Infectologista alerta para diagnóstico precoce após surto de febre maculosa
Foram três mortes, uma suspeita e duas pessoas internadas com sintomas; Ricardo Santaella explica que tratamento é simples, mas deve ser rápido
Crédito: Divulgação/Redes sociais - Campinas confirmou que há surto da doença na Fazenda Santa Margarida, que recebeu as festas
Por Da Reportagem Local | 16 de junho, 2023

Três pessoas que tiveram exames confirmados para febre maculosa morreram no dia 8 de junho após sentirem sintomas como febre, dor e erupções vermelhas pela pele. As vítimas foram Evelyn Santos, 28 anos, que morava em Hortolândia e era professora de uma faculdade de Odontologia; a dentista Mariana Giordano, 36 anos, e o namorado dela, o piloto de Fórmula C300 Douglas Costa, de 42.

Na terça-feira, 13, a Prefeitura de Campinas confirmou a morte de uma adolescente de 16 anos, que esteve na mesma festa que os demais, na Fazenda Santa Margarida, e enquadrava-se como mais um caso suspeito da doença. Ela estava internada em um hospital particular da cidade desde o dia 9 de junho e a confirmação da causa da morte depende da análise feita pelo Instituto Adolfo Lutz.

Outras duas mulheres, de 38 e 40 anos, também estão internadas com suspeita de febre maculosa. Uma delas esteve no mesmo evento que as demais vítimas, enquanto outra participou do “Do Leme ao Pontal”, que aconteceu dias depois, porém, no mesmo local. Na somatória, o público presente nos eventos chega ao número de 6 mil pessoas, aproximadamente.

Diante dos fatos, Campinas confirmou que há surto da doença na Fazenda Santa Margarida, que recebeu as festas, e ainda afirmou que os eventos no local estão suspensos até que seja apresentado um plano de contingência ambiental.

A Fazenda Santa Margarida emitiu nota lamentando as mortes e disse que sempre agiu de acordo com as normas legais da vigilância sanitária. “Toda a documentação da Fazenda está em conformidade e regularidade com os órgãos competentes e as exigências legais, incluindo a Prefeitura de Campinas. É importante destacar que, nos últimos anos, nunca houve qualquer caso semelhante a este.”

Ainda assim, as mortes por febre maculosa acenderam o alerta de autoridades de saúde de todo o estado sobre a necessidade de reforçar as estratégias de proteção contra o carrapato estrela, transmissor da doença. Por enquanto, não há motivos para pânico, uma vez que na região de São José do Rio Preto raramente são notificados casos de febre maculosa. Em Catanduva não há registros.

Dados da Secretaria de Estado da Saúde apontam que de 2007 a 1º de março de 2023 foram notificados 1.200 casos de febre maculosa. Desse total, 650 pessoas evoluíram para óbito, o que na opinião do médico infectologista Ricardo Santaella Rosa, representa alta taxa de mortalidade. Ele ainda destaca que na região de Campinas, Valinhos e Piracicaba ocorrem casos de febre maculosa quase que anualmente. A novidade neste ano, diz, é que está havendo um surto da doença.

“Já há um bom tempo essa é uma região em que sempre aparecem alguns casos por ano. Não é uma coisa nova. O fato diferente, agora. é que podemos considerar um surto, pois foi um grupo de pessoas que se expôs e chama atenção que provavelmente o foco de infecção está ali”, esclarece.

A febre maculosa é uma doença transmitida pelo carrapato estrela, que não é o carrapato comum que se encontra em cachorros, por exemplo. A espécie pode ser encontrada em animais de grande porte, como bois e cavalos, além da capivara. A transmissão ocorre do carrapato infectado para a pessoa, não existindo transmissão de pessoa para pessoa, como explica o Ministério da Saúde.

A doença é caracterizada pelo conjunto repentino de sintomas como a febre alta, dor no corpo e manchas vermelhas em todo o corpo, além da palma das mãos e da planta dos pés.

Segundo Ricardo Santaella, como a bactéria circula pelo sangue, o paciente também pode ter muitas outras queixas, como tosse, dor no peito, confusão mental e náuseas. Sendo assim, o diagnóstico fica comprometido, uma vez que pode ser confundido com doenças como a dengue e a leptospirose.

“O diagnóstico da febre maculosa pode ficar um pouco complicado porque é uma doença que tem um carácter agudo, começa com febre rapidamente alta e com uma série de sintomas que se confundem muito com dengue, leptospirose e outras doenças infecciosas. Geralmente, é febre, dor no corpo e dor de cabeça. E uma das características principais da febre maculosa que indica um certo grau de gravidade é a dor abdominal, com náusea, vômito e junto com essas manchas do corpo”, detalha.

O especialista frisa que as manchas pela pele são uma característica importante: “Elas aparecem na maioria dos casos, mas podem não aparecer, então isso confunde mais o diagnóstico. Mas essas manchas têm uma distribuição mais fora do centro, como a gente chama, mais em membros, como nos braços, pernas, palma da mão, planta do pé, mais comum do que no tronco.”

TEMPO É PRECIOSO

Ricardo Santaella afirma que a febre maculosa pode ser considerada grave. No entanto, na maioria das vezes, ela não é, desde que seja feito diagnóstico com precocidade – o que é um problema diante da semelhança dos sintomas com outras doenças, conforme já relatado por ele. “Se o médico não pensar em febre maculosa, acaba perdendo tempo para o tratamento. Isto porque uma das características importantes dessa doença é que o tratamento tem que ser precoce e rápido”, reforça.

O tratamento, segundo Santaella, é simples e feito com antibiótico via oral, de preferência, que pode ser administrado em casa, iniciando-se com máxima antecedência, logo que se pensar na doença.

“O diagnóstico acaba sendo difícil, porque é feito só no laboratório e esse exame de anticorpos contra a bactéria costuma demorar. É colhido da primeira à terceira semana de doença. Se não for feito o diagnóstico e o tratamento antes, a pessoa pode evoluir mal e morrer, que provavelmente foram esses casos que aconteceram na região de Campinas. Então normalmente o que a gente fala é que se você suspeita de febre maculosa, tem que começar a tratar, antes mesmo de ter o diagnóstico”, reforça.

PREVENÇÃO É ESSENCIAL

O médico infectologista Ricardo Santaella alerta para os cuidados que devem ser tomados para evitar ser acometido pela doença. “É uma doença típica de zona periurbana ou zona rural. Dentro das cidades ou zona urbana, propriamente dito, não é muito comum. Então para se evitar a doença, você deve procurar saber se no local que você está tem incidência de carrapato estrela, por exemplo. Se você for a uma região como a de Piracicaba, Campinas e Valinhos ou para a zona rural, é importante tomar alguns cuidados, principalmente com roupas, usar calça comprida e camisa de manga comprida. Outra coisa importante é que, ao estar em um lugar assim, eventualmente, observar o corpo a cada 2 ou 3 horas, para ver se você não tem o carrapato grudado e para poder tirá-lo do corpo”, instrui.

Ele afirma que, para transmitir a febre amarela, o carrapato demora de 4 a 6 horas fixo no corpo. “[Retirá-lo antes disso] seria uma maneira mais prática de eliminar o carrapato e evitar que ele transmita a doença, isso se o indivíduo observar o próprio corpo periodicamente quando for nesses locais sugestivos da presença de carrapato estrela. Por isso, ao sentir qualquer sintoma, a pessoa deve procurar atendimento médico e informar ao profissional o lugar onde esteve para evitar a gravidade.”

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