O câncer de mama no Brasil é o mais comum e o que mais leva as mulheres a óbito. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença tem cerca de 74 mil novos casos e causa 18 mil mortes a cada ano. As causas são diversas, visto que é um tipo de câncer multifatorial.
Já os fatores de risco são: idade acima dos 50 anos, hereditariedade, não ter tido filhos ou ter tido a primeira gestação acima dos 30 anos, ter apresentado a primeira menstruação precocemente, ter tido menopausa tardia, obesidade, tabagismo, sedentarismo, entre outros.
Para a enfermeira e pesquisadora Paola Alexandria Magalhães, PhD em Ciências pela USP e Fellow da Universidade Autônoma de Madrid, Espanha, apesar das políticas de saúde oncológicas, muitos casos são diagnosticados tardiamente, levando a tratamentos agressivos e resultando em maiores chances de complicações físicas e psicossociais para as mulheres.
“Apesar de ser mais frequentes em mulheres acima de 40 anos, o câncer de mama vem acometendo cada vez mais mulheres adultas jovens. Alguns estudos evidenciam cerca de 6,5% de casos nesta faixa etária, com taxa de mortalidade de 46,9%”, alerta a especialista.
Segundo ela, isso se deve ao fato de que em mulheres jovens há suposição de benignidade na maioria dos nódulos mamários, já que a incidência do câncer de mama nesta faixa etária ainda é considerada incomum e infrequente, o que pode levar ao levar ao atraso no diagnóstico que está associado à agressividade e progressão maiores da doença nessas mulheres.
“As mulheres jovens acabam vivendo as modificações físicas ocasionadas pelos tratamentos contra o câncer de mama de forma mais intensa e agressiva do que nas mulheres mais velhas, tais como menopausa induzida, diminuição da lubrificação vaginal, redução do desejo sexual”, afirma Paola, indicando que podem surgir mudanças no relacionamento com o parceiro, com familiares e amigos, e também no trabalho, além de preconceitos e estigmas.
Quando se trata de câncer de mama em mulheres jovens, ela frisa que é imprescindível ressaltar que o fator hereditário passa a ser muito importante, visto que a presença de história familiar deste câncer em parentes de primeiro grau aumenta o risco relativo para desenvolver a doença.
O QUE ELAS SENTEM
Em estudos desenvolvidos por Paola Magalhães e colaboradores ao longo de seu doutorado na Universidade de São Paulo, constatou-se que as mulheres jovens apresentam grande preocupação sobre sua autoimagem e autoestima; angústia quanto à fertilidade, visto que os tratamentos como a quimioterapia podem levar à falência ovariana; preocupação com relação ao seu relacionamento com o parceiro, com os filhos pequenos e com o trabalho; e medo da morte pelo fato de terem filhos pequenos ou terem o desejo de serem mães.
“Isso ocorre por as mulheres jovens estarem na fase mais produtiva de suas vidas. Além disso, também podem apresentar sentimentos de fragilidade, quadros de ansiedade e depressão, ou seja, tais modificações repercutem na vida funcional e produtiva da mulher adulta jovem”, diz.
A pesquisadora reforça que, diante desse quadro, o câncer de mama em pacientes jovens precisa de atenção diferenciada e que situações especiais devem ser levadas em consideração, como gestações futuras e contracepção, sexualidade, autoimagem, relações sociais e saúde mental.
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