Paciente é ‘esquecida’ na UPA e vai embora ainda sentindo dores
Tuca Parizi, nome conhecido da imprensa catanduvense, passou horas dentro da unidade e relata desleixo no atendimento
Foto: O Regional - Paciente afirma que não havia médico para atendê-la na UPA após as 2 horas da madrugada
Por Guilherme Gandini | 05 de março, 2023

O relógio se aproximava das 23 horas da terça-feira, 28 de fevereiro, quando Maria Paschoalina Parizi, a Tuca Parizi, que atua no setor comercial do jornal O Regional e com longa trajetória na mídia catanduvense, chegou à UPA, a Unidade de Pronto Atendimento, que é gerida pela Associação Mahatma Gandhi. Ela sentia dores fortes no estômago desde o período da tarde.

Antes de buscar ajuda médica, Tuca tomou medicamentos para desconfortos abdominais e gastrites, como o Omeprazol, Pantoprazol e Buscopan. Como nada disso deu resultado, foi sozinha até a UPA. Logo na triagem, relatou as dores, os remédios utilizados e alertou que é alérgica ao cloridrato de metoclopramida, fármaco conhecido pelo nome comercial de Plasil.

A consulta médica, conta ela, foi rápida e sem qualquer avaliação física ou exame. Tuca temia que as dores fortes pudessem estar relacionadas a um infarto ou algo mais grave, mas isso não foi cogitado. A médica que a atendeu disse que receitaria remédio para dor e questionou Tuca sobre possíveis alergias – a resposta foi a mesma dada na triagem.

Quando Tuca entregou a receita na farmácia da UPA, foi pela terceira vez questionada sobre medicamentos contraindicados. Depois foram cerca de 30 minutos de espera – e muita dor – até que a medicação chegasse para ser aplicada no soro, composta, segundo a enfermeira, por Omeprazol, Buscopan e Plasil: dois medicamentos já tomados por ela e o outro “proibido”.

“Era tudo que eu já tinha tomado e mais o Plasil, apesar de todos os avisos que eu dei. A enfermeira então reconheceu que não poderia aplicar e que a médica faria nova prescrição”, relata Tuca. Foram mais 40 minutos de espera até que os novos medicamentos chegassem – que a paciente não sabe relatar quais foram. O soro, diz ela, terminou em cerca de 20 minutos.

A partir daí, começou nova saga. Passada meia hora em repouso, por volta das 2 horas, Tuca relatou à enfermeira que as dores continuavam e que a médica havia orientado que ela a procurasse para nova consulta. A profissional afirmou que a doutora não estava mais na unidade e que nada mais poderia ser feito. Teria sugerido, até, que tomasse dois Omeprazol em casa.

Tuca permaneceu ali, presa ao soro, até constatar que havia sido esquecida dentro da UPA. “Andei pelos corredores carregando o soro vazio, as salas estavam sendo lavadas, com água por todos os lados, e não havia médicos nos consultórios”, lembra. Irritada com as dores e com o descaso vivenciado, tirou o cateter por conta própria e foi embora sem ser abordada.

Ela passou o resto da noite com dores e ainda se arriscou ao tomar dois calmantes na tentativa de adormecer. Pela manhã, conseguiu outro tipo de medicamento com um farmacêutico que, enfim, aliviou as dores. “Na UPA as pessoas são tratadas assim, de qualquer forma”, lamenta. “Saí da minha casa com dores lancinantes e voltei exatamente da mesma forma.”

Mahatma sugere que procedimentos foram corretos

O gerente administrativo da UPA de Catanduva, Nelson Alves Pinheiro Neto, contratado pela Associação Mahatma Gandhi para o cargo, recebeu o relato de Tuca, mas não fez comentários sobre os problemas enfrentados por ela. Nota enviada pelo Mahatma Gandhi à reportagem de O Regional, assinada por ele, sugere que os procedimentos adotados foram corretos.

Com relação às perguntas repetitivas sobre alergia, apesar da informação dada na triagem e lançada no sistema, ele afirmou que “como rotina de segurança, orienta-se que todos os profissionais questionem o paciente antes da realização de quaisquer procedimentos” e citou suposta “dupla checagem” que, em tese, deveria evitar a aplicação equivocada.

Especificamente sobre o Plasil, o gestor contrapôs o relato da paciente ao afirmar que a medicação não consta na Relação Municipal de Medicamentos (Remume) e, por isso, não estaria disponível na UPA. Ele não explicou, porém, porque a equipe refez a prescrição médica depois de alertada por Tuca sobre o medicamento que ela não poderia tomar.

Pinheiro Neto garantiu que a UPA possui cinco médicos no período noturno e que todos cumpriram plantão na data dos fatos: um médico líder, um pediatra e dois clínicos gerais com escala das 19 às 7 horas, e um terceiro clínico geral que encerra a jornada a 1 hora. Disse, ainda, que a médica teria orientado Tuca a procurar por uma unidade de saúde.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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