada de ano representa o fechamento de um ciclo. “Ficamos desejosos pelo novo e, deste modo, rever projetos pessoais é bastante saudável, quando seguido por uma detalhada reflexão sobre o aprendizado obtido.”

A profissional diz que tal movimento sugere desapego do que nos foi necessário e planejamento do que desejamos. “O exercício de descartar alguns itens pessoais como roupas, sapatos, utensílios traz um bem-estar que favorece a manutenção da nossa saúde mental”, garante.

Fazer o bem ativa áreas do cérebro responsáveis pela sensação de prazer e recompensa. Estudos mostram que aquele que faz doação tem o sistema de recompensa ativado, causando a liberação de dopamina, o que auxilia na redução dos níveis de estresse, trazendo equilíbrio emocional.

A psicóloga frisa que quando deixamos de nos apegar às situações interiores e exteriores, toda nossa relação com a vida se modifica e gera diversos benefícios. Um dos mais evidentes é a questão da solidariedade. Portanto, um modo de realizar esse desapego, é através da doação.

“Pesquisas utilizando exames de ressonância magnética mostraram que foi possível ver que existe uma área do cérebro que é ligada à generosidade e que essa área foi capaz de desencadear uma resposta em outra área, onde se relacionam sentimentos como a felicidade. Fornecendo assim evidências comportamentais que apoiam a ligação entre generosidade e felicidade”, descreve.

DOAR TRANSFORMA VIDAS

Érika Catanzaro Ramos lembra que doar é um ato de desprendimento, renúncia, entrega e amor ao próximo, capaz de transformar a vida das pessoas que recebem e fazem a doação. Neste sentido, diz ela, os benefícios são recíprocos. Para quem recebe o ato solidário, o sentimento de esperança e de ser importante, lembrado, faz com que acredite mais no futuro.

Já quem faz o ato solidário sente a diminuição do efeito de doenças físicas e emocionais e experimenta a liberação de endorfina e dopamina, substâncias naturais do corpo que diminuem dores e melhoram o sistema imune; a redução da sensação de stress, depressão e solidão; a sensação de alegria, resiliência emocional e vigor físico; a melhora da autoconfiança e empatia.

CURA DE DENTRO PARA FORA

Para Ivete Marques de Oliveira, a eventual dificuldade de desapego externo está atrelada ao estágio do luto em que o indivíduo tenta negar as perdas. “Ele sustenta que está bem, mas na realidade está mal. Quando há o amadurecimento emocional, o enlutado consegue desapegar-se. Encontrar um propósito de vida pode favorecer o processo do luto”, explica.

É nesse ponto que, segundo a especialista, entra o trabalho voluntário que, a princípio, é feito pela relação de causa e efeito entre ajudar e ter boa saúde física e mental. Ela reforça que as ações filantrópicas diminuem o estresse e dores no corpo, trazem equilíbrio emocional, autoconfiança, sensação de calma profunda e ainda melhora o sistema imunológico.

“São inúmeros os benefícios para quem tem práticas altruístas. Porém, a cura verdadeira deve ser de dentro para fora, envolvendo o ser e indo além do fazer. Portanto, é preciso encontrar uma causa que faça sentido para o indivíduo, a fim de que ela se torne uma missão de vida que deve ser praticada sem excessos, pois estes também são indicativos de conflitos internos”, completa.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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