A professora de Literatura e Redação, Drika Martins, criou um Clube do Livro no Colégio Nossa Senhora do Calvário, o Colegião, após sugestão de um de seus alunos. O objetivo é incentivar a prática da leitura no ambiente escolar, mas principalmente fora dele.

O idealizador do Clube do Livro é Mateus Barberato, aluno da 3ª série do Ensino Médio e que Drika descreve como sendo um leitor voraz. Ela afirma que, como professora, está acostumada a desenvolver projetos nas escolas onde trabalha, porém diz se preocupar com o fato de, talvez, esses projetos não serem capazes de trabalhar o protagonismo do aluno e estimulá-los, de fato.

“Não suporto isto na educação: uns fingem que fazem e outros fingem que aprendem. Não. Ao longo dos meus 20 anos de sala de aula, ainda creio numa educação verdadeira e atesto que ela existe em vários lugares, mesmo com todos os percalços que enfrenta. Sempre me cobrei no sentido de ser uma educadora que emancipe e forme um sujeito mais humano. Nada melhor do que a Literatura. O que me incomodava era que sempre partiam do professor as ideias dos projetos, uma verticalidade suspeita”, conta.

Para ela, o fato de o Clube do Livro ter surgido de um aluno leitor, que a procurou no final de 2022 e visualizou o projeto, foi um alívio para suas insatisfações. Além de Mateus e de Drika, responsável por promover as análises literárias e mediar a leitura coletiva, o professor de História Candinho terá papel fundamental ao estabelecer um percurso histórico frente aos diferentes temas e reflexões.

“A escola é um lugar de acesso ao mundo letrado e, sem dúvida, contribui muito para a aquisição analítica dos textos. O que vejo como alerta é que, muitas vezes, a fruição, ou seja, o ler por prazer distancia-se dessa premissa e, assim, afasta cada vez mais os jovens desse mundo. Ler para acertar a questão do vestibular é extremamente necessário, pois entrar na universidade faz parte dos sonhos do aluno e a escola se esmera na realização deles. O objetivo do projeto é ir além da dissecação dos textos e dos clássicos para o vestibular, visa inseri-los num processo de apropriação e gosto individual, e partir da leitura íntima para a leitura interacionista”, descreve a professora.

Ela ainda afirma que toda iniciativa que busque aproximar os jovens da intelectualidade e da emancipação crítica é bem-vinda e necessária. Daí a importância de ações como o Clube do Livro, que buscam incentivar a leitura por vontade própria, como atividade extra ou momento de descontração, algo que Drika considera ser difícil fazer, em especial por conta do cenário atual, com tecnologias tão presentes na vida dos jovens.

“Ler não é confortável! Ler desmonta preconceitos, ler desapropria informações falsas, ler derruba a ilusão e desabilita o senso comum. Amo a leitura, mas sei o quanto ela desgasta quando é algo obrigatório”, confessa.

Ainda assim, o Clube do Livro recebeu 78 inscrições de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, mesmo não sendo um projeto com participação obrigatória.

Dessa forma, apenas aqueles que apresentaram o desejo de fazer parte do clube, fizeram o cadastro. Alguns optaram por ler todos os livros do projeto anual, outros escolheram apenas alguns deles.

O clube ainda possui um grupo no WhatsApp para interação, onde são postados vídeos do aluno idealizador e dos professores, além de ser um espaço aberto para qualquer aluno inscrito interagir. Também são disponibilizados links e fóruns com o objetivo de estimular a participação dos leitores.

“Eu possuo um PodCast ‘Clare-se da Drika’ em homenagem à minha musa Clarice Lispector, o qual gravo as mediações de leitura e minhas dicas para auxiliar no entendimento, ou seja, existe um acompanhamento durante o processo, eles leem em seu momento individual, mas usamos os recursos digitais para compartilhar, debater, sanar dúvidas e colher sugestões”, explica a mediadora do Clube.

CINCO LIVROS

A educadora lembra que houve participação dos alunos nas escolhas dos cinco livros que serão lidos ao longo do ano: A Metamorfose (Franz Kafka), Alice no País das Maravilhas (Lewis Carrol), A Hora da Estrela (Clarice Lispector), O Homem que Calculava (Malba Tahan) e O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde). Cada obra terá dois meses para a leitura.

Ao término de cada um haverá um encontro presencial na escola, o Café Literário, que contará com debate, análises, apresentação artística, visita de especialistas convidados para responder perguntas dos alunos, sorteio de livros e um momento de descontração na figura do gostoso cafezinho. O grupo está aberto, também, para professores ou funcionários do Colegião que quiserem ler e participar.